Rachel Mok

Natural de Hong Kong, Rachel apaixonou-se pelos Tat Ming Pair e pelo Britpop durante a escola secundária e, desde essa altura, desenvolveu um interesse profundo pela cultura pop. Depois de concluir os estudos na Escola de Jornalismo da Universidade Baptista, começou a escrever para várias publicações em inglês e chinês de Hong Kong. Rachel é actualmente editora executiva da plataforma de música online Bitetone e directora de eventos da Cuetone. Adora viajar, batatas fritas picantes e cor de laranja. Odeia esperar pelo autocarro.


Misturas e combinações musicais

11a edição | 11 2015

07_莫翠儀_01.jpg


Ao longo destes anos de trabalho na Bitetone, criei laços de amizade com vários músicos e conheci muitas pessoas da indústria da música. Com o gradual crescimento da popularidade da Bitetone, somos por vezes abordados por organizações comerciais ou grupos de caridade para colaborar e planear eventos relacionados com música, workshops e artigos de fundo. Sabe-se que muitas pessoas ainda dizem que o mundo da música independente equivale a bandas rock ou a cantautores com uma guitarra. Por essa razão, ao planear diferentes espectáculos de música, queremos mostrar vários géneros musicais ao público. Por exemplo, em Hong Kong existe o grupo de reggae Sensi Lion, e os Gadjo Station, que tocam gypsy jazz da Europa de Leste. Nos últimos anos, a música popular também se tem tornado mais conhecida. Músicos como Hakgwai, Chor, Interzone Collective, entre outros, utilizam instrumentos da música popular, como o didjeridu,  handpan, berimbau de boca e o pandeiro, apresentando às pessoas de Hong Kong a cultura tradicional que está por trás da música e, ao mesmo tempo, ajudando à purificação da alma através destes tipos de música espiritual.


Associar grupos musicais de diferentes estilos e características é uma experiência que gostamos de fazer. O círculo musical não é muito grande e muitos músicos já se conhecem uns aos outros. Fazer de vez em quando um cruzamento de estilos pode ser divertido. No último Outono fomos convidados para organizar um concerto à tarde no TaiKoo Place Via Fiori. Convidámos HeartGrey, a sensação local do beatbox, para actuar com o cantor Kurt. De repente ocorreu-nos: não seria mais divertido misturar música à capela com beatbox? Então encontrámos um grupo de música à capela para se juntar a este cruzamento. No primeiro ensaio, HeartGrey lançou “automaticamente” alguns efeitos sonoros de beatbox, como o som de gaivotas e monções num intervalo menor de estilo chinês e nós soubemos de imediato que esta seria uma combinação incrível. No final também tocaram Happy, de Pharrell, e quando isso aconteceu muitas crianças começaram a dançar a música. Houve uma química entre os músicos e o público, e também entre os próprios artistas.


Este ano vamos voltar a organizar o evento todas as quintas-feiras de Outubro e Novembro. Decidimos ser ainda mais ousados e sugerimos uma série de espectáculos que cruzem diferentes indústrias. No final, decidimos manter o foco na música e convidámos conjuntos surpreendentes para a fusão. O grupo de música Chochukmo junta funk, math rock e jazz às suas criações. Não seria ainda melhor se adicionássemos um toque jamaicano? Então sugerimos cautelosamente uma colaboração com o músico reggae Mouse FX. Eles concordaram e disseram que aguardavam com expectativa as surpreendentes melodias que daí poderiam resultar. Os dois jovens cantautores Michael Lai e Kevin Kaho Tsui começaram como artistas de rua, com diferentes estilos e até linguagens. Mas, se olharmos atentamente, percebemos que ambos escrevem músicas sobre histórias locais de Hong Kong e que seria interessante uma actuação conjunta.


E já que falamos de combinações musicais interessantes, penso que o novo álbum de Sandee Chan, com letras dos mestres Tsai Ming-liang e Luo Yijun, é um projecto de colaboração pouco comum. Também o “SYNC”, que é o álbum mais recente do músico digital de Hong Kong Choi Sai-ho, combinou várias vozes em algumas músicas. Eu recomendo sobretudo Perfect Equality, uma parceria com o vocalista principal dos Chochukmo, Jan Curious – é uma música ousada, que nos atrai para uma espécie de lugar sem retorno, e que nos faz querer ouvir sem parar as diferentes camadas dos efeitos musicais e o significado das letras. Recomendo a todos que a ouçam.