Que futuro para as feiras do livro de Macau?

06 2015 | 6a edição
Texto/Allison Chan e Jason Leong

A congestionada cidade de Macau recebe todos os anos três feiras do livro, mas todas de pequena escala. Face às impressionantes feiras literárias organizadas por regiões vizinhas, como Hong Kong e Taiwan, é necessário que Macau melhore as suas feiras do livro, de forma a manter-se competitiva.


As três feiras literárias de Macau realizam-se na Primavera, Verão e Outono, respectivamente. A Feira do Livro da Primavera é a primeira das três a ser organizada anualmente e, de acordo com o director geral da Livraria Seng Kwong, Sio Chio Fai, é a que vende mais livros. A motivação dos leitores para visitar uma exposição e procurar novos livros durante a Primavera é maior. A feira que se realiza no Verão acontece em simultâneo com a Feira do Livro de Hong Kong, o que acaba por afectar o acesso às obras em Macau, já que estas são enviadas apenas quando o certame de Hong Kong termina. Além disso, os leitores de Macau também podem optar por fazer compras na Feira do Livro de Hong Kong para começarem a ler mais cedo, prejudicando dessa forma o mercado da feira do livro do Verão. Em relação à feira do Outono, Sio admite que esta permanence relativamente estável, já que um menor número de factores afecta o evento.


A edição de 2015 da Feira do Livro da Primavera realizou-se entre finais de Março e início de Abril. Tendo coincidido com as férias da Páscoa, o número de visitants que acorreram ao evento foi extraordinário e as receitas aumentaram 20 por cento em comparação com o ano anterior, diz Sio. “No passado, as receitas rondavam 40 mil patacas por dia, tendo aumentado este ano para mais de 50 mil por dia. Tenho vindo a observar diariamente os muitos visitants e o público leitor, e os principais leitores são os pais e os jovens. Nos últimos anos, o governo tem promovido a leitura nas escolas e eu acredito que o aumento dos jovens leitores terá sido motivado por esse factor. Cerca de 20 por cento dos jovens são caras novas, em vez de clientes regulares”, refere. 


Sio diz que os maiores compradores são os pais e que os livros ilustrados estão no topo das vendas deste ano. Pelo menos um quarto das bancas tinha disponíveis livros ilustrados—a elegância dos desenhos e ilustrações não atrai apenas as crianças, mas também os adultos. Os livros ilustrados estrangeiros são muito refinados. As editoras de Taiwan viram que este tipo de obras teria potencial no mercado chinês e começaram a traduzir massivamente livros ilustrados europeus—os de França e Itália são os mais procurados. Durante a feira, cada família adquiriu em media quatro a cinco livros ilustrados. Aqueles que gastaram mais de duas mil patacas são considerados grandes compradores. Sio diz: “Antigamente era comum para uma família gastar mais de cinco ou seis mil patacas, mas nos últimos dois anos tornou-se invulgar. Pensámos em diferentes formas de atrair clientes como, por exemplo, através do lançamento de novos livros com a presença dos autores, de sessões práticas de artesanato para crianças, de espectáculos de Cosplay ou combinando com jogos electrónicos, etc. Mas acreditamos que estas actividades não se coadunam com as feiras literárias de Macau e, por isso, não demos continuidade”. Sio aponta que a principal razão para organizar feiras do livro é permitir aos leitores que comprem livros e interajam com os autores. Pode parecer antiquado, diz Sio, mas as feiras do livro devem manter-se fiéis à sua própria filosofia.


Já no que diz respeito ao futuro desenvolvimento das feiras do livro de Macau, o autor local Joe Tang—que já esteve nas feiras de Hong Kong, Macau e Taiwan—faz uma comparação entre os três locais, que pode servir de referência para Macau: “Taiwan tem mais recursos literários e editoriais, enquanto Hong Kong é mais comercial. Mas Macau vende livros através de promoções e organiza várias feiras literárias por ano. O seu posicionamento é incerto”.


“Em Macau, o mercado é pequeno e os recursos para o sector cultural estão dispersos. Podemos pensar na organização de uma feira do livro que não sirva apenas para vender livros, mas que combine outras artes, como cinema, música e teatro. Por exemplo, poderemos nós organizar a mais pequena, mas também a mais requintada feira do livro do mundo? A organização de uma feira abrangente e de grande dimensão é difícil em Macau e, por isso, podemos tentar focar a nossa atenção num nicho de mercado e organizar uma feira que combine as características que distinguem Macau, olhando para a Ásia e mesmo para todo o mundo.”