Un Sio San

Un obteve a dupla licenciatura em Língua Chinesa e Arte (produção de cinema e televisão) da Universidade de Pequim e o duplo mestrado em Estudos da Ásia Oriental e Estudos da Ásia-Pacífico da Universidade de Toronto nas áreas de investigação em literatura e cinema. Ganhou o prémio de Henry Luce Foundation Chinese Poetry & Translation e foi poeta residente no Estúdio Criativo de Vermont nos EUA. Foi convidada a marcar presença em vários festivais internacionais de poesia tal como o festival realizado em Portugal e trabalhou como letrista da primeira opera interior original de Macau “Um Sonho Perfumado”. Publicou algumas colecções de poemas nos dois lados do estreito e tem-se envolvido no meio académico e em publicação por muito tempo, além de escrever colunas para meios de comunicação em Taiwan, Hong Kong e Macau.


Mook, a nova moda da leitura

35a edição | 10 2019

Sempre me interessei por revistas de lifestyle e cultura. Costumava ler títulos como a &Premium, Shopping Design, UNITAS, Monocle, Wallpaper*, City Magazine, entre outras.

 

Recentemente fiz um crossover para a COSMOPOLITAN China, combinando poesia e moda. Este crossover é a primeira vez que um número da COSMOPOLITAN China tem uma capa com áudio. A mulher da capa, a famosa actriz chinesa Zhou Xun, leu pessoalmente o meu poema Talking a Walk para aquele número da revista. Foram também produzidos vídeos de moda e podcasts, para acumular mais publicidade para este crossover nas redes sociais antes da publicação da revista. Este número crossover atraiu mais de 4,5 milhões de visualizações numa semana. Parece que as revistas tradicionais também estão a trabalhar para inovar o seu modelo de publicação.

 

Enquanto as revistas tradicionais estão em declínio, as Mook, um novo formato de revista, são as novas estrelas em ascenção. As Mook estão agora a ter um crescimento rápido em termos de quota de mercado e volume de publicação indústria livreira do interior da China. O formato Mook é originalmente do Japão e combina elementos de revistas e livros. Geralmente, as Mook abordam assuntos relacionados com a actualidade. Cada número oferecerá aos leitores artigos de fundo sobre um tema específico. Os fazedores das Mook presta muita atenção ao aspecto estético e à experiência de leitura. Quer seja na fase de brainstorming do tema, no pedido de conteúdo aos colaboradores, na edição de conteúdo, no design da Mook ou no seu marketing, cada fase do processo de produção requer que os editores tenham um sentido apurado do que é relevante e exige uma energia por parte dos editores. É por isso que a Mook é o formato de publicação que melhor revela as capacidades dos editores.

 

Na região da Grande China, as Mook chegaram primeiro a Taiwan. Em 2002, o site books.com.tw já tinha aberto uma secção de Mook, dizendo que “isto é para amigos com preferências especiais, maníacos que anseiam pelos conteúdos mais recentes e leitores sem fronteiras”. Em contraste com as Mook, os Zines são mais privados e há apenas um pequeno número de cópias de cada edição dos Zines. As Mook são, por isso, melhores a agregar uma comunidade e a criar o seu próprio ecossistema num momento em que a indústria de publicações está a ser desafiada pelas plataformas de we-media e por hábitos de leitura fragmentários.

 

No interior da China, as Mook começaram como alternativa às revistas publicadas, uma vez que é muito difícil pedir um número de série para publicação, algo que é exigido às revistas que são publicadas. Aos poucos as Mook foram ganhando popularidade, uma vez que cada vez mais editores viram as suas vantagens. A vantagem editorial das Mook passa pela sua capacidade de apresentar conteúdo de uma forma mais rápida e oferecer aos leitores conteúdos mais aprofundados. Além disso, têm um estilo editorial definido e apenas contêm uma pequena quantidade de publicidade, o que lhes permite construir uma base de leitores sólida. No que toca à publicação, as Mook podem utilizar os canais das editoras para colocar os seus números nas lojas físicas e nas plataformas online, em vez de estarem em bancas de jornais e revistas. As Mook podem também ser vendidas em livrarias e plataformas online durante períodos longos, umas vez que não têm de preocupar-se com o ciclo noticioso.


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Há mais de 100 Mook diferentes para o leitor escolher, como a Zhi China, Zhi Japan, WithEating, Hiyori Techo, Genuine, Lens e Typography, entre outras. Elas criaram uma bela paisagem no mundo editorial do interior da China. Juntamente com a promoção em diferentes aplicações, nas contas oficiais de Weibo e WeChat, elas conquistaram uma posição forte entre os leitores. Há também Mooks que se concentram na agenda cultural, como a Duku e a One Way Street, bem como Mooks centrados em literatura, como a Newriting (editado por Zhang Yueran), a O-pen (editada por Annebaby) e a One (produzida por Han Han), etc. Infelizmente, a O-pen e a One, extremamente populares no passado, deixaram de publicar novos números.

 

As Mook tornaram-se populares porque vendem estilos de vida em vez de conhecimento. No interior da China, as Mook visam principalmente leitores com idades entre 20 e 40 anos. Elas visam satisfazer a necessidades de estilo de vida da classe média e dos jovens hipsters no mercado local. A Zhi Japan, por exemplo, é uma Mook dedicada à cultura japonesa e acumulou um volume de vendas de mais de um milhão. O famoso autor de manga Yoshitomo Nara, o grande evento histórico da Restauração Meiji, o design japonês do jardim Karesansui, o ramen, a filosofia de vida japonesa dan-sha-ri e a tríade yakuza Yamaguchi-gumi, todos foram temas das Mooks da Zhi Japan, que ganhou um verdadeiro número de fãs. A Zhi China: The Folk Music, publicada em Novembro de 2016, fez uso da loucura à volta de como Bob Dylan ganhou o Prémio Nobel de Literatura e relatou histórias sobre a próspera cena de música folk na China, com palavras e imagens vibrantes. Esta Mook apresenta o desenvolvimento da música folk chinesa ao longo da sua longa história, desde a dinastia Qin. Zhi China: The Folk Music expõe seus leitores a opiniões de vários artistas famosos de música folclórica, mostrando os seus pontos de vista sobre música chinesa e estrangeira por meio de entrevistas e agregando informações fragmentadas sobre um tópico específico.

 

As Mook não conseguiram ganhar força em Taiwan, mas estão agora a prosperar no interior da China. Em comparação, as Zine, que promovem a publicação independente e celebram a exclusividade e o conteúdo de alta qualidade, são mais populares que as Mook em Hong Kong e Macau. De facto, não existem muitas Mooks (por exemplo, a O-Square e a Boozy Macau, entre outras) nas duas regiões administrativas especiais. As Zine foram gradualmente ganhando popularidade e até ligam comunidades, servindo como meio de comunicação que conta histórias e opiniões locais. Leitores de diferentes partes da região da Grande China têm preferências distintas no que toca a publicações. Isto mostra também a mecânica e o ecossistema diferenciados da indústria editorial do interior da China China, Taiwan, Macau e Hong Kong, que são dignos de mais investigação e pesquisa.

 

“Se queremos destruir uma pessoa, devemos incentivá-la a fazer revistas”─esta é uma piada antiga na indústria editorial. Numa era caracterizada pelos we-media e pela digitalização, talvez ler Mooks nos pusesse em maior sintonia com a cultura popular em mudança. De qualquer forma, as Mook seriam definitivamente um começo de conversa interessante.