O valor da arte: uma perspectiva sobre o desenvolvimento das artes visuais em Macau

03 2015 | 3a edição
Texto/Hazel Ma, Allison Chan e Bob Leong

Macau goza de uma atmosfera vibrante na área das artes visuais. Basta olhar para a quantidade de exposições organizadas ao longo do ano. Mas quais são as condições necessárias para que a cidade conquiste um lugar cimeiro na lista dos mercados de arte asiáticos, como é o caso de Hong Kong ou Singapura? Para debater o valor da arte, falámos com Hong Wai e Eric Fok Hoi Seng, dois dos principais artistas de Macau, e James Chu e Ho Kin U, promotores das artes visuais.

 

Eric Fok Hoi Song: “A arte vai além dos quadros e das exposições”   Agentes de arte em Macau


A importância dos artistas e dos coleccionadores de arte

 

Actualmente a viver em França, Hong Wai é uma dos poucos artistas de Macau com projecção internacional. Os seus trabalhos, que combinam a pintura chinesa a pincel e a arte contemporânea, têm chamado a atenção de coleccionadores de Macau e de outras paragens. Em 2013, Hong Wai foi uma dos artistas a representar Macau no evento de arte contemporânea chinesa Coup de Foudre de la Chine, no Canadá, organizado pelo Centro de Arte Arsenal Montreal e que contou com a participação de artistas mundialmente conhecidos, como Ai Weiwei. Só no ano passado, Hong vendeu um número considerável de trabalhos a grandes compradores, incluindo a um coleccionador privado que trabalhou como executivo de uma grande marca internacional de moda. Assim sendo, o valor das suas obras é inquestionável.

 

Mas, tudo o que Hong alcançou até hoje não foi por mero acaso. Quando concluiu os estudos em França, a artista decidiu ficar no país e procurar novas oportunidades, acabando por embarcar num doutoramento em arte contemporânea chinesa.

 

Além do talento, o acesso a um ambiente positivo e estimulante também é condição necessária para o crescimento de um artista. Com um mercado de artes estabelecido e a oferta de programas de desenvolvimento de talentos artísticos, França proporcionou a Hong um ambiente cultural favorável ao pleno desenvolvimento das suas capacidades.

 

Em França, profissionais ligados ao mundo das artes têm hipótese de se candidatar a diferentes subsídios governamentais e aproveitar os benefícios fiscais. Além disso, também os compradores de arte podem beneficiar de isenções fiscais na aquisição de obras, o que acaba por fomentar o aparecimento de colecções de arte privada e promover o desenvolvimento do mercado artístico. No que diz respeito ao arrendamento de espaços, a subida anual dos preços do aluguer de imóveis tem limites estabelecidos e não pode ultrapassar os cinco por cento. A medida permite aos artistas viverem com maior estabilidade.

 

Além destas políticas governamentais que servem para fomentar o trabalho criativo e o comércio de arte, existem também várias agências estabelecidas em comunidades locais francesas a promover este tipo de tendências, indica Hong. “Todos os anos, diferentes assessores de arte, proprietários de galerias e curadores aparecem em universidades para assistir a cerimónias de graduação ligadas à arte e descobrir os mais recentes talentos da área. O nível destas competições ou espectáculos de graduação não é de todo amador. Na realidade, cada aluno de arte atribui grande valor à oportunidade que tem de participar. Para estes artistas emergentes, os assessores que têm bons contactos podem definitivamente ajudar a dar mais visibilidade aos seus trabalhos nas galerias de arte e entre os coleccionadores.”

 

O mercado de arte de Macau ainda está em fase de desenvolvimento, quando comparado com a sofisticada cena artística francesa. Mesmo assim, Hong acredita que os estudantes de arte e jovens artistas não devem perder a esperança. “Nos últimos anos, têm aparecido cada vez mais empresas com vontade de colaborar com organizações de arte em Macau para apresentar peças criadas por artistas locais em espaços públicos, como em galerias de casinos, e assim sensibilizar o público para a arte de Macau. Em 2012, o MGM Macau organizou um excelente espectáculo de arte, DiscoveryUma viagem criativa pelas obras de 20 artistas, que deixou claro que a arte não está confinada apenas a salões de exposições. Como ainda falta a Macau um mercado de arte e um público sofisticados, os espaços públicos tornaram-se grandes palcos para os artistas darem a conhecer o seu trabalho, colocando-o mais acessível à população.”

 

Hong acredita que é fundamental cultivar um público local em Macau. O passo seguinte passa por promover o coleccionismo. “Um mercado de arte de sucesso não depende apenas da educação artística ou de políticas. As estratégias de vendas também são muito importantes. Afinal de contas, nenhum governo consegue apoiar todos os artistas e a verdade é que estes continuam a precisar de viver da venda das suas obras. O melhor caminho para os artistas crescerem profissionalmente é conseguir vender os trabalhos a coleccionadores de arte.”