Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Estilo de Xangai

5a edição | 05 2015

Quando há uma década cheguei a Xangai, na cidade não se falava muito sobre design. Na realidade, esta cidade que em tempos foi conhecida como uma das mais cosmopolitas da Ásia, já definia tendências desde os anos 1930. Quando foi construído, o edifício de Huamei era uma construção à frente do seu tempo, e Laszlo Hudec projectou muitas das estruturas memoráveis e modernas da cidade; I.M. Pei foi inspirado a seguir a carreira de arquitecto pelo design dos edifícios de Xangai; e Eileen Chang, não era ela também designer de moda? Chang desenhava muitas das roupas que usava, depois procurava os materiais certos e entregava-os a um costureiro para que fizesse todos aqueles modelos que só ela vestia com estilo e graciosidade.


Após mais de meio século num estado quase dormente, Xangai começa agora a despertar e a sacudir a poeira acumulada. E com o passado glorioso que se conhece, a cidade conseguiu rapidamente recuperar a antiga fama de metrópole internacional e em permanente movimento. Os amantes do design estão condenados a viver felizes em Xangai. Quando em Março visitei a cidade, uns amigos sugeriram uma ida ao Museu Long, na zona Ocidental do Bund. O museu está situado numa área privilegiada – o Parque Florestal Binjiang, no distrito de Xuhui. Eu tinha o hábito de correr nesta parte da cidade, porque tem um ambiente fantástico e porque é tão difícil encontrar em espaços sossegados em Xangai.


O Museu Long, fundado pelo controverso e milionário casal de coleccionadores Liu Yiqian e Wang Wei, está repleto de peças que os dois acumularam ao longo dos anos, incluindo algumas das mais caras obras de arte contemporânea chinesa. O edifício foi desenhado por uma das empresas actualmente mais reconhecidas no Interior da China, o Atelier Deshaus. Os arquitectos conservaram uma estrutura de 100 metros de comprimento, usada em tempos para o transporte de carvão, e utilizaram bastante cimento à vista na concepção do museu, em homenagem ao património desta área. Próximo do local encontra-se também o Museu Yuz, fundado pelo magnata indonésio Budi Tek. A estrutura, iluminada e transparente, tornou-se a casa de várias colecções que adquiriu por todo o mundo. Os entendidos em design saberão de imediato que o projecto do edifício pertence ao arquitecto Sou Fujimoto.


Graças à construção do Kerry Centre, o bairro de Jingan – perto da antiga casa de Eileen Chang – tornou-se num local muito frequentado em Xangai. O restaurante Calypso, no Hotel Shangri- La, serve cozinha mediterrânica, mas é a decoração que o torna num espaço ímpar. Os interiores em madeira remetem-nos para a Ásia ou Sul da China através de uma constante utilização de bambu nos pilares e de outras decorações complexas. As paredes exteriores e o telhado são feitos de vidro e conferem à estrutura maior transparência e leveza. Em dias de sol, abrem-se as janelas e o telhado, e as barreiras que separam o espaço exterior do interior tornam-se quase imperceptíveis. Quando à noite as luzes se acendem, a estrutura assemelha-se a uma caixa de jóias luminescente. O arquitecto desta obra é Shigeru Ban, vencedor do Prémio Pritzker no ano passado.


Além dos arquitectos internacionais, também os profissionais locais começam a entrar em cena na cidade. A população de Xangai, consumista e muito ligada à moda, é uma natural fonte de inspiração para os arquitectos. Pessoalmente, gosto do design da Urban Tribe, que considero simples mas elegante. O responsável desta marca de roupa é um amigo que tenho há muito tempo em Xangai e que percorre o mundo à procura de materiais e de inspiração, criando peças de vestuário com um traço asiático discreto. Outra marca de sucesso é a Zuczug de Wang Yiyang, que conta com lojas em centros comerciais de Xangai e Pequim. As suas criações valorizam o corte e procuram ser minimalistas e assertivas ao mesmo tempo. As peças destes dois designers de Xangai nunca são exageradas e estão extremamente bem concebidas, algo que na China é muito raro nos dias que correm.