Yvonne Yu

Yu é uma profissional veterana dos média e a fundadora da IOU TAK BUT PUBLICAÇÕES, LIMITADA. Trabalhou para muitas revistas de estilo de vida e de viagens, tais como City Pictorial, Wine Magazine, E Travellers Magazine e Cguide Magazine, além de ter sido juíza em prémios culinários profissionais. Adora tudo o que tenha a ver com impressão em papel e espera exportar publicações de Macau, assim como trazer para Macau publicações e autores prestigiados.

A auto-ajuda das livrarias independentes em tempos de pandemia

45a edição | 08 2021

O assunto mais debatido recentemente gira em torno do tema “a força dos cantoneses”; tanto Cantão, Hong Kong e Macau pertencem à Área da Grande Baía. Em tempos de pandemia, para além do profundo receio interior, sentimos muitas vezes amores duplos. Entre tantos rumores durante a pandemia, encontrei uma notícia intitulada “Uma promessa com o Distrito de Liwan, Cantão: ajudar uma livraria no centro da pandemia”. É uma carta com um pedido de auxílio enviada pela livraria 1200bookshop, uma famosa livraria independente cuja localização fica a apenas 1.8 quilómetros do centro da nova vaga da pandemia.


O Parque do Lago de Liwan, onde está a 1200bookshop, não é nada desconhecido para mim, fazendo parte importante do mapa da minha memória infantil. Dois anos atrás, esta livraria tornou-se célebre pelo seu horário de abertura durante todas as horas do dia, e, com audácia, decidiu abrir uma nova loja de conceito em Saikwan, a livraria 1200book&bed + albergue de juventude, um local muito procurado por celebridades na internet. Entretanto, o tempo bem-sucedido não durou muito; a pandemia, desta vez, sucedeu tão de repente e tão fortemente que as cem camas e as centenas de livros perderam, num instante, a oportunidade de tocarem as pessoas. Há pouca clientela na livraria, e os lucros são menos de um décimo dos do ano passado; sem dúvida, para uma livraria independente que acaba de se estabelecer, tudo isso é uma pancada enorme.


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A 1200book&bed, situada no centro da nova vaga da pandemia, Distrito de Liwan, foi construída a partir dum prédio velho em Saikwan. (A imagem foi oferecida pelo Suitable Space Design)


Felizmente que, diante deste momento sombrio, o gerente da livraria não agiu como um soldado desarmado, pelo contrário, tomou rapidamente medidas e mandou para o exterior aquela carta com o pedido de socorro. Para além de apelar às pessoas que, após o período de pandemia, poderiam ir a Liwan encontrar activamente a beleza de Saikwan, até promoveu apropriadamente o projeto de compra de “bilhetes-cama”, chamado “Promessa com Liwan”! Esses bilhetes vendem-se de diversas maneiras, divididos em géneros como os de cama por trinta dias, os de cama por um dia, os de cama por três dias e os de quarto por um dia. Evidentemente, a livraria comporta-se como uma grande plataforma de turismo, dando-nos uma aula viva e real de administração cultural e criativa. No caso desta livraria independente, não é nada esquisita esta “forma de auto-ajuda” que conta com uma matriz intensa de marketing, tendo recebido, inclusive, uma boa reação pelos jovens hipsters e tendo aumentado exponencialmente os seus valores de venda de bilhetes. Vê-se, portanto, bem que todas as empresas que se esforçam pela sobrevivência durante a pandemia são iguais, até as culturais e criativas que são consideradas, pelo conceito tradicional, como “não saberem ser flexíveis”, têm oportunidades equivalentes de mudança; e a única questão é se você saberia ou não que métodos usar para mudar e se conseguiria manter a sua própria dignidade.


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A 1200book&bed tem um design bastante estilizado, onde os livros e as camas se rodeiam, proporcionando aos amantes do livro uma atmosfera de alojamento ideal. (A imagem foi oferecida pelo Suitable Space Design)


Claro, esta não é a única livraria que se ajuda a si própria com tanto esforço; a City Book Room, na North Bridge Road de Singapura, é também um bom exemplo. Estabelecida há cinco anos, foi criada por Tan Waln Ching de Bidor, Malásia. Nas suas palavras, o impacto que a pandemia teve nesta pequena livraria independente é “tão grande que não sabe como o descrever”. A directora Tan cresceu, da noite para o dia, rapidamente sob esta situação de dificuldade e abriu a livraria online, procurou activamente novas oportunidades de comércio e organizou constantemente tertúlias de leitura pela internet para reunir as forças culturais dos amantes do livro. Não havia muitos jovens que participavam nas actividades offline da livraria, mas entretanto, as vídeo-reuniões quebraram a lacuna temporal e espacial deixando mais jovens leitores participarem, e este resultado é a maior surpresa que Tan Waln Ching recebeu na economia pós-pandemia.


Além disso, o serviço de entrega impressionou-me muito, nomeadamente o serviço de entrega rápida em livrarias. Desde o ano passado, muitas livrarias, grandes e independentes, em Pequim e Xangai, já se inscreveram em grandes plataformas famosas pela oferta do serviço de entrega de livros e produtos culturais e criativos. O instrumento avançado da comunicação online proporciona às livrarias muitas oportunidades de um novo começo, invertendo a lógica de que se os leitores não forem mais às livrarias físicas, perderão o contacto com os livros. Muitas livrarias inventaram até as suas próprias aplicações em que se carregam séries de actividades, como aulas de leitura e seminários de livros, etc., o que poderia ser uma surpresa neste contexto desagradável.


Quem poderia adivinhar tudo isso: antes, eram os livros que esperavam pela vinda de pessoas; depois da pandemia, com a vida mais online, somos nós as pessoas que esperam pela vinda de livros. Se calhar, o cenário que muitos gerentes de livrarias estão a sentir é a urgência de mudança, exatamente o que os leitores desejam ver.