Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


Uma revolução virtual

6a edição | 06 2015

A tendência global de crescimento dos mercados financeiros não é apenas excitante para os investidores mas para todos, uma vez que as notícias da bolsa de valores podem ser bastante divertidas. A famosa actriz chinesa Zhao Wei comprou em Dezembro do ano passado uma parte da Alibaba Pictures (1060) por mais de três mil milhões de dólares de Hong Kong, a 1,6 dólares por acção. No  momento em que escrevo este texto, o preço médio de compra subiu para quatro dólares. Estima-se que, neste espaço de tempo, Zhao tenha arrecadado cerca de cinco mil milhões de dólares. Claro que uma pessoa pode argumentar que existem várias razões para a valorização das acções, mas o investimento de Zhao reflecte as grandes expectativas que existem em relação aos serviços audiovisuais da internet no Interior da China. Depois de o grupo Alibaba ter adquirido a participação maioritária da Alibaba Pictures em Março de 2014, o grupo anunciou novas estratégias de negócio na área do crowdfunding (financiamento através de milhares de utilizadores da internet) do cinema, produção, marketing e serviços de distribuição, de forma a acelerar a sua expansão à indústria do entretenimento.


A expansão da Alibaba Pictures faz-me lembrar a Netflix, a distribuidora da mais comentada série política norte-americana, House of Cards. Trata-se do primeiro programa original a ser produzido por um fornecedor de serviços audiovisuais via internet on-demand. O sucesso de House of Cards resultou numa grande expansão da empresa, que apostou na produção dos seus próprios conteúdos. A Netflix veio desafiar o modelo de negócio tradicional dos canais de televisão, permitindo que os assinantes vejam, pausem e recomecem a ver programas a qualquer altura, em qualquer sítio e utilizando diferentes aparelhos. Além disso, em vez de transmitir um programa por semana, toda a temporada da série House of Cards fica disponível no dia em que estreia. Assim, o público pode acompanhar a série ao seu próprio ritmo.


A Netflix foi concebida para se adaptar aos hábitos e padrões de comportamento dos internautas. Através da análise das preferências dos espectadores—em termos de género, actores, enredo, localização geográfica, aparelhos de visualização—, da classificação e dados fornecidos por outras entidades e das opiniões deixadas nas redes sociais, a Netflix consegue prever a resposta dos assinantes ainda antes de a produção começar. Ao passo que as estações tradicionais de televisão ou as empresas de cinema ainda dependem da recolha de dados realizada após o lançamento de cada produção, a Netflix está certamente a tentar algo de novo e vanguardista.


A internet não está apenas a mudar a televisão e o cinema, mas todos os aspectos da animação, música, publicação e de outras indústrias culturais. Desde a distribuição à produção, passando pelo casting à criação de conteúdos, as mudanças são óbvias. A transformação da Netflix, que passou de fornecedora de vídeos online a distribuidora de programas originais, é um exemplo para quem faz cinema na China. A forma como recebemos informação, os nossos padrões de comunicação, entretenimento e consumo são moldados e transformados pelos avanços da internet, que hoje tem mais que ver com a qualidade do serviço do que com a quantidade de serviços disponíveis. A internet também é um produto e não apenas um meio de publicidade. A sua base de clientes está a aumentar—desde a geração mais nova que adora produtos de alta tecnologia, passando pelos reformados e leitores de livros electrónicos, até pessoas doentes que procuram diagnósticos online. Estamos a testemunhar e a enfrentar uma revolução virtual, que está a afectar as nossas vidas cultural, económica e politicamente.