Lam Sio Man

Nascida em Macau, atualmente a viver em Nova Iorque. Dedica-se a exposições independentes, à escrita e ao trabalho em educação artística. Em 2019, foi curadora da Exposição Internacional La Biennale Di Veneza, inserida nos Eventos Colaterais de Macau, China. Trabalhou no Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova Iorque, no Museu dos Chineses na América e no Instituto Cultural do Governo da RAEM. É licenciada pela Universidade de Pequim em Língua Chinesa e Artes, e mestre em Administração de Artes pela Universidade de Nova Iorque.

Cuidando e aprendendo: o desenvolvimento da capacidade social e emocional na educação artística

42a edição | 12 2020

À medida que a influência da epidemia de Covid-19 continua e que as crianças e os adolescentes dos Estados Unidos da América enfrentam uma série de dificuldades sociais e emocionais, a Aprendizagem Emocional e Social (Social Emotional Learning, designada futuramente por SEL) tornou-se o foco de preocupação dos profissionais de educação, sendo que são os da área artística que estão a tentar activamente integrar a SEL no ensino. Vou partilhar neste texto alguns conhecimentos e pensamentos compilados recentemente.


O que é a SEL?

De acordo com a Cooperativa para a Aprendizagem Académica, Social e Emocional (CASEL), uma organização de investigação educacional dos Estados Unidos, a SEL refere-se ao “processo educativo através do qual todos os jovens e adultos adquirem e aplicam conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver identidades saudáveis, lidar com emoções e atingir objectivos pessoais e colectivos, sentir e mostrar empatia pelos outros, estabelecer e manter relações solidárias e tomar decisões responsáveis e carinhosas.” Dado que os seres humanos são criaturas socias e emocionais, enquanto habilidade social, a SEL é tão importante para o desenvolvimento futuro dos estudantes como a Matemática, as Línguas, a Ciência e as Artes. Este ano, com a epidemia em curso nos Estados Unidos e a ocorrência frequente de acontecimentos racistas, os adolescentes tiveram que enfrentar várias crises sociais, familiares e interpessoais. Nessa situação, muita mais importância é atribuída à SEL, que pode ajudar os estudantes a desenvolver uma atitude optimista e a lidar com as mudanças no seu ambiente de aprendizagem e de vida.


Como integrar a educação artística na SEL?

Para muitos profissionais de educação artística, a SEL é ainda um conceito desconhecido, porém, a própria educação artística é de facto muito adequada para desenvolver a capacidade social e emocional das pessoas. Por exemplo, a “expressão artística” relaciona-se com a compreensão e conhecimentos da vida social e a expressão emocional das pessoas; a “comunicação artística” ajuda as pessoas a entenderem-se mutuamente e a desenvolverem a sua empatia; e a “prática colectiva de artes” pode aprimorar a capacidade de colaboração e resolução de problemas das pessoas. Normalmente, no início da aula, o professor pode convidar os alunos a exprimirem as suas emoções actuais com recurso às palavras, à escrita, ao desenho, à música e aos movimentos, deixando-os prestarem atenção aos seus próprios estados emocionais e escutarem-se uns aos outros. Quando um aluno expressa emoções negativas, às vezes o professor não é capaz de lhe resolver imediatamente o problema, mas pode fazê-lo saber que as emoções negativas são naturais e que ele não precisa de se sentir culpado ou de reprimi-las para concluir a sua parte na aula. Na verdade, ao mostrar capacidade de escuta, tolerância, flexibilidade e empatia, o professor está a demonstrar às crianças uma boa capacidade social e emocional. Através das actividades artísticas inspiradoras e de grupo, os estudantes podem desenvolver mais as suas capacidades de comunicação, negociação e colaboração em grupo, e lidar com os problemas da vida de maneira criativa e construtiva.


Da investigação à aplicação

Durante os últimos vinte anos, as comunidades académicas e educacionais dos Estados Unidos acumularam muitos resultados de investigação e prática sobre a SEL. Entre eles, o último relatório de investigação da Fundação Wallace indicou que, para promover a SEL na escola, é primeiro preciso formar professores, administradores escolares e pais dos estudantes, porque muitos adultos têm a ideia errada de que a SEL é apenas para os estudantes ou apenas para os “estudantes com problemas”; mas o relatório afirmou que todos os jovens, crianças e até adultos podem melhorar a sua gestão emocional e a sua vida social através da SEL. Outro desafio para promover a SEL na escola é que, quando os alunos têm dificuldades sociais e emocionais, o profissional educacional precisa de abandonar o modo de ensino orientado para o desempenho académico, dando-lhe ouvidos e os cuidados necessários; de facto, várias investigações descobriram que a aplicação da SEL tem um efeito positivo no desempenho académico dos estudantes. O último aspecto que gostaria de partilhar é que os profissionais educacionais podem partilhar com os alunos as suas próprias dificuldades emocionais e sociais da sua vida pessoal, e, através disso, os alunos podem descobrir que enfrentar e partilhar os seus aspectos vulneráveis é o ponto de partida para estabelecer relações interpessoais e resolver problemas.


Agradecimentos:

À formação sobre a SEL dada pelo Departamento de Educação do Conselho Flushing de Cultura e Artes


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A estrutura da SEL (fonte: CASEL)