Michael I.F. Fong: Localizar a Cultura Musical Própria de Macau

04 2016 | 14a edição
Texto/Jason Ieong

A Vocanimals Music Co. Ltd. é a primeira produtora musical profissional de Macau. O seu director executivo, Michael I.F. Fong, divide o tempo entre Hong Kong e Macau, e é autor de muitas canções populares, como Peace Hotel, de Eason Chan, Dum Da D Dum, de Jun Kung, e Luck, de Aaron Kwok. Apesar de estar satisfeito com o crescimento da indústria musical em Macau, Fong diz que ainda há espaço para melhorar os mecanismos de apoio ao sector e a qualidade da produção musical. Segundo ele, para promover o desenvolvimento da indústria musical de Macau é vital descobrir o carácter único da música feita no território.


Nascido e criado em Macau, Fong criou uma banda com os colegas quando estudava no Colégio Yuet Wah, tendo ficado como teclista. Após terminar o curso, Fong começou a trabalhar como produtor musical freelance. “Era assim que as coisas se passavam nos anos 90. Costumávamos dividir o tempo entre um emprego durante o dia e os nossos hobbies depois da jornada de trabalho. Eu era colega de equipa de Jun Kung e de Solar. Quase parecia que éramos os únicos com vontade de prosseguir uma carreira musical”, afirma Fong.


Aconselhado por Kung, Fong mudou-se para Hong Kong em busca de mais oportunidades na sua carreira musical. O seu trabalho é abrangente, indo da produção à edição musical, passando pela contratação de artistas e a formação de recursos humanos. Aproveitando a sua larga experiência no terreno, Fong decidiu criar a primeira produtora musical profissional de Macau em 2003. A sua empresa oferece uma solução “chave-na-mão” para formar artistas, publicar e fazer produção multimédia. “Em Hong Kong, conheci muitos profissionais e aprendi mais sobre o ofício. Há falta de empresas como esta em Macau, por isso senti que valia a pena explorar a oportunidade.” Mais tarde, Fong assumiu funções de produtor na Warner Music (HK) Limited, e continuou a dividir o seu tempo entre as duas cidades, envolvendo-se tanto na produção musical como na composição.


Nos seus muitos anos de trabalho em Macau, Fong produziu um portfólio considerável, que inclui obras como Casimiro de Jesus Pinto, o primeiro álbum Cantopop de Macau; o álbum Rua de Felicidade, do cantor português João Gomes; e o álbum especial Macao in the New Epoch, para assinalar a transferência de administração de Macau, em 1999. Fong sente que ainda há muito por fazer para impulsionar o crescimento do mercado musical do território. “Perguntei aos meus amigos se eles ouviam canções locais e, em tom de provocação, eles responderam que sabiam que estavam a ouvir canções locais quando a qualidade das canções era má. Percebi que o tom era de brincadeira mas, mesmo assim, isso entristeceu-me. Penso que este é um desafio que a indústria musical de Macau tem de enfrentar.”


Fong explica: “O mercado musical em Macau não está muito integrado. Como é algo fragmentados e lhes falta coesão, isso repercute-se negativamente na qualidade do trabalho. Na verdade, há muita gente a fazer música aqui, mas a maioria não tem qualidade, e isso dá a uma audiência internacional e às editoras musicais a ideia de que a nossa música é amadora”. Daí Fong sentir que, para a cena musical florescer em Macau, tem de haver uma maior coesão e um melhor controlo de qualidade no que diz respeito à produção musical.


Macau tem um mercado local limitado, devido à pouca população do território. Fong constata que isto faz com que seja mais difícil sustentar uma cena musical própria, quando comparando com locais como Hong Kong. “Muitas pessoas disseram que o sector do jogo em Macau tinha conduzido a uma economia próspera, que por sua vez fomenta o crescimento do mercado musical. Embora concorde que isso pode ajudar até certo ponto, não penso que seja suficiente. Afinal, os programas de entretenimento dos casinos são meramente baseados no modelo de entretenimento dos EUA e faltam-lhe elementos locais.” Fong destaca que as vendas insuficientes têm impedido as empresas de entretenimento internacionais de instalar escritórios em Macau. Sem talento internacional, é difícil os profissionais locais ganharem mais experiência. Isto, por seu turno, conduz a um ciclo vicioso e prejudica o desenvolvimento do mercado musical.


“Além disso, a falta de diversidade nos meios de comunicação do território leva a que a boa música não seja suficientemente promovida e limita as oportunidades de exibição da música local”, afirma Fong.


Não obstante os contratempos, Fong acredita que é possível inovar, desde que o mercado musical local se diferencie pelas suas características únicas.


“Muitas pessoas criticam a música de Hong Kong, dizendo que é só música de karaoke, e, de facto, muitas das canções pop de Hong Kong são adaptadas de canções japonesas. Será que se tornam canções de Hong Kong só por passarem a ter letras em cantonês? Claro que não. Mas a cultura não é uma equação linear. A música de Hong Kong é reconhecível porque possui uma certa qualidade diferenciadora. E isso ajuda-a a posicionar-se no mercado e a conseguir vendas a nível internacional.”


Segundo Fong, apesar de as circunstâncias demográficas e políticas de Hong Kong e Macau serem bastante diferentes, há pontos de contacto entre as duas cidades no que diz respeito à cultura, à língua e às comunidades. É comum ver que determinadas tendências culturais demoram várias décadas até se consolidarem em Hong Kong, em Taiwan, no Japão, em Singapura e na Malásia. E Macau não é excepção. “No entanto, se o nosso objectivo continuar a ser replicar a cultura de canções de karaoke da cidade vizinha, então não há qualquer esperança de criarmos a nossa própria imagem”, garante.


“É vital que asseguremos uma combinação de arte, comércio e cultura de modo a encorajar a criatividade. Estes elementos ainda estão a evoluir em Macau e, embora já consigamos ver alguns progressos, ainda temos muito a fazer com vista ao desenvolvimento do mercado.”