Hung Kuo-hsiung

Consultor na Aldeia Suao dos Tamancos de Madeira de Baimi, especialista/conferencista do Museu Yuyu Yang, director de marketing da Lee Gallery.

Brindes da sorte – a história do bolos do sol e de Yen Shui Long

3a edição | 03 2015

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Foto cedida por Hung Kuo-hsiung


Quando eu era novo, sempre que os meus familiares me vinham visitar traziam uma caixa com girassóis estampados e cheia de bolos. Tinham a dose certa de açúcar e um sabor que não consigo esquecer. Hoje em dia, são poucos os turistas que visitam Taiwan e não compram uma destas caixas de “bolos do sol”. Mas o que é que têm de tão especial?


Os bolos do sol foram inventados há muito tempo na padaria Tai Yang Tang, em Taichung. O casal que explorava o negócio decidiu reinventar um doce típico da região feito à base de malte e transformá-lo num bolo estaladiço e com um recheio muito rico. Com o objectivo de abrir uma loja na cidade, o casal recorreu à ajuda de um velho amigo, Yen Shui Long, que os aconselhou a baptizar a invenção como “bolo do sol”.


Yen (1903-1997) nasceu em Tainan e cresceu na companhia da avó e irmã. Completou os estudos na Escola de Belas Artes de Tóquio e foi para França em 1929, quando um dos seus trabalhos – Parc de Montsouris – foi seleccionado para o Salon D´Automne. Yen também estudou numa escola de ofícios, o que lhe permitiu seguir uma carreira na área do artesanato, da publicidade e do design. Ensinou muitos estudantes e construiu uma sólida fundação para o desenvolvimento das indústrias criativas em Taiwan.


 Influenciado por Yanagi Sōetsu, pai do movimento da arte popular japonesa, Yen começou a dar mais valor à cultura da tecelagem e da escultura nativa de Taiwan. Aperfeiçoou os desenhos das esteiras e chapéus de palha produzidos na região central de Dajia e foi vendê-los noutros locais, o que permitiu trazer alguns dos lucros para aquelas comunidades. O artista criou ainda cadeiras e outras peças de mobiliário em bambu, sem que para isso utilizasse um único prego. As obras de Yen não eram apenas belíssimas, mas também ecologicamente sustentáveis. Foi um verdadeiro pioneiro na arte do saber viver.


 Durante os estudos no Japão, Yen foi fortemente influenciado pelas obras de Gauguin e Van Gogh. Este impacto acabou por se reflectir em muitos dos seus quadros que retratam, por exemplo, girassóis ou a população autóctone de Taiwan.


O nome “bolos do sol” e os desenhos ou cores que decoram as caixas fazem igualmente lembrar as peças de bambu feitas por Yen. O fundo azul e branco sugere o céu; de cada lado estão diferentes girassóis. As cores são claras, a composição é detalhada e a caixa transmite a sensação do raiar do sol, de paixão e vitalidade. É elegante e moderna. Já nesses anos 1960, Yen posicionava-se claramente na vanguarda do design.


Quando a velha padaria Tai Yang Tang ainda funcionava, tinha um mosaico com dez girassóis desenhados por Yen. Era uma bela peça de arte mas esteve para ser destruída pelas autoridades policiais durante o período de lei marcial por razões políticas. Felizmente, o dono conseguiu esconder esta peça, que voltou a ver a luz do dia em 1995.


 Os desenhos de Yen encontram-se hoje estampados em vários objetos – desde gravatas, passando por chávenas de café, telas, peças de mobiliário, até publicidades ou grandes mosaicos. O autor promoveu o acesso de todos à arte, independentemente da classe social. Yen queria que a arte fizesse parte do dia-a-dia da população e deixou a sua marca em estabelecimentos de ensino de design em Taiwan. Estou certo de que Yen ficaria sensibilizado se soubesse que, graças ao seu envolvimento artístico, os bolos do sol não só se tornaram nos brindes mais conhecidos de Taiwan, como também no grande orgulho das indústrias criativas locais.


Apesar da padaria Tai Yang Tang ter fechado portas há dois anos, quando o responsável pela segunda geração de proprietários morreu, nove mestres da loja decidiram reabri-la, eternizando assim o sabor e o espírito dos bolos do sol.