Lam Sio Man

Nascida em Macau, atualmente a viver em Nova Iorque. Dedica-se a exposições independentes, à escrita e ao trabalho em educação artística. Em 2019, foi curadora da Exposição Internacional La Biennale Di Veneza, inserida nos Eventos Colaterais de Macau, China. Trabalhou no Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova Iorque, no Museu dos Chineses na América e no Instituto Cultural do Governo da RAEM. É licenciada pela Universidade de Pequim em Língua Chinesa e Artes, e mestre em Administração de Artes pela Universidade de Nova Iorque.

Mudar uma cidade através da cultura

8a edição | 08 2015

Num seminário sobre projectos culturais públicos, um responsável fez a seguinte pergunta aos estudantes presentes: “A nossa cidade não tem florestas, minerais, indústria e agricultura. Que futuro económico irá ter a nossa juventude?”


Entre as centenas de estudantes, ninguém se atreveu a dar a resposta que o responsável esperava, mas houve quem murmurasse baixinho: “Dinheiro”.


Poucas cidades do mundo podem gabar-se desta forma. Mas será que queremos ver as nossas cidades tão empobrecidas até ao ponto de o dinheiro ser a única coisa que nos resta? É assim tão improvável que seja a cultura a impulsionar o desenvolvimento de uma cidade?


Utilizar a cultura para desenvolver uma cidade não é nada de novo. As indústrias culturais na Europa desenvolveram-se em antigas cidades industriais, dando um novo ímpeto económico a estes lugares. Bilbau, em Espanha, é um exemplo clássico. A conclusão do Museu Guggenheim e o gradual planeamento urbano ajudaram a transformar uma zona industrial atrasada num importante destino turístico europeu. Mesmo em cidades que prosperaram recentemente, as indústrias culturais são importantes. Abu Dhabi, por exemplo, criou o distrito cultural Saadiyat, uma ampla área que abrange o Louvre, o Guggenheim e outras instituições artísticas internacionais de topo, e que poderá vir a tornar-se no mais proeminente centro cultural do mundo. Mas o mais importante é a mensagem que este projecto deixa ao mundo – Abu Dhabi é mais do que petróleo.


Macau também começou a apostar no desenvolvimento cultural em 2010, com o objectivo de diversificar a economia. O que a diferencia de Abu Dhabi é que Macau já contava com uma forte componente cultural, incluindo as áreas classificadas como Património Mundial da UNESCO e uma relação de 400 anos entre o Oriente e o Ocidente. Então, o que impede Macau de deixar a sua marca cultural no mundo? Ao contrário das cidades previamente mencionadas, o que falta a Macau é um projecto cultural de destaque que possa dar vida a toda a cidade e despertar a atenção do mundo. Seria algo que se enraizasse profundamente na mente das pessoas – ou um género de “comunicação icónica”, como a denomina o urbanista Charles Landry. Uma cidade precisa de encontrar esse ícone para se destacar entre as outras cidades do mundo. Mas esses projectos são geralmente dispendiosos e controversos. Em Bilbau, o vice-presidente da câmara Ibon Areso enfrentou grande oposição do público em relação ao projecto do Guggenheim. Mas sem a sua sabedoria e coragem, Bilbau não teria gerado o chamado Efeito Guggenheim, e não teria encorajado empresas a investir posteriormente elevadas somas de dinheiro no planeamento urbano. Foi um investimento de alto risco e que pôs seriamente à prova a visão e gestão dos urbanistas.


Na realidade, em Macau não faltam gestores culturais com visão. Há uma década, a candidatura de Macau a Património Mundial da UNESCO foi aprovada. Este foi um projecto cultural muito importante, que colocou Macau em definitivo no mapa do mundo. Agora é necessário revitalizar a imagem cultural de Macau. Mas como? Talvez através da criação de novos projectos culturais, ou através do “Desfile por Macau, Cidade Latina” que é organizado há já vários anos, ou então através da Bienal de Macau, inspirada na de Veneza e já proposta anteriormente. Os nossos modelos de planeamento cultural estão prontos. O próximo passo é convencer o público de que a cultura pode mudar uma cidade.