Galeria IaoHin: desafiar o status quo do panorama artístico em Macau

08 2015 | 8a edição
Texto/Chan Lap Hang

Em Macau apenas umas quantas galerias de arte. Fundada em 2012, a Galeria IaoHin é uma das poucas galerias comerciais da cidade. Florence Lam, directora do espaço, conta como espera encontrar um novo caminho para as artes de Macau.


L: Florence Lam, directora da Galeria IaoHin

S: Flora Shaw, editora executiva da C2


S: Macau é uma cidade habitada por ocidentais e orientais. Nota alguma diferença na forma como os chineses e os estrangeiros olham para a arte?


L: Claro que olham para a arte de forma diferente, tal como o fazem com a cultura, gastronomia e bens de consumo. Para os estrangeiros, a arte satisfaz uma necessidade espiritual, como é o caso da leitura. Eles tendem a jantar num restaurante agradável, calmo. Por outro lado, os chineses prestam mais atenção à qualidade e apresentação da comida. Isto também explica por que razão os coleccionadores chineses estão mais conscientes do valor futuro das obras de arte.


S: Quem são os coleccionadores de arte de Macau?


L: São sobretudo estrangeiros com um sentido estético. Uma das razões pelas quais fundei esta galeria foi porque queria quebrar estereótipos e envolver as pessoas de uma forma mais directa na apreciação da arte.


S: A galeria organiza mais exposições de artistas locais ou estrangeiros?


L: Exibimos sobretudo trabalhos de artistas estrangeiros porque a população de Macau nutre um sentimento de curiosidade pela arte de outros países e considera que esta tem maior valor de mercado. Através destas exposições, esperamos aumentar o interesse dos consumidores locais pela arte. Gradualmente as artes locais também poderão ganhar reconhecimento.


S: Já trabalharam com artistas locais?


L: Sim. Jacques Le Nantec, que faz escultura em bronze, foi o primeiro artista local com quem trabalhámos. Colaborámos com ele em 2013. É um artista muito talentoso que vive em Macau há mais de dez anos, mas que se mantém discreto. A exposição teve uma recepção muito boa e foi um enorme estímulo para nós. O segundo artista com quem trabalhámos foi Yuen Wai Ip Leo, um designer de interiores com um estilo único. Yuen tem um grande interesse pela pintura desde pequeno e utiliza sobretudo Macau como tema de inspiração. As suas obras também são metáforas e reflectem o que sente em relação às coisas que acontecem à sua volta.


S: É difícil gerir uma galeria em Macau?


L: Nós estamos sob enorme pressão. Muitas pessoas têm a ideia de que as galerias de arte são apenas máquinas de fazer dinheiro e nós queremos mostrar que somos apaixonados pelas artes, mantendo boas relações com artistas, com os nossos parceiros de trabalho e com os meios de comunicação social.


S: Qual é o maior desafio?


L: O nosso objectivo é injectar uma nova dinâmica no modelo existente e conseguir alargar o leque de oferta para os apaixonados da arte. Um dos desafios passa por “derrubar” o sistema artístico existente em Macau, que é principalmente composto por organizações não lucrativas. Elas são adequadamente financiadas e têm sempre planos para os espectáculos seguintes, enquanto nós funcionamos de forma completamente diferente. Encontrar um equilíbrio entre o valor artístico e as exigências do mercado é importante para a curadoria de arte. Por exemplo, um artista de elevada reputação pode não ser uma boa escolha para uma galeria comercial porque o seu estilo não se ajusta ao público. Para cada exposição é feito um planeamento estratégico, no que diz respeito aos temas, apresentação das obras de arte e colaborações corporativas, considerando se todos estes factores referidos podem trazer alguma coisa de novo e, claro, assegurar o controlo dos custos.


S: Foi atribuído à Galeria IaoHin mais de um milhão de patacas de subsídio do Fundo das Indústrias Culturais. Que uso vai dar a este subsídio?


L: Parte do subsídio vai ser usada para melhorar a área de exposição. Queremos solucionar os problemas estruturais do edifício, que é antigo. Com os novos recursos, também podemos melhorar a apresentação visual e operacionalidade da sala de exposições e da entrada da galeria através da instalação de paredes móveis, com o objectivo de criar um “percurso” móvel para os visitantes. As melhorias vão permitir à galeria tornar-se numa melhor plataforma de promoção e venda das obras de arte de Macau.