As Cidades Pop-up de Kit Lau

12 2016 | 18a edição
Texto/Yuki Ieong

Desde edifícios públicos, à Cidade Murada de Kowloon, às famosas waffle de ovo, às carrinhas de gelados, até à dança do dragão de fogo, Kit Lau tem conseguido dar vida a muitos dos ícones culturais de Hong Kong. Especialmente depois de o livro Hong Kong Pop Up ter sido um sucesso de popularidade, Lau decidiu lançar os livros Pop Up China e Pop Up Taiwan. Anteriormente, Lau trabalhou como ilustrador para revistas e também como director artístico de uma empresa de animação. Demitiu-se desse cargo há nove anos e decidiu abraçar o pouco conhecido e fantástico mundo dos livros de arte pop-up, aprendendo tudo sobre aquela técnica desde os princípios mais elementares. Naquela altura, a arte pop-up era praticamente desconhecida na Ásia, mas Lau conseguiu criar trabalhos originais e provocativos que se revelaram apelativos para muitos coleccionadores.


“Os meus trabalhos são apelativos acima de tudo para coleccionadores de arte, mas também para aqueles que guardam um grande afecto pela cidade em que vivem. Houve uma vez em que uma mãe veio comprar livros para a sua filha, usando-os para contar a sua própria história, relembrando os lugares onde costumava viver e por aí fora. Isso tocou-me imenso e desde então decidi focar-me nesta arte.” Em 2007, Lau deixou a empresa de animação onde trabalhava, com o plano de completar o projecto de fazer um livro pop-up no espaço de um ano. Além de pesquisar online e em acervos de bibliotecas, chegou até a enviar emails para outros proeminentes autores de livros pop-up de várias partes do mundo, pedindo-lhes que lhe recomendassem alguns livros inovadores. “É verdade que não precisamos de ter um tutor para tudo, mas eu gosto de pedir conselhos aos outros antes de ir à procura das respostas. Deste modo, é mais provável que as outras pessoas ajudem.” Lau ficou grato pelo encorajamento que recebeu de Michael Yang, um importante coleccionador de livros pop-up a viver em Taiwan. “Yang disse-me que é regularmente abordado por outras pessoas que lhe pedem alguns conselhos sobre como criar livros pop-up. Estes pedidos incomodam-no. Em vez de pedir ajuda, eu pedi-lhe boas recomendações de livros para ler. Ele acabou por me recomendar imensos trabalhos de excelente qualidade para minha referência.”


Neste processo criativo de fazer livros pop-up, Lau deparou-se com muitas oportunidades para colaborar com artistas de todo o mundo. Por exemplo, trocou correspondência com Matthew Reinhart, artista responsável pelos livros pop-up de A Guerra dos Tronos; e Marion Bataille, a autora francesa de ABC 3D. De acordo com Lau, estes artistas bastante apreciados são muito amigáveis e entusiastas quando toca a partilharem as suas experiências criativas e a sua inspiração. Lau relembra como, na sua primeira tentativa de fazer um livro pop-up, foi incapaz de construir um modelo adequado, e acabou por decidir analisar as estruturas dos modelos de livros pop-up feitos por outros autores. “Alguns jovens artistas são muito obstinados quanto às suas criações, querendo ter sucesso no imediato, e recusam-se a aceitar fracassos. Porque é que não conseguem ficar satisfeitos com uma abordagem mais gradual?”


Em 2009, Lau participou na segunda edição do “Concurso para Jovens Autores Estreantes”, no qual o seu manuscrito foi financiado para que pudesse ser produzido. O livro foi inspirado pelas mudanças de estilo de vida ocorridas em Hong Kong ao longo do século, e as primeiras cópias venderam-se rapidamente na Feira do Livro de Hong Kong, de tal modo que a editora tratou de fazer mais duas impressões, para poder responder à expectável procura.


Apercebendo-se do potencial de Lau, outros editores convidaram-no para co-produzir várias obras, incluindo Mobile Delights by the Cartful e Funtastic Activities, enquanto nos volumes seguintes, Pop Up China e Pop Up Taiwan, foram incluídas várias atracções, como uma esfera armilar, a Grande Muralha, o Ninho de Pássaro, o edifício Taipei 101, etc., que deliciaram os leitores. Quando questionado sobre por que decidiu incorporar no seu trabalho temas que não fazem parte da cultura de Hong Kong, Lau refere que quer apenas explorar mais sobre a cultura e história chinesas através da sua arte, e tirar mais partido da liberdade criativa. Na verdade, as suas experiências têm corrido bastante bem, tendo vendido 4 a 5 mil cópias de Pop Up Taiwan, e já com uma sequela desse livro a ser planeada. Lau reitera que os jovens artistas não devem estar stressados com a ideia de conseguirem atingir o mercado internacional. “Quando se trabalha em alguma coisa com verdadeira paixão, o nosso foco deve estar em fazê-la bem. É o mesmo que vender waffles de ovo nas ruas: brevemente haverá turistas estrangeiros que comprarão algumas, desde que estejamos a fazê-las bem. Não há necessidade de nos aventurarmos no exterior para conseguirmos inspiração.”


“Quando fiz o meu primeiro trabalho de pop-up, o mercado deste género de livros era praticamente inexistente. Afinal, não há muitas pessoas com paciência para fazer estes livros, nem interesse na publicação desses trabalhos, já que a produção é cara e é expectável que os lucros sejam poucos.” Lau sentiu que a popularidade da arte pop-up em papel entre a comunidade local está principalmente ligada a tendências. Por comparação, noutros países os livros 3D para crianças existem desde os anos 1930. Por outras palavras, o apetite por livros pop-up na Ásia surge principalmente por parte dos coleccionadores de arte. “Até agora publiquei oito títulos. Não acho que o mercado tenha mudado muito desde o meu livro de estreia. No entanto, agora há mais coleccionadores interessados, porque são ávidos coleccionadores de livros pop-up no estrangeiro.” Além disso, Lau não se ficou pelos livros pop-up. Criou a sua própria marca, SK Ronex, com a qual lançou ilustrações narrativas. Tendo como pano de fundo um cenário de pós-guerra e uma paisagem poluída, estas ilustrações apresentam produtos complementares, tais como carros militares “transformer” e uma série coleccionável de pequenas figuras, chamada “Acid Rain”.


Nos últimos anos, Lau tem-se interessado em construir o seu próprio portfólio, bem como uma equipa de vendas e marketing. “Recentemente, descobri que a promoção da nossa marca está estrangular-nos. Com o crescimento de uma marca, são necessários mais esforços para promover os produtos, especialmente se a ideia é promover activamente o meu trabalho na região. Quanto mais tempo passo a tratar da promoção, menos tempo tenho para trabalhar em novas criações.” De acordo com Lau, o processo criativo é central para as suas ambições. Como resultado, decidiu delegar outras responsabilidades necessárias e mais técnicas, como a produção ou os acabamentos. Lau acredita que o trabalho de um artista criativo pode ter um maior efeito enquanto marca, se o artista estiver disposto a colaborar com parceiros de excelência.


No passado, Lau foi abordado por algumas instituições artísticas de Macau para explorar oportunidades de colaboração na promoção da cultura da cidade. A sua opinião sobre o ambiente criativo entre Hong Kong e Macau é de que muitos artistas em Hong Kong têm dificuldade em assegurar apoios financeiros e um espaço para trabalhar, devido ao processo extremamente burocrático do pedido de apoio financeiro. “Somente aqueles que são bem versados em escrever essas propostas são capazes de assegurar financiamento”, conta. Lau encoraja os jovens de Macau a não avaliarem a arte e a cultura apenas de uma perspectiva de custos, e para aproveitarem a liberdade da juventude e perseguirem os seus sonhos.