Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


Efeito de Peixe-Gato

14a edição | 04 2016

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Foto cedida por 100Most


No início deste ano, a TVMost, um meio de comunicação online de Hong Kong, lançou a 1.ª Guy Ten Big Ging Cook Gum Cook Awards Distribution, e foi um sucesso. O programa é uma sátira óbvia à Jade Solid Gold Best Ten Music Awards Presentation, da TVB. O Programa não só tem uma produção de alta qualidade, como transborda de criatividade, pelo que atraiu milhares de internautas para assistir à emissão em directo ou ao webcast. E uma série de críticos e académicos escreveram artigos sobre o assunto. Além de ser um evento importante no sector cultural, o programa já se tornou um fenómeno.


Na verdade, programas semelhantes também existem no interior da China. Em 2009, um grupo de jingpiao (literalmente, pessoas flutuantes em Pequim; a palavra refere-se às pessoas de fora da capital chinesa que nela procuram oportunidades) realizou um evento sem precedentes, o “Shanzhai Chunwan”, cujo nome brinca com o Festival da Primavera da CCTV, normalmente abreviado em chinês como Chunwan. Emitido pela primeira vez em 1983, o Chunwan tornou-se provavelmente no programa de entretenimento mais visto e no ar há mais tempo em todo o mundo, e com o maior elenco. Costumava ser um espectáculo imperdível durante o Ano Novo Chinês para todas as famílias do interior da China, e quem quer que tivesse a oportunidade de actuar no programa teria, garantidamente, sucesso do dia para a noite. As canções e os programas exibidos tornavam-se rapidamente populares em todo o país. Como tal, durante muitos anos, o alinhamento do programa e quem nele ia participar tornavam-se os principais temas de conversa do país.


O Chunwan ainda é importante e popular, mas tornou-se demasiado previsível, devido a uma fórmula excessivamente familiar de canções e números de dança. Nos últimos anos, o Chunwan tornou-se um dos programas mais odiados no interior da China e as audiências baixaram em consonância. Com este pano de fundo, o “Shanzhai Chunwan” realizado por um grupo de jingpiao chamou naturalmente a si os holofotes. De acordo com as ideias iniciais dos organizadores, o “Shanzhai Chunwan” seria exibido ao mesmo tempo que o Festival da Primavera da CCTV, tendo como público-alvo a classe operária, especialmente os migrantes e os estudantes universitários que não conseguiram regressar a casa durante o Ano Novo Chinês. Acima de tudo, o espectáculo recorre à “eleição popular” para conceber os seus programas. Quem quiser fazer parte do programa pode candidatar-se ao mesmo. O jornal chinês Southern Weekly publicou uma série de artigos para debater a intrigante evolução do “Shanzhai Chunwan”. Basta comprar um exemplar do jornal para descobrir os pormenores.


O que pretendo realçar é que, tanto o “Shanzhai Chunwan” como a Guy Ten Big Ging Cook Gum Cook Awards Distribution, apontam para algo importante que ninguém nas indústrias criativas deve ignorar – o efeito de peixe-gato. Diz-se que pescadores na Noruega colocavam um peixe-gato no tanque do navio porque, confrontadas com um predador, as sardinhas mantinham-se activas ao invés de ficarem sedentárias. Deste modo, aumentavam as probabilidades de sobrevivência das sardinhas durante o transporte de longa distância.


Talvez a “construção destrutiva” seja o modus operandi que melhor se adapta à indústria criativa. À medida que a sociedade, a economia e a tecnologia vão evoluindo, tanto os criativos como os gestores têm de inovar e ser proactivos para responder às mudanças. Todavia, a preguiça é um instinto natural. Quando uma companhia alcança determinada reputação e canais de comunicação, não é fácil afastar-se desse “modelo de sucesso”. Em vez disso, a fórmula é copiada uma e outra vez , até que acaba por se desligar da realidade. Na verdade, não devemos sentir-nos relutantes em detectar os peixes-gato. Nem devemos tentar manter-nos longe deles. Devemos antes ficar felizes por tais “agitadores” existirem para desafiar o status quo, e eles são como um espelho, que reflecte o que falta e o que está abaixo dos padrões.