Ashley Chong

Contabilista de profissão, Ashley faz parte de diversas associações de anime e banda desenhada em Macau. Foi ela que criou, ilustrou e desenhou a tira de banda desenhada do jornal Diário de Macau, no começo da década de 1990. Mais tarde, tornou-se autora de comics e presentemente é editora da MIND², uma revista de banda desenha publicada pela Comics Kingdom. Ashley participa também na organização da Exposição de Animação, Comics e Brinquedos de Macau, um evento organizado pela Macau Animação e Quadrinhos Aliança.

Sobre Manga Yonkoma

13a edição | 02 2016

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Foto cedida pela Hyper Comics Society


Nos últimos anos, vimos surgir alguma manga yonkoma menos tradicional em algumas páginas editorais e de opinião de Macau – literalmente, manga yonkoma significa “manga de quatro vinhetas”, consistindo num formato de tiras de banda desenhada com quatro painéis de igual tamanho. Gostaria de chamar-lhe “nova manga yonkoma”. Primeiro, apareciam esporadicamente nas redes sociais. Depois, revistas de banda desenhada começaram a convidar alguns desses artistas para desenharem, e associações de banda desenhada apoiaram firmemente esses artistas para que pudessem apresentar novas exposições. Agora, os seus trabalhos podem ser vistos na internet e nos jornais, e finalmente são publicados em livro.


Macau tem tido durante estes anos as condições ideias para formar artistas de banda desenhada. Diferentes tipos de meios de comunicação também se têm mostrado disponíveis para publicar os seus trabalhos. A manga yonkoma não precisa de muito espaço de paginação, estes trabalhos de pequena escala começaram a estar na moda e podemos vê-los um pouco por toda a parte.


A “nova manga yonkoma” é diferente da tradicional. Primeiro, no que toca ao layout. Enquanto a tradicional é mais organizada e simples, esta nova forma de manga yonkoma é exactamente o oposto. Em segundo lugar, a coerência de conteúdo e de estrutura não é necessariamente um requisito desta nova manga yonkoma. Em vez disso, são utilizados esquemas de cores ricos e linhas finas; alguns artistas até desenham as vinhetas como se fossem sérias longas e corridas, e usam software gráfico para criar efeitos visuais mais apelativos. A maior parte dos trabalhos são de comédia, mas nem todos são histórias completas. Mesmo que o sejam, não é necessário que o enredo da história tenha um fluxo e refluxo fortes, nem é exigido um final dramático. Por vezes, esta nova forma de banda desenhada apenas precisa de apresentar uma série de imagens engraçadas. Enredos entrelaçados, estilos simples e subtis de desenho, e histórias com uma mensagem – aspectos principais da manga yonkoma tradicional – já não são o mais importante.


Como julgar a qualidade da manga yonkoma? Tem sido dito que um trabalho é um falhanço se for possível compreender a história lendo apenas o texto mas não prestando atenção às imagens. Agora, alguns artistas reusam seguir a tradição e preferem adicionar muitos diálogos ou narração, transformando o seu trabalho numa pequena série de manga ou mesmo numa série de ilustrações. Não ficam amarrados a padrões já estabelecidos. Acreditam que, desde que a manga tenha quatro vinhetas, então é manga de quatro vinhetas.


No que toca aos temas da nova manga yonkoma, o céu é o limite. As mudanças sociais, o desenvolvimento económico, os avanços tecnológicos, a expansão do nosso estilo de vida e dos nossos horizontes, bem como os valores em constante mudança e os modos de pensar, tudo isto nos dá mais ideias e nos faz pensar mais que os nossos predecessores quando toca a criar trabalhos artísticos. Assuntos político-sociais, pequenos episódios do dia-a-dia, os nossos sentimentos, bem como a aplicação da tecnologia e a interpretação de símbolos textuais, etc., tudo pode ser fonte de ideais inspiradoras para a criatividade.


A banda desenhada tem uma função na sociedade: gerar ruído. Quando comparados com os seus antecessores, os artistas contemporâneos de banda desenhada são mais facilmente influenciados por tendências das regiões vizinhas e já não estão restringidos aos meios convencionais de publicação. Sem obstáculos ou apreensão, os artistas têm mais liberdade para satirizar, para criticar e para pensar em voz alta.


Em Macau, os artistas não fazem dinheiro com a sua arte. O mesmo se aplica aos artistas de banda desenhada. Desenham porque adoram desenhar, e não pensam ver as linhas como limites. Os leitores são provavelmente da mesma geração que os artistas, o que significa que estão no mesmo cumprimento de onda e que se entendem mutuamente. Os artistas desenham manga yonkoma de acordo com aquilo que gostam. Se julgarmos os seus trabalhos à luz dos parâmetros tradicionais, podemos sentir que não são aquilo que nos interessa. No entanto, o que podemos fazer é seguir adiante, tal como tudo à nossa volta continua a mudar. E quando certas coisas desaparecem, desaparecem para sempre. Por isso, mantenhamos as nossas mentes abertas.