Rai Mutsu

Poeta, romancista e colunista de Macau. Os seus trabalhos publicados incluem Passagem de Ano no Largo de São Domingos, uma colecção de contos, Roda Gigante e Um Mundo Ficcional, uma colecção de poesia e prosa; e uma série de vídeos promocionais sobre a literatura de Macau, publicada em conjunto com o poeta Cheang Ga Aya.


Valores promocionais dos filmes e registos históricos

12a edição | 12 2015

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Na era das redes sociais, os microfilmes ou os teasers são extremamente importantes para a promoção de quaisquer produtos. Para muitas editoras, os vídeos tornaram-se num meio importante para o marketing na área da edição. A última etapa da promoção da literatura, música, cinema e teatro voltou novamente a ser feita através de um suporte visual. Se é usada uma “hard promotion” (anúncios publicitários dos produtos) ou “soft marketing” (posicionamento dos produtos, microfilmes), isso vai depender do orçamento para a promoção e da ideia.


Em suma, o sucesso de um filme envolve muito mais do que imaginamos. Hoje em dia, a leitura de romances e poesia já não é uma actividade dominante de lazer, embora as obras dos romancistas e poetas ainda tenham o seu valor – e muitas delas são boas leituras. Para que sejam vistos e atraiam um público para a leitura dos seus livros, a visualização é o único caminho. Assegurar o apoio do sector cinematográfico é claramente o caminho mais directo.


Além disso, muitos agentes vão ler e recomendar bons livros aos cineastas que representam, para que estes comecem um projecto de adaptação de uma obra literária ao cinema. Existem realizadores que podem ler e descobrir sozinhos bons argumentos passíveis de serem filmados, e entrar em contacto com o autor. Já no que diz respeito ao complicado processo de adaptação, encontrar os profissionais adequados e experientes para fazer a ligação das ideias entre os autores e cineastas, e visualizar os guiões, também é um tema que vale a pena discutir.


Existe actualmente uma grande carência de profissionais a trabalhar na indústria cinematográfica de Macau em posições difíceis como, por exemplo, a de argumentista. Parece que os cineastas estão mais interessados em filmar as suas próprias histórias e nunca pensaram em colaborar com o sector literário para criar mais situações vantajosas de cooperação intersectorial. As histórias escritas pelos realizadores são corrigidas por argumentistas profissionais; depois de um trabalho literário estar terminado, pode ser transformado num guião visual pronto a ser filmado através de adaptações ou de argumentistas. Este é talvez um aspecto que precise de ser resolvido urgentemente de forma a melhorar a qualidade dos filmes. É certo que não existem muitos escritores em Macau com capacidade para fazer adaptações ou trabalhar como argumentistas – este é um problema real. Para unir as pessoas do sector artístico, gerar maior impacto através da visualização e, por sua vez, atribuir maior valor aos produtos individuais, é necessária uma maior implementação e intercâmbio para que a cooperação intersectorial se venha a transformar gradualmente em algo comum.


Inicialmente, o objectivo de fazer o microfilme When Felicity Calls passava pela promoção do livro Entrevistas dos escritores de Macau II. A publicação destas entrevistas pretende deixar dados históricos à literatura de Macau. O verdadeiro resultado alcançado pelo microfilme foi que desvendou as máscaras de alguns antigos escritores e legou à história da literatura de Macau alguns registos visuais emocionantes. Este era o nosso objectivo inicial e parece que todos os escritores participantes e os seus fãs gostaram muito deste microfilme. Penso que este microfilme poderá continuar a ser utilizado nas próximas feiras literárias, quando se estiver a promover a literatura, ou em novos lançamentos de livros.


Da perspectiva da história da literatura, espero certamente ver mais obras visuais como The Inspired Island e o documentário Farming on the Wasteland, dirigido pela realizadora de Macau Choi Ian Sin. Ao registar o processo de escrita e a experiência de vida dos autores, estes filmes ligam a vida à cidade e, ao assistir a estas obras, as pessoas podem sempre inspirar-se para os seus próprios trabalhos. Já no que diz respeito ao cruzamento entre a literatura e o cinema, encorajo os meus colegas e amigos que trabalham nos sectores cinematográfico e literário a continuarem a prestar atenção uns aos outros e a descobrir mais pontos de cooperação, com o objectivo de criar novos grandes produtos e atrair mais público. Actualmente, o conto Youshan Meng de Chou Tong e a novela Love is Colder Than Death de Pierre Wong já entraram no projecto de criação de Macau. Eu estarei muito atento aos leitores.


(Série “Quando a literatura se encontra com o cinema; quando o cinema se encontra com a literatura” – parte 3)