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A oitava pessoa mais feliz em Macau- quem são as sete primeiras?

Macau no grande e no pequeno ecrã

1a edição | 01 2015

Devo admitir que tenho dúvidas sobre a tendência, bastante popular por estes dias, de comercializar a cultura. Fazer da cultura uma indústria e considerá-la como mercadoria é algo que certamente levanta várias questões práticas bem reais sobre que valor isso terá. Obviamente, a cultura e a arte não devem ser tratadas como simples mercadoria—as razões são evidentes, não preciso de explicar. Ora, a constante excitação sobre a promoção e comercialização da cultura pode deixar as pessoas confusas e desinformadas. Tal como outros bens, a cultura e a arte devem estar sujeitas às mesmas regras de mercado quando estão a ser comercializadas. A ser assim, como se pode convencer o público a concordar com a atribuição de fundos públicos para apoiar, impulsionar e proteger a cultura e a arte? Será que o mercado é o melhor juiz do real valor da arte? Esta é uma questão muito controversa, estou certo. Mas acredito que a maioria das pessoas concordaria que o mercado não é o único critério para julgar o valor da arte e da cultura.


No que toca ao comércio, a arte e a cultura precisam claramente de ser encaradas de uma forma diferente de outros bens e indústrias. Só então poderemos deixar o argumento da mercantilização e discutir a formulação de políticas culturais. A França, por exemplo, envidou muitos esforços e tem feito um excelente trabalho no apoio, incentivo e protecção da arte e da cultura. O povo francês é consensual no que toca a achar que o sector das artes deve ter um tratamento especial.


A indústria cinematográfica local começou tarde, a um ritmo lento e em condições muito difíceis. A maioria das obras produzidas quando muito é exibida em salas pequenas, longe do grande público. É um desafio difícil fazer chegar estes filmes ao resto da população.


Há algumas experiências bem-sucedidas em França a ser consideradas. A lei determina que pelo menos metade dos filmes exibidos na TV têm de ser de produção doméstica. Segundo o mesmo princípio, a lei diz que pelo menos 40 por cento da música tocada na rádio deve ser francesa, e metade das canções têm de ser obras originais compostas por novos artistas. Em 2000, o governo francês alterou esta lei e deu orientações diferentes para diferentes tipos de estações de rádio. Por exemplo, as estações de rádio completamente dedicadas à música têm de dar pelo menos 60 por cento de tempo de antena à produção francesa. O objectivo é sempre o mesmo: oferecer um maior tempo de antena à arte e cultura locais e ajudar a que se desenvolvam.


Na verdade, a França não é o único país a fazer uso de instrumentos legais para apoiar a arte e a cultura locais. Alguns países, como a Finlândia, estipularam que as estações de televisão têm de transmitir produções domésticas em horário nobre. O governo de Macau também poderia seguir estas orientações para promover a sua política cultural e fazer as produções locais chegarem ao grande público. Por outro lado, poderíamos explorar a possibilidade simples de ter cinco ou dez minutos de curtas metragens locais exibidas no começo de cada sessão comercial de cinema, em todas as salas.


Prefiro uma abordagem mais prudente e pessimista sobre a indústria cinematográfica de Macau do que uma postura leviana e optimista. Só assim poderemos dar passos mais seguros para explorar as diferentes soluções possíveis, ao invés de fantasiar e andar com a cabeça nas nuvens—mesmo que as nossas sugestões sejam consideradas impactáveis.