Cheong Sio Pang

Cheong vive em Pequim, trabalha em investigação académica e gosta de escutar música clássica. As suas publicações incluem An Oral History of the Concert Band in Macao. Ele é também o autor de Macau 2014 – Livro Musical do Ano e Macau 2015 – Livro Musical do Ano. Cheong adora aprender.


Mais Diversificação nas Artes Performativas

16a edição | 08 2016

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No final de Maio, a Fundação Macau e a Academia de Literatura e Arte da Federação Chinesa de Círculos Literários e Artísticos convidaram conjuntamente um grupo de profissionais experientes e importantes de Macau para participar num seminário sobre artes em Pequim. Fui um dos convidados e pude conhecer alguns líderes artísticos relevantes de Macau e Pequim. Esta viagem de sete dias contemplou diversas actividades de intercâmbio, seminários temáticos e projecções, mas gostaria de destacar como exemplo duas das actividades: o espectáculo da Orquestra Sinfónica Nacional da China no Festival de Ópera 2016, realizado no Centro Nacional de Artes Performativas; e a conversa com Nao Nao, responsável pelo Drum Tower West Theatre, e Ge Dali, director-adjunto do Teatro Nacional da China, durante a qual discutimos a apreciação das artes performativas em Pequim e no interior da China.


Tendo por base o Centro Nacional de Artes Performativas, o Festival de Ópera apresentou várias obras-primas. No entanto, a competição entre os músicos acabou por prejudicar a performance, ao ponto de parecer faltar textura à música. Além disso a voz feminina em alto foi abafada pelo coro. As muitas adaptações de óperas ocidentais atraíram audiências significativas, acima de tudo grupos de estudantes. Infelizmente, a conduta do público durante o evento foi insatisfatória, com pessoas a tossir, a mexer nos seus sacos ou mesmo a conversar entre si. Alguns espectadores decidiram sair durante os concertos, enquanto outros pareciam basicamente apáticos. Ainda mais constrangedor foi o facto de algumas pessoas aplaudirem durante o espectáculo. Posto isto, o comportamento do público prejudicou certamente o evento.


Por outro lado, Summer’s Dance, espectáculo apresentado pela Orquestra Sinfónica Nacional de China, pode ser considerada uma desilusão. Na verdade, apesar de a qualidade das orquestras no interior da China ter melhorado significativamente, e de as suas performances de palco poderem ser consideradas excelentes, a ausência de um público que saiba apreciar pode ter um impacto adverso no panorama das artes performativas.


No meu diálogo com o director-adjunto no Teatro Nacional da China, Ge referiu que as artes performativas de Macau sofrem da falta de produções regulares. Afinal de contas, os grupos artísticos não podem depender de fundos governamentais, uma vez que o governo apenas pode subsidiar espectáculos ocasionais. A sustentabilidade do teatro tornou-se uma parte importante do desenvolvimento artístico. Falámos da possibilidade de apresentar peças de teatro em cantonense no interior da China, mas Ge sente que é mais importante ter peças em mandarim, para atrair público. No entanto, a minha opinião é que o teatro em cantonense deve ser preservado. Se o público-alvo forem as audiências do Delta do Rio das Pérolas, então há uma procura por produções em cantonense. Um ponto que vale a pena mencionar é que o Teatro Nacional é financiado pelo governo e, de acordo com Nao Nao, responsável pelo Drum Tower West Theatre, o seu é o único grupo de artes performativas de Pequim financiado por privados. As salas de espectáculo são obtidas junto do governo a baixo custo e por isso há alguma facilidade no que toca ao arrendamento. Sendo que este grupo de teatro apresenta apenas um reduzido número de produções por ano, arrenda depois a sala a outros grupos para sete ou oito espectáculos, de modo a equilibrar as contas. Apesar de ter um número considerável de espectadores, a sobrevivência do teatro neste clima continua a ser difícil.


O mercado das artes performativas de Macau tem a vantagem de ter uma audiência mais sofisticada, quando comparada com a do interior da China. Além disso, com o apoio do governo às artes performativas, estes grupos encontram espaço para crescer sustentadamente. Os aspectos negativos são a dimensão reduzida do mercado e a falta de alcance internacional, o que faz com que vários grupos de teatro compitam por audiências. Este tipo de competição não é necessariamente bom para o desenvolvimento de um bom ambiente de mercado. Idealmente, deveria ser encorajada uma maior diversificação. Olhando para o futuro, a ênfase deve estar em fazer crescer as audiências. Com vista ao mercado do interior da China, o público do Delta do Rio das Pérolas é importante para dar a estes grupos mais espaço para que se possam expandir, com digressões no interior da China a serem uma possibilidade que deve ser considerada.