Ron Lam

Escritora a residir no Japão, especializada em design, lifestyle e jornalismo de viagem, Ron trabalhou anteriormente como editora das revistas MING Magazine, ELLE Decoration e CREAM.


A produção de Wagashi

13a edição | 02 2016

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“Aquilo é relva!?”, exclamei eu entusiasmado quando vi o telhado verde à distância. De princípio tinha apenas pensado em passear pelas ruas de Hachiman-bori, na prefeitura de Shiga, e por isso peguei num mapa do posto de turismo. Escolhi um ponto de interesse sobre o qual não sabia nada e finalmente cheguei a um lugar onde me deparei com longos campos de arroz. Os carreiros pelo meio dos arrozais conduziam a uma casa de madeira gigantesca, com um telhado verde. Era como se um relvado tivesse sido colado ao telhado. No meio da relva havia uma série de janelas e toda a casa parecia uma cabana saída de uma floresta de contos de fadas.


La Collina, gerido pela Taneya, produtora de wagashi (doce tradicional japonês), é na verdade uma casa de doces. O edifício foi desenhado por Terunobu Fujimori, que se tornou famoso por ter projectado uma série de casas de árvore extravagantes.


O segundo andar do La Collina é um café, enquanto o rés-do-chão acolhe a loja e a fábrica de doces da Taneya. É possível ver chefes pasteleiros a trabalharem afincadamente na cozinha, e sentir o aroma das natas e dos ovos enquanto a massa esponjosa é mexida e coberta de açúcar. Do outro lado, vê-se a produção de dorayaki, com a pasta de feijão vermelho a ser inserida entre dois pastéis que se assemelham a panquecas. Aqui, não só é possível ver os doces wagashi já preparados e bem apresentados, mas também perceber com o que são feitos e como são feitos.


O objectivo da Taneya é conectar as pessoas, os wagashi e a natureza através do La Collina. Com este estabelecimento, é possível perceber como os wagashi são feitos e como os ingredientes – farinha, arroz, etc. – são produzidos por agricultores humildes, com a bênção da natureza. Os wagashi são bonitos, mas a sua natureza é pura e simples – é a mãe-natureza. Os arrozais à volta do La Collina são a área de cultivo detida pela Taneya e gerida por agricultores e estudantes universitários em Hachiman-bori. Uma das quintas chama-se Jardim Kitanoshou e cultiva diferentes tipos de vegetais e frutas. Por vezes, havia patos à solta na quinta e isso fez-me pensar no cultivo integrado de arroz e na criação de patos. No entanto, não é o caso. Minhocas e pássaros não têm qualquer papel aqui. Os patos apenas vivem ali livremente e deixam que os visitantes apreciem a harmonia dos seres vivos no reino da natureza. Mais distantes estão campos de arroz detidos pela Taneya. À semelhança do Jardim Kitanoshou, essas colheitas servem de ingrediente para os wagashi.


A segurança da comida importada tornou-se uma questão alarmante no Japão, e o fluxo de produtos importados a baixo preço veio afectar os produtores locais. Mas foi também assim que a ideia de comprar produtos locais ganhou nova força no Japão. Os canais de venda directos da JA National Federation of Agricultural Cooperative Assoications cobrem o país inteiro e vendem a produção dos produtores locais nas suas respectivas cidades ou vilas. Promover o conceito de comprar produtos locais é também uma das razões pelas quais a Taneya criou o La Collina. É a única forma de garantir que os produtos alimentares ali produzidos são seguros. A construção e a abertura do La Collina veiram também responder a outros problemas que o Japão enfrenta presentemente. Olhemos para a indústria florestal, por exemplo. Dado o desequilíbrio entre a oferta e procura de madeira, muitas florestas carecem de boa gestão ou deixam simplesmente de ser usadas. Canas de bambu foram um dos materiais usados para a construção do La Collina, e foram colhidas de uma floresta abandonada, nas redondezas. Ao fazer isto, foi também dada à floresta uma oportunidade de recuperar o seu ecossistema.


Para os visitantes, claro que o destaque do La Collina vai para a loja de doces. Mas a Taneya vê-a apenas como um dos elementos deste negócio. É igualmente importante “a arte da lavoura” – a agricultura é uma arte que requer técnicas refinadas. O cultivo é uma das partes da arte da lavoura, e a educação é ainda mais importante. Em 2014, a Taneya colaborou com a Universidade de Kyoto e lançou o Programa de Estudos sobre a Conectividade das Montanhas, Humanos e Oceanos. Foram fornecidos recursos à universidade, bem como o acesso às instalações do La Collina, para avançar com investigação sobre simbiose e ecologia. O programa debruçou-se em especial sobre as florestas de Hachimanyama e Azuchiyama, em cidades antigas como Hachiman-bori e Lago Biwako.


As lojas da Taneya estão espalhadas por todo o país. Ao investirem tanto em educação e investigação, a Taneya é bastante apreciada enquanto empresa com uma forte estratégia de responsabilidade social. Mas Yamamoto Masahito, Director-geral da Taneya, disse explicitamente que não gosta dessas palavras. Ele acredita que contribuir para a comunidade é uma premissa óbvia, não uma responsabilidade.