Cheong Sio Pang

Cheong vive em Pequim, trabalha em investigação académica e gosta de escutar música clássica. As suas publicações incluem An Oral History of the Concert Band in Macao. Ele é também o autor de Macau 2014 – Livro Musical do Ano e Macau 2015 – Livro Musical do Ano. Cheong adora aprender.


Artes para a humanidade

9a edição | 09 2015

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Foto cedida por Lo Man Chi


Há alguns meses dirigi a orquestra de uma escola local na Feira de Bandas de Macau no Centro Cultural. Ensaiámos muito para esta actuação. Houve definitivamente momentos de desilusão, porque o conceito de música clássica não é fácil de compreender. Mas foi encorajador perceber que os estudantes, inicialmente hesitantes, adquiriram uma certa compreensão—um pequeno passo, mas muito significativo. Como tal, os educadores de arte deparam-se com dois conceitos na busca de uma civilização humana espiritual: a popularização da educação artística e a contribuição desta para a humanidade.


A popularização da educação artística pode ser vista na cultura de bandas das escolas de Macau. Mas o que é preocupante é que a educação das artes está a enfrentar sérios desafios, como o rápido desenvolvimento da sociedade. Isso significa que a forma como as pessoas recebem a informação é cada vez mais fragmentada e temática. A substância é muito mais frágil do que os aspectos superficiais—uma realidade que também se reflecte no desenvolvimento da música. A música superficial e fácil de entender atrai muitos mais fãs do que os estilos mais abstractos, como é o caso da música clássica. Em Macau, a educação artística ocorre sobretudo nas escolas, onde os alunos têm mais liberdade para absorver novas coisas e não são influenciados por muitos outros elementos. Os recursos nas escolas também estão mais concentrados, o que permite aos estudantes focarem-se na aprendizagem sem que para isso sejam afectados pelas tendências da sociedade, e dando-lhes oportunidade de aprender num ambiente justo e livre. Além disso, quando terminam os estudos, os interesses desenvolvidos no âmbito escolar podem ser transportados para o caminho que escolherão percorrer.


Antigamente, a educação da música clássica era um privilégio que apenas as elites podiam sustentar. Mas hoje já não é assim e a aprendizagem musical tornou-se acessível a todos. Infelizmente, a família média ainda não olha para a educação musical clássica como uma necessidade e, em muitos casos, considera-a um luxo. Por isso, as aulas gratuitas de música nas escolas estão a atrair estudantes desse tipo de famílias e que nutrem um interesse por música. Mas mesmo que as limitações económicas estejam ultrapassadas, é ainda importante contar com o apoio da família. Por exemplo, o facto de a família reagir mal quando os estudantes praticam em casa vai reflectir-se negativamente nos alunos. Na realidade, aprender música clássica pode ajudar a revigorar o intelecto e a aumentar a criatividade. O professor Adrian North, da Universidade de Edimburgo, conduziu em 2008 um estudo com 36 mil apaixonados por música, descobrindo que quem ouve música clássica tem maiores níveis de criatividade do que quem escuta apenas música contemporânea. Estas pessoas são também mais pragmáticas. A Universidade de Northumbria, no Reino Unido, também levou a cabo uma experiência em que explorava a relação entre a música clássica, a memória e a capacidade de concentração. O estudo concluiu que, comparando o grupo de controlo e o grupo experimental, aqueles que ouviam música clássica revelaram ter melhor capacidade de memorização e maior produtividade no trabalho.


Como cada vez mais escolas estão a promover em Macau o ensino da música clássica, o apoio dos estabelecimentos de ensino é indispensável. É animador perceber que os professores estão inteiramente dispostos a apoiar os estudantes, mesmo que não sejam alunos daquela escola. Com isto, posso constatar que a música ajuda a quebrar barreiras entre as pessoas, o que prova que a educação artística é uma espécie de alimento espiritual.