Ling Lui

Jornalista de Actualidade Informativa em Hong Kong, interessada em viagens e com um fraco por palavras.

O Imperador sabe

1a edição | 01 2015

Quando antigamente os funcionários apresentavam relatórios ao imperador chinês, este respondia: “O Imperador sabe”. Quem diria que essa frase se tornaria popular nos dias de hoje para as indústrias culturais e criativas?


O Museu do Palácio Nacional de Taipé começou a vender em Julho de 2013 rolos de fita adesiva com o slogan “O Imperador sabe”. O texto replicado na fita assemelha-se ao trabalho a pincel e tinta vermelha do Imperador Kangxi, da dinastia Qing. Até Julho de 2014, foram vendidas mais de 140 mil unidades. A 200 dólares de Taiwan cada caixa, este produto rendeu ao museu 28 milhões de dólares Taiwan. Recentemente este rolo de peculiar rolo de fita adesiva foi o quinto classificado numa votação que distingue os Cem Melhores Produtos das Indústrias Culturais e Criativas de Taiwan, organizado pela revista La Vie.


No entanto, o produto mais vendido do Museu do Palácio Nacional de Taipé não é este rolo de fita. As lembranças que a peça mais importante da colecção do museu – a “Couve de Jade” – em forma de porta-chaves, acessórios para telemóveis, saca-rolhas e outros 200 tipos de peças são as campeãs de vendas. A “Couve de Jade” é um tesouro pertencente à corte da dinastia Qing. A peça foi esculpida no verde natural de um bloco de jade e diz-se que era uma das favoritas da Imperatriz Cixi. De acordo com informação avançada pela imprensa taiwanesa no início deste ano, as lembranças inspiradas nesta relíquia representam uma facturação anual de 140 milhões de dólares de Taiwan, um quinto da receita anual do museu.


O que faz um museu tornar-se num exemplo a seguir pelas indústrias culturais e criativas?


Na verdade, numa fase inicial o Museu do Palácio Nacional de Taipé apenas imprimia postais e fazia réplicas de peças, até que em 1983 o académico Chin Hsiao-yi foi nomeado director do museu. Chin foi conselheiro dos presidentes Chiang Kai-shek e Chiang Ching-kuo e também um especialista em Confúcio, com inúmeros trabalhos académicos. Ao assumir o cargo, decidiu preservar a história do museu ao mesmo tempo que o modernizava; e propôs combinar as artes e a vida quotidiana, levando o museu a desenvolver um novo caminho nas indústrias culturais e criativas.


O museu cede aos fabricantes de lembranças o direito de produzirem os artigos, concedendo-lhes o direito de usar a marca e fornecendo-lhes imagens. As mercadorias fabricadas são itens de utilidade prática, tais como lenços, gravatas, chávenas e pires, bem como artigos de papelaria, sendo vendidos na loja do museu com a marca MPN-Taipei.


Esta abordagem não só trouxe mais receitas ao museu, como permitiu que os visitantes pudessem levar uma recordação para casa e ajudassem a espalhar uma mensagem artística. Além do mais, o museu impulsionou a indústria e possibilitou que muitos dos fabricantes das peças MPN-Taipei desenvolvessem as suas pequenas e médias empresas, estendendo este negócio de produção de lembranças ao Interior da China.


Além disto, o museu edita ainda álbuns ilustrados e publicações regulares: a Revista Mensal do Museu do Palácio Nacional sobre Arte Chinesa e a Revista Trimestral de Pesquisa do MPN, que ajudam a divulgar as exposições e eventos quem decorrem no museu.


Para entrar em mercados estrangeiros, o museu lançou artigos em parceria com marcas importantes, como a italiana Alessi, em conjunto com a qual produziu uma série de artigos domésticos inspirados na dinastia Qing; ou a marca taiwanesa Franz Collection, parceira para o lançamento de uma linha de peças porcelana adornadas com pinturas chinesas.


É inevitável que os produtos do museu despertem interesse e acabem por ser alvo de contrafacção no Interior da China. O site de comércio online Taobao é uma das plataformas em que se podem encontrar muitas imitações de rolos de fita adesiva “O Imperador Sabe” e de “Couves de Jade”. A ideia inicial do Museu do Palácio Nacional de Taipé era, à partida, lidar com esta situação fazendo uso do mecanismo de negociação entre ambos os lados do estreito, solicitando à Autoridade dos Direitos de Autor do Interior da China que conduzisse uma investigação. Mais tarde, o museu decidiu constituir o Grupo de Trabalho de Protecção dos Direitos de Autor do Museu do Palácio Nacional, com pessoal do departamento jurídico a prosseguir com as investigações, mesmo que os direitos de autor sejam violados no outro lado do estreito.


As indústrias culturais e a criativas do Museu do Palácio Nacional de Taipé desenvolveram-se graças à visão do seu director, que acompanhou as tendências mundiais. Percebeu-se que o museu precisava de progredir e acompanhar a mudança dos tempos.