Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Pólos criativos em Banguecoque

13a edição | 02 2016

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Pensei que tinha chegado a uma fábrica de compotas, quando vi o nome da empresa. Na verdade, o nome reflecte a visão que o designer tem deste lugar: como um improviso de uma banda de jazz, este espaço é o catalisador de ideias inovadoras. O meio envolvente pode moldar o comportamento humano. Quando uma pessoa vive num ambiente completamente regulamentado, a sua mente é prisioneira do conforto e da eficiência. Por outro lado, se uma pessoa viver num labirinto, talvez tenha nisso o incentivo para descobrir e explorar.


A Fábrica de Compotas (Jam Factory) não está numa localização conveniente, mas ir até lá faz parte da experiência. É possível chegar lá apanhando um barco que parte do porto junto ao hotel Sheraton, nas margens do Rio Chao Phraya. A Fábrica de Compotas fica num edifício industrial desactivado, que costumava servir para o fabrico de baterias. Duangrit Bunnag, um designer proeminente da Tailândia, descobriu este pedaço de terra desperdiçada quando estava à procura de um novo escritório. Manteve a estrutura original da fábrica, as figueiras de bengala e as suas raízes nos jardins, e as marcas históricas da fábrica. Quando estava no processo de renovação do espaço, teve uma série de ideias, que finalmente acabaram por se tornar realidade. Restaurantes, cafés, livrarias e lojas dedicadas ao lifestyle ocupam agora aquele espaço. Um projecto criativo de iniciativa privada tem normalmente mais personalidade e carácter devido ao carisma e talento do seu fundador. Tem, no entanto, a pressão de também se tratar de um negócio. Para lidar com isso, a Fábrica de Compotas organizou uma série de eventos criativos e culturais, bem como feiras, pouco depois de abrir portas, com o intuito de atrair visitantes e de se estabelecer como um lugar da moda em Banguecoque.


Para quem quer saber mais sobre designers tailandeses, as lojas conceptuais da Fábrica de Compotas podem dar algumas pistas. Produtos concebidos por novos talentos estão em exposição nas lojas e incluem mobiliário, acessórios para o lar e produtos alimentares. O Thinkk Studio, o Studio 248 e o Labrador são sem dúvida marcas jovens e emergentes a não perder de vista. Reparei que os designers tailandeses de acessórios para casa estão gradualmente a passar dos produtos exóticos e tradicionais para uma abordagem mais global. Um desses profissionais disse-me que os jovens designers estudam normalmente no estrangeiro e são expostos a novas culturas. Quando regressam à Tailândia, ajustam as suas ideias de design de acordo com o contexto local. Os elementos locais são menos evidentes e é dada ênfase à modernidade. Muitos produtos são concebidos com um toque japonês ou escandinavo. Ao fazerem isto, os seus produtos tornam-se mais facilmente apelativos no mercado global. As fracções residenciais estão a ficar cada vez mais pequenas em Banguecoque. O design de mobiliário tem, por isso, de ser simplista e pragmático. Os tamanhos do mobiliário têm também de ser reduzidos. Este novo design tem atraído pessoas de Singapura, Malásia, Hong Kong e Taiwan, que compram mobília na Tailândia. Alguns retalhistas a operar na Ásia começaram também a vender mobiliário produzido na Tailândia.


Banguecoque é uma cidade em rápido crescimento, mas falta-lhe planeamento urbano. Não há espaços públicos de qualidade onde as pessoas possam caminhar e o mais provável é acabar a passear em centros comerciais. Estas áreas altamente comerciais são vistas como espaços públicos em Banguecoque. Não faltam centros comerciais gigantescos por toda a cidade, todos com carácter e posicionamento distintos. Nos últimos anos, centros comerciais dedicados aos design têm aparecido por todo o lado e não têm poupado esforços no apoio aos designers locais, acolhendo lojas conceptuais geridas por talentos locais. Inaugurado a meio do ano passado, o Emquartier é um dos lugares mais badalados de Banguecoque. Desenhado pelo atelier Lesser Architecture, de Nova Iorque, o Emquartier tem umas extravagantes paredes curvadas, um jardim exterior e zonas verdes, dando à cidade os muito necessários espaços com vegetação. Consta que os espaços verdes do Emquartier são duas vezes superiores aos de outro centro comercial. Além de lojas de luxo, este centro comercial também tem lojas de designers locais. A Qurator, por exemplo, tem uma área designada à apresentação de trabalhos de estilistas locais. A minha loja favorita chama-se Another Story, fica no quarto andar e lá podemos encontrar mais 230 marcas de todo o mundo. A loja conta também com muitas marcas tailandesas. Cerca de 70 marcas são de produtos concebidos localmente, incluindo mobiliário, acessórios para casa, material de escritório e moda. Os viajantes que gostam de acessórios de design encontrão ali muita coisa útil e a bom preço, e testemunharão o poder inovador da Tailândia.