Lam Sio Man

Nascida em Macau, atualmente a viver em Nova Iorque. Dedica-se a exposições independentes, à escrita e ao trabalho em educação artística. Em 2019, foi curadora da Exposição Internacional La Biennale Di Veneza, inserida nos Eventos Colaterais de Macau, China. Trabalhou no Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova Iorque, no Museu dos Chineses na América e no Instituto Cultural do Governo da RAEM. É licenciada pela Universidade de Pequim em Língua Chinesa e Artes, e mestre em Administração de Artes pela Universidade de Nova Iorque.

Actuar para crianças e adolescentes: sobre intercâmbio internacional e exportação cultural— Notas sobre a indústria americana de educação artística (Parte 1)

38a edição | 04 2020

Artes performativas para crianças e adolescentes—Segmentação da indústria das artes performativas


Para muitos centros de arte e comunidades dos Estados Unidos da América, as crianças e os adolescentes são os principais públicos das artes performativas. É por esse motivo que, em locais onde a indústria é bastante madura, não é incomum assistir à segmentação da indústria das artes performativas. Os espectáculos de artes performativas também representam uma parte importante das exportações culturais do país. Todos os anos, os EUA acolhem a iniciativa IPAY (International Performing Arts for the Youth), que visa promover espectáculos de artes performativas recomendados pelo próprio evento, bem como facultar uma plataforma de intercâmbio.

 

Este ano, visitei a IPAY pela segunda vez. E gostaria de partilhar, através deste artigo, parte daquilo que me foi dado ver no local.

 

Intercâmbio internacional

 

A IPAY é uma organização internacional que tem por objectivo construir uma plataforma para mostrar artes performativas destinadas a audiências jovens e para intercâmbio profissional. Entre os seus membros contam-se artistas e organizações de artes performativas de todo o mundo, espaços parceiros, organizadores de festivais de arte, agentes de artes performativas etc. Actualmente, os membros da IPAY são sobretudo da América e da Europa. Nos últimos anos, as agências coreanas têm importado diversas performances de qualidade da IPAY. Por outro lado, mais representantes de espaços artísticos do interior da China estão a deslocar-se à iniciativa que a IPAY promove em busca de bons espectáculos. Não restam dúvidas de que as comunidades artísticas da Ásia estão a reconhecer a importância da entidade e do evento homónimo que esta organiza.


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Performance coreana na IPAY—Doddle POP, pelo grupo Brush Theatre

Foto cedida pelo site oficial da IPAY


O evento IPAY é realizado em Filadélfia no início de cada ano. Numa semana intensiva, são apresentadas dezenas de excelentes exibições de artes performativas, que são divulgadas através de intercâmbios de mostras, recomendações de espectáculos e partes selecionadas de apresentações ou performances completas. Para espaços artísticos que exibam artes performativas, trata-se de uma oportunidade importante para a aquisição e importação de espectáculos. Este ano, a iniciativa atraiu quase 500 participantes, incluindo reconhecidos espaços artísticos que acolhem artes performativas, caso do Lincoln Center, de Nova Iorque, ou do Kennedy Center, de Washington, entre outros. Muitos artistas norte-americanos vêem o IPAY como uma grande oportunidade de encontro anual, pois o evento permite um intercâmbio mais próximo entre os participantes quando comparado com outras grandes plataformas de negociação de artes performativas. Isto permite que jovens trabalhadores desta indústria, como é o meu caso, entendam melhor as dinâmicas, a cultura e as tendências da indústria das artes performativas nos Estados Unidos.

 

Exportação cultural

 

Como plataforma internacional de artes performativas para intercâmbio e comércio, o IPAY é igualmente um lugar onde se assiste à competição entre os países tradicionalmente fortes na exportação da sua cultura e os candidatos emergentes, recém-chegados. Além de receber artistas e grupos independents, a iniciativa também acolhe representantes de estruturas governamentais. O Conselho das Artes do Canadá, por exemplo, figura como um dos principais patronos do IPAY desde que este foi fundado. Os governos da Escócia, dos Países Baixos e da Austrália, entre outros países, também foram patrocinadores das sessões e da vertente de intercâmbio da iniciativa. Parece evidente que os países ocidentais têm em elevada consideração esta semana de actividades. À medida que mais artistas asiáticos forem participando no IPAY, maior será a diversidade de artes performativas de todo o mundo que o evento acolherá e dará a conhecer.

 

Face às edições anteriores, o IPAY deste ano incluiu uma nova sessão, denominada FITA CHILE, que, ao longo de um dia, apresentou performances dos representantes daquele país latino-americano. Originalmente, FITA CHILE era uma feira de negociação de performances artísticas no Chile, mas a sua edição de 2019 foi cancelada devido à instabilidade política vivida no país. Felizmente, algumas das apresentações previstas para a mostra em Santiago do Chile encontraram palco no IPAY. Uma representante chilena assinalou, durante uma intervenção, que há três anos, quando ali se deslocou pela primeira vez, ela era a única artista do Chile a participar no IPAY. Para sua surpresa, ela conseguiu convencer o governo do Chile e a comunidade artística chilena a participarem no evento em conjunto, o que permitiu que comunidades artísticas dos Estados Unidos e de diferentes pontos do mundo vissem obras de qualidade oriundas daquele país. Não pude deixar de pensar que talvez a comunidade artística de Macau, que nos últimos anos se tenta expandir para mercados estrangeiros, pudesse fazer uso de plataformas como o IPAY para se internacionalizar. No entanto, como é evidente, para exportar produtos culturais, é necessário compreender bem o mercado-alvo e as operações a realizar. Analisarei este aspecto com maior profundidade no meu próximo artigo.