O fascínio das séries de TV norte-americanas: como Game of Thrones conquistou o mundo

07 2015 | 7a edição
Texto/Ng Kin Ling

Embora a repetição da série da TVB dos anos 1990 The Greed of Man tenha surpreendentemente gerado uma grande aceitação entre pessoas de todas as camadas sociais de Hong Kong, nenhuma outra série chegou perto de ser tão bem recebida como Game of Thrones [A Guerra dos Tronos], uma produção norte-americana da HBO. Desde a estreia da primeira temporada, em 2011, Game of Thrones pôs os espectadores da América do Norte, Europa e Austrália a discutir o argumento e as reviravoltas, e a tentar ansiosamente antecipar a nova temporada assim que a actual termina.


Baseada na série de livros fantásticos As Crónicas de Gelo e Fogo, do escritor americano George R.R. Martin, Game of Thrones está a ser escrita à medida que é transmitida. As filmagens pararam quando Martin não conseguiu entregar o argumento, o que levou a que alguns espectadores o pressionassem para que fosse mais rápido—prova viva de que a série exerceu um poderoso feitiço sobre o público.

Nos quatro anos que se seguiram à estreia, o efeito dominó causado por esta série tornou-se num tema amplamente discutido. Por exemplo, os locais de filmagem escolhidos transformaram-se em atracções turísticas. As autoridades do turismo da Irlanda prevêem que o número de visitantes chegue a atingir dois milhões em 2016. Também o Conselho Nacional de Turismo da Croácia divulga as suas atracções turísticas com base no interesse que despertam enquanto locais de filmagem da série.

Mas esta foi meramente uma coincidência feliz para a Irlanda porque, na realidade, as áreas escolhidas para filmar localizam-se na Irlanda do Norte, parte integrante do Reino Unido. Esta série de sucesso não foi apenas atraída pela paisagem de cortar a respiração da Irlanda do Norte, mas pela sua indústria televisiva e cinematográfica, que nos últimos anos teve um desenvolvimento bastante positivo, o que explica por que razão foi escolhida como base de produção da série.


Belfast, a maior cidade da Irlanda do Norte, tem visto o governo apoiar o sector da rodução cinematográfica ao longo dos últimos oito anos. A Universidade de Ulster é conhecida pela especialização em técnicas cinematográficas, ao passo que o governo local apoia empresas de cinema através de financiamento público. Em 2007, um estaleiro de Belfast foi convertido nos Estúdios Titanic, onde se filmou City of Ember, uma obra produzida por Tom Hanks e, pouco depois, Your Highness, da Universal Pictures. Por outro lado, Game of Thrones escolheu este local após estabelecer as instalações de produção na Irlanda do Norte, em 2010.


Entre 2009 e 2013, a série Game of Thrones criou 941 postos de trabalho a tempo inteiro—e se forem contabilizados os contratos diários de curto prazo são 5.700—, gerando 82 milhões de libras para a economia local. Tendo em conta a já antiga marginalização da Irlanda do Norte por parte da Grã- Bretanha, a visita da Rainha Isabel II e do Príncipe Filipe no ano passado ao local das filmagens de Game of Thrones nos Estúdios Titanic constituiu uma surpresa.


O sucesso da Irlanda do Norte deixou a vizinha Escócia irritada, já que Game of Thrones planeara inicialmente fazer as filmagens na Escócia—afinal de contas, as duas nações contam com paisagens naturais semelhantes. No entanto, a Escócia perdeu esta oportunidade por não ter instalações de cinema ao nível dos Estúdios Titanic, da Irlanda do Norte.


Na realidade, há anos que a indústria cinematográfica escocesa pressiona o governo no sentido de financiar a construção de um estúdio de cinema de nível mundial. Mas o governo alega que, em primeiro lugar, não existem fundos públicos disponíveis para o projecto. Em segundo lugar, mesmo se houvesse capital, a intervenção do governo no mercado livre seria censurável. Apesar da existência dos departamentos governamentais “Escócia Criativa” e “Indústrias Escocesas”, a falta de cooperação entre ambos tem limitado a indústria.


Apoiar as indústrias criativas com verbas públicas também é por si só uma “guerra dos tronos”. Permitir que pessoas de fora sejam responsáveis por uma profissão que não é a sua, pode ser um tiro no escuro. A melhor solução é seguir o exemplo da Irlanda do Norte, dando apoio e assistência às infra-estruturas em coordenação com políticas educativas, e deixando para outros a concretização das operações práticas.