Lin Yi-Chun

Director de Marketing para as Tribos de Taiwan

Cultura aborígene e criatividade: em busca de um modo de vida para as tribos aborígenes

1a edição | 01 2015

Lalaban (拉拉板) é a montanha mais alta da aldeia de Shinshe, município de Fengbin, distrito de Hualien, na parte oriental de Taiwan, e é um marco que orienta os pescadores de Shinshe a caminho de casa. Vivendo no sopé da montanha, encontramos a tribo aborígene taiwanesa Kavalan (噶瑪蘭族). Na década de 90, as mulheres mais velhas da tribo, com 70 ou 80 anos, tiveram a ideia de ensinar as mais jovens e revitalizar o artesanato de tecelagem tradicional com fibra de banana.


A fibra de banana é um material de tecelagem sedoso obtido a partir do complicado processo de secagem e lavagem da fibra extraída da pele dos caules da bananeira. É uma arte única dos Kavalan, tal como a mais comum tecelagem tradicional, feita com fibra de rami.


No entanto, a abertura das estradas ao longo das áreas costeiras no leste de Taiwan conduziu à substituição rápida da tradicional fibra de banana por outros produtos industriais. A maior acessibilidade também resultou no êxodo da população, seguido pelo declínio do artesanato tradicional. Apenas quando os japoneses chegaram à vila de Shinshe para estudar a história da fibra da banana, há quase 20 anos, é que a tribo Kavalan começou a perceber que o seu artesanato tradicional havia desaparecido.


Depois disso, os Kavalan criaram a Oficina de Fibra de Banana de Shinshe, tomando a montanha mais alta, Lalaban, como imagem e símbolo espiritual da oficina, fazendo renascer um importante património cultural. As mulheres idosas lá continuam a ralhar com as jovens da tribo: “Vocês não valorizam a vossa cultura. Esqueceram-se dos vossos antepassados…” De facto, hoje já não usamos as fibras de banana, morosas e dispendiosas, para produzir roupas impermeáveis. Só que o que estes workshops fizeram não foi apenas ressuscitar o ofício, mas também usar essas técnicas para desenvolver produtos culturais e criativos modernos, tais como pauzinhos ecológicos, bolsas para cartões de visita e capas de iPhone, entre outros, na esperança de aproximar o artesanato tradicional e o mundo moderno.


Este design cultural e criativo feito pelas tribos pode não ser ainda uma moda global, mas nos últimos anos gerou alguma sensação. As oficinas que divulgam o artesanato e a técnica tradicional, como a referida anteriormente, não estão a aparecer em todas as tribos de Taiwan mas já começam a ser mais do que meros casos isolados.


Face à globalização e à cultura de massas, cada vez mais as minorias étnicas começam a reflectir sobre como preservar a essência da sua cultura tradicional, tentando recuperar a sabedoria dos seus antepassados. Mais importante ainda para os aborígenes de Taiwan é como garantir um sustento diário. Oitenta por cento trabalham na agricultura e, por isso, são confrontados com o desaparecimento da sua cultura e do seu modo de vida.


Os problemas que enfrentam muitas outras aldeias, também os encontramos nas tribos aborígenes de Taiwan, como fracas infra-estruturas, falta de oportunidades de trabalho, avós criando os netos e falta de vitalidade, visto que cada vez mais jovens saem das aldeias em busca de trabalho, deixando filhos, pais e outros idosos para trás. As débeis bases económicas levaram ao aparecimento de muitos problemas sociais, enredados em ciclos viciosos. Para além de transmitir e difundir a cultura étnica tradicional, será possível que a chamada cultura aborígene criativa seja estimulada em tribos que atravessam uma fase difícil?


Nos últimos anos, alguns jovens regressaram às suas aldeias em busca de uma alternativa profissional. Além dos recursos naturais que ali os rodeiam, os meios de que também podem dispor são a riqueza humana e o conhecimento deixado pelos seus antepassados, tanto no artesanato como na agricultura.


A herança cultural, a menos que falemos de fósseis acomodados num museu, só poderá permanecer se for construída sobre uma base económica. As pessoas precisam de pensar em como desenvolver um mercado cuja procura de certos produtos seja estável, que permita que os aborígenes e os jovens dispostos a regressar às suas aldeias tenham uma fonte de rendimento fixa. Isto pode até levar à criação de mais oportunidades de trabalho que atraiam ainda mais jovens às aldeias, e, deste modo, conseguir revitalizar a forma de vida das várias tribos, bem como herdar e desenvolver a cultura tradicional.


Quer a cultura e criatividade aborígenes possam ou não lutar por sair de uma economia tribal, há pessoas que continuam a trabalhar arduamente nesse sentido.