Yang Sio Maan, ilustradora a tempo inteiro em Macau, licenciou-se em Literatura Inglesa pela Universidade de Macau e obteve, posteriormente, um mestrado em Ilustração pela Universidade de Artes Criativas do Reino Unido. Nos últimos anos, começou a participar em eventos de arte comunitária, exposições colectivas e publicações independentes. Em 2019, ganhou o Primeiro Prémio na categoria de Ilustração Publicitária dos “Prémios Mundiais de Ilustração” organizados pela The Association of Illustrators e conquistou o título do Melhor Trabalho na categoria comercial da “Hiii Illustration International Competition”. No entanto, esta talentosa e jovem ilustradora não tem uma base sólida na pintura, e a maior parte do seu crescimento e experiência escolares não têm nada a ver com a ilustração. Como é que se desviou do seu caminho original para se tornar uma ilustradora a tempo inteiro? Nesta edição, vamos aprender mais sobre a sua história, que está cheia de voltas e reviravoltas, de como se tornou uma ilustradora.
“Mapa Artístico nos Três Candeeiros” ganhou o Primeiro Prémio na categoria de Ilustração Publicitária nos “World Ilustration Awards”. Foto cedida pela entrevistada
Uma tripla mudança: de abandonar os negócios a seguir uma carreira na literatura e, depois, na ilustração
Como a sua disciplina favorita durante o ensino secundário era biologia, Yang Sio Maan esperava seguir uma carreira universitária na área da saúde pública. Todavia, o número de vagas neste curso na sua universidade favorita era limitado, por isso seguiu a sugestão dos familiares mais velhos e inscreveu-se no programa de Administração de Empresas da Universidade de Macau. Pouco depois de ter iniciado os seus estudos, sentiu que o curso não era adequado para si e, no segundo ano de licenciatura, mudou para Literatura Inglesa.
A mudança do curso de licenciatura abrilhantou o seu percurso universitário. As línguas, o teatro e as artes em que a Literatura Inglesa se envolvia eram áreas do seu interesse, e aí tinha a visão de um futuro em que iria continuar a desenvolver-se no campo da literatura, trabalhando como professora, ou em estudos literários. Mas a cadeira opcional de Literatura Infantil, escolhida por si no primeiro semestre do último ano de licenciatura, inverteu completamente a sua visão de futuro.
O trabalho final da cadeira de Literatura Infantil era a produção de livros infantis, o que lhe deu a oportunidade de conhecer a ilustração e, ao longo do processo, descobrir que nela pode misturar uma variedade de elementos diferentes, com desafios e possibilidades ilimitados; além disso, depois de ter tentado frequentar várias disciplinas, finalmente ficou claro que essa era a forma mais confortável para se expressar, e foi aí que nasceu a ideia de estudar ilustração.
Enquanto estudante adulta que nunca tinha recebido qualquer formação sistemática em pintura, não foi fácil mudar de repente o percurso de aprendizagem. No segundo semestre do seu último ano, Yang Sio Maan ajudou o professor da cadeira de Literatura Infantil na produção de novos livros infantis, enquanto tentava encontrar uma instituição de formação adequada para aperfeiçoar as suas capacidades de desenho. Após muita e intensa formação, conseguiu finalmente ter a oportunidade de estudar no Mestrado em Ilustração na Universidade de Artes Criativas do Reino Unido.
Procurando os sonhos ao atravessar o oceano para estudar, ficando na memória a luta da primeira tarefa académica
Depois de entrar na universidade, Yang Sio Maan sabia que lhe faltavam competências básicas, por isso, tomou a iniciativa de pedir ao director do departamento para assistir às disciplinas básicas do curso de licenciatura. Aceitou, também, o conselho desse director de levar consigo um caderno de esboços e criar o hábito de desenhar enquanto caminhava. Os dias em que ficava no dormitório, com excepção do tempo de três refeições e de descanso, passava o tempo todo a desenhar.
Just a pair foi a primeira tarefa do mestrado que Yang Sio Maan completou usando as únicas técnicas de esboço que possuía nessa altura. Publicou, então, as suas reflexões sobre esse trabalho nas suas redes sociais:
“Para ser honesta, quando fui para Inglaterra estudar ilustração após a licenciatura e me deram o meu primeiro trabalho, fiquei realmente ansiosa durante algum tempo: fazer um pequeno livro com apenas 12 palavras. Ao colocar a caneta no papel, cada pincelada trazia consigo a crítica e a dúvida sobre mim própria... Quer seja o protagonista da história que está com dificuldade em fazer a escolha ao comprar uns sapatos, quer seja o sofrimento ao desenhar que estou a passar neste momento, esta viagem tornou-se numa bela memória.”
Para Yang Sio Maan, o trabalho mais satisfatório é sempre o próximo, mas o trabalho mais significativo é este trabalho que desenhou quando era uma jovem estudante. Até hoje, de tempos a tempos, ainda olha para trás, para se lembrar de manter viva a sua paixão pela ilustração e de não desapontar a pessoa destemida e trabalhadora que era na altura.
Just a pair é a primeira tarefa concluída por Yang Sio Maan no seu primeiro ano de mestrado. Olhando para trás, quer seja o protagonista da história que está com dificuldade em fazer a escolha ao comprar uns sapatos, quer seja o sofrimento ao desenhar que ela estava a passar naquele momento, esta viagem tornou-se uma bela memória. Foto cedida pela entrevistada
O ideal e a realidade de uma ilustradora a tempo inteiro
Após graduar-se no Reino Unido em 2016, embora quisesse tornar-se ilustradora a tempo inteiro, Yang Sio Maan sabia que era ainda inexperiente, por isso, trabalhou para uma empresa de jogo e para um clube de arte, usando o seu tempo livre para criar e publicar o seu trabalho no seu site pessoal: “Se as flores florescerem, as borboletas virão.” À medida que o seu trabalho ganhava cada vez mais atenção, era convidada a fazer cada vez mais ilustrações, mas com um trabalho a tempo inteiro, tinha de usar as suas noites, fins-de-semana e mesmo o intervalo entre trabalhos para criar as suas obras.
Depois de trabalhar a tempo inteiro e fazer ilustrações a tempo parcial até meados de 2019, Yang Sio Maan começou a ter clientes estáveis e tornou-se mais confiante no seu trabalho. Por esta razão, decidiu realizar o seu sonho de se tornar ilustradora a tempo inteiro. A sua principal tarefa agora é conceber produtos promocionais e lembranças para eventos comunitários, e, ocasionalmente, contribuir para revistas. Mesmo assim, ainda tem de assumir outros trabalhos a tempo parcial, tais como desenho gráfico e ensino, para conseguir manter os seus rendimentos e o título profissional de “ilustradora a tempo inteiro”.
Em comparação com a indústria da ilustração noutros países, Yang Sio Maan acredita que não existem muitos trabalhos “completos” de ilustração em Macau, tendo em vista que um trabalho “completo” de ilustração requer uma boa redação do guião, ilustrações fluidas e delicadas, um layout temático, uma impressão de qualidade e um sistema de distribuição e venda perfeito. Pelo contrário, a maior parte das publicações em Macau são produzidas com financiamento governamental e não estão sujeitas à análise do mercado e dos leitores. Com o tempo, tanto os criadores como os editores tornaram-se cada vez mais “budistas” (no sentido de que tratam, agora, a qualidade das ilustrações de forma mais casual e sem as elevadas exigências que tinham antes), tornando difícil para a indústria fazer um avanço significativo.
Yang Sio Maan gosta de registar os seus sentimentos em tempo real com palavras, esboços ou fotografias. O seu trabalho Home Sweet Home para Zine Lab incorpora as palavras registadas naquele momento no produto final. Foto cedida pela entrevistada
O mistério das personagens de ilustração sem expressões faciais
Cada artista tem um estilo único de criação. As obras Yang Sio Maan são maioritariamente compostas por cores acinzentadas em que as personagens não têm, na sua maioria, expressões faciais. Ela descreve as expressões das personagens como algo que tem “medo de desenhar”, que até “evita deliberadamente”.
Yang Sio Maan explica que o seu trabalho se centra na criação de cenas e atmosferas, e que expressões detalhadas das personagens podem distrair a atenção do público, especialmente ao ilustrar para poesia e outras obras literárias. As expressões concretas podem limitar a imaginação dos leitores sobre o texto, resultando assim num estilo especial próprio de “personagens sem expressões faciais”. Contudo, tem, agora, uma visão diferente sobre a questão e acredita que não é má ideia enriquecer as expressões faciais das personagens desde que isso ajude a expressão do conteúdo.
Os trabalhos de Yang Sio Maan centram-se na criação de cenas e atmosferas, e raramente retratam as expressões faciais das personagens. Foto cedida por Cora Si
Para além do seu estilo criativo, Yang Sio Maan tem, também, os seus próprios hábitos criativos. Antes de cada criação, coloca-se, fisicamente, no cenário do tema da criação para sentir a ligação entre ela e o ambiente, observando diferentes edifícios e a vida quotidiana dos residentes. Neste processo, escreve palavras, desenha esboços e tira fotografias para enquadrar, em tempo real, os seus sentimentos sobre o tema, e depois, no produto final, incorpora todos os seus genuínos sentimentos.
O súbito surto da epidemia fez parar a comunidade, e a carga de trabalho de Yang Sio Maan diminuiu exponencialmente, mas, por outro lado, também ganhou, inesperadamente, algum precioso tempo para se concentrar no seu trabalho criativo. Usou esse tempo para trabalhar num livro ilustrado para o Mercado Municipal Horta da Mitra e planeia, ainda, aprender software de animação, na esperança de se mover na direcção de se tornar, no futuro, uma animadora, transformando o seu trabalho do estático para o dinâmico, e explorando mais possibilidades para o seu trabalho.
A epidemia fez com que Yang Sio Maan tivesse menos trabalho, podendo então dedicar mais tempo a concentrar-se no seu novo livro de ilustração pessoal. Foto cedida por Cora Si
O site pessoal de Yang Sio Maan: