À procura de consumidores de produtos culturais e criativos

11 2015 | 11a edição
Texto/Yuki Leong, Jason Leong e Roy Lei

No último número, discutimos as estratégias de marketing adoptadas por criadores de produtos culturais e criativos. É óbvio que os produtos fazem apenas sentido quando encontram compradores. Qual é a base de consumidores para estes produtos em Macau? Como podemos expandir o mercado? Neste número, vamos explorar o tema do ponto de vista dos vendedores e compradores.

 

Centro Cultural de Macau: é necessária uma visão global na compra de programas   De que tipo de produtos criativos e culturais estão os consumidores à procura?


Tealosophy: marketing cultural e produtos criativos feitos com sentimento

 

Em tempos antigos, um cavalheiro tinha do estudar e praticar a cerimónia do chá e caligrafia. Hoje em dia, estas são consideradas actividades antiquadas. Mas não para a Tealosophy.

 

Com tatâmis delicados, decorações peculiares, caligrafia em estilo shoujin na parede e belos serviços de chá, a Tealosophy é uma casa de chá com um sentido de tradição e exigência. Apesar disso, desde que abriu as portas no ano passado, o prestígio e a popularidade da Tealosophy têm vindo a aumentar, com a permanente exposição às redes sociais.

 

Justin é especialista na arte do chá e distinguiu-se nas culturas dos chás chineses e japoneses. O seu parceiro e bom amigo Elvis começou a aprender caligrafia quando era pequeno, destacando-se no estilo shoujin da dinastia Song. Os dois estabeleceram uma parceria há um ano. “No início não era suposto ser um negócio. Estávamos à procura de um espaço para preparar chá e praticar caligrafia; mais tarde tivemos a ideia de promover comercialmente as duas formas de arte”, diz Justin.

 

O conceito da Tealosophy é muito simples: preparar chá e apreciar caligrafia ao mesmo tempo. Por isso, os textos escritos no menu e nos copos de papel são escritos por Elvis; o design de interiores e a comida são de estilo oriental. “A fusão do chá e da caligrafia atrai os clientes de ambos os lados e também provoca uma verdadeira agitação.” A Tealosophy ganhou notoriedade logo depois de abrir, e tanto a peculiar cerimónia do chá como a caligrafia encontraram formas de serem apresentadas elegantemente.

 

Um ano após esse estado de graça inicial, a Tealosophy não mostra sinais de uma queda de popularidade, o que não é comum em negócios da área cultural e criativa. Turistas de Hong Kong e Taiwan continuam com vontade de a visitar; as aulas sobre a cerimónia do chá e a caligrafia têm uma grande procura. A reduzida base de clientes de negócios culturais e criativos em Macau parece não ser um problema para a Tealosophy. “Não há falta de clientes e isso tem tudo a ver com o facto de termos boas estratégias de promoção”, diz Justin.

 

A Tealosophy tem estratégias promocionais semelhantes a outros estabelecimentos comerciais de Macau: aposta nas redes sociais e na divulgação de informação entre as pessoas. De forma a impulsionar as vendas, as lojas têm por hábito focar-se no produto em si ou na oferta de descontos. Justin não tem nada contra estas práticas, mas a Tealosophy está a fazer mais, dando-lhe um toque humano. “O nosso objectivo final de marketing é construir um diálogo com os clientes. Hoje em dia, as entradas mais populares nas redes sociais são contos sobre a vida ou artigos sobre viagens e lazer. O marketing afectivo é aquilo que os negócios culturais e criativos deviam fazer.” Por isso, os escritos e poemas de Elvis sobre a vida poderão ser sempre encontrados nas páginas das redes sociais da Tealosophy, à medida que a loja vai promovendo a cultura e vendendo sentimentos. O trabalho de Justin e Elvis comoveu os seus clientes e é assim que se explica a longa vida da Tealosophy.

 

Apesar da sua popularidade, Justin admite que a Tealosophy não é muito lucrativa, visto que a caligrafia e a prova de chá são actividades inacessíveis ao público em geral. Além disso, a cidade está repleta de pastelarias e cafés, acabando por comprometer a sobrevivência das casas de chá. Justin e Elvis concordam que a abertura da Tealosophy foi uma decisão corajosa, pois é necessário alterar a mentalidade do público e explicar-lhe que a prova de chá e a caligrafia não são tão inacessíveis. Eles querem sentir aceitação pelo trabalho que gostam de fazer.

 

“Na realidade, penso que a maioria das pessoas esteve exposta à caligrafia ou a outra formação cultural durante a escola. A cerimónia do chá, uma actividade de lazer dos tempos antigos, é igualmente realista. As duas formas de arte tornaram-se inacessíveis devido às limitações de tempo que todos enfrentamos nesta sociedade moderna. A Tealosophy é um espaço para as pessoas recuperarem o interesse pela cultura, seja a caligrafia, a cerimónia do chá ou outra coisa qualquer. Elas estão todas à espera de ser exploradas.” A cultura foi sempre uma parte da nossa vida, e a Tealosophy está a trazê-la de volta.