Johnny Tam

Realizador teatral e director artístico do Grupo de Teatro Experimental de Pequena Cidade. Viveu e trabalhou em Xangai e Berlim. As obras recentes incluem O Sr.Shi e o Seu Amante Lungs.


São urgentes políticas de apoio para grupos profissionais de artes perfomativas

35a edição | 10 2019

Após muita expectativa, o Instituto Cultural (IC) optimizou finalmente o Esquema de Subsídios para Actividades e Projectos Culturais de 2020. As principais mudanças no esquema de subsídios para peças de teatro são as seguintes:

1. O subsídio máximo aumentou de MOP250.000 para MOP350.000;

2. Foram adicionados programas de apoio de dois e três anos para grupos de artes performativas (incluindo um programa de arte comunitária);

3. Aumentou a pontuação base;

4. No máximo, cinco programas serão aprovados e subsidiados (para as actividades do plano anual).


Do meu ponto de vista, esta política de subsídios para a comunidade de artes performativas de Macau deveria ter chegado dez anos antes. Em 2004, o preço da habitação na cidade subiu 12 vezes, enquanto o salário dos funcionários públicos aumenta a cada ano ou a cada dois anos. A quantidade de dinheiro fornecida por esta política de subsídios seria suficiente apenas em 2010, considerando a inflação. Se considerarmos o custo médio da produção de um espectáculo em Macau desde 2015, verificamos que varia entre MOP380.000 e MOP500.000, sem cobrir o orçamento de promoção e de aluguer do espaço. Sem dúvida que o IC sabe definitivamente dinheiro e recursos humanos são necessários para uma produção de qualidade. Não se sabe porque é que o montante máximo de subsídio atribuído pelo IC ainda é de MOP250.000 em 2019. Embora o valor máximo do subsídio tenha aumentado para MOP350.000 em 2020, não é ainda um valor suficiente que possa ajudar os grupos de artes performativas e os artistas profissionais a concretizar as suas ideias. Mas a realidade é que haverá ainda assim muitos grupos profissionais de artes performativas e artistas individuais a candidatar-se ao esquema de subsídios. Não se sabe quando é que o IC optimizará novamente esta política. Afinal, como podemos esperar que os grupos de artes performativas usem um máximo de MOP350.000 para concluir uma peça de teatro e que tal cubra os custos de produção, escrita, custos administrativos, técnicos, aluguer de espaço, equipamento e promoção?

 

A criação de políticas de apoio que possam ajudar grupos de artistas performativas locais e artistas individuais a prosperar é a maneira mais eficaz de melhorar a indústria cultural e artística. É importante diferenciar entre produções artísticas profissionais e produções amadoras, a fim de melhor ajudar a desenvolver a indústria cultural. Mesmo que possamos convidar produtores e proprietários de teatros da 42nd Street Broadway em Nova Iorque para o Festival de Artes de Macau, para assistir a produções locais, é improvável que eles encontrem produções nas quais desejem investir. Olhemos para a Ásia. E no que toca à Região da Grande Baía ou mesmo à indústria de teatro de todo o país? Ainda é difícil atrair investidores nessas regiões, já que a capacidade média dos teatros no interior da China é superior a mil lugares. Em Macau, as produções teatrais ainda lutam para cobrir os custos de pequenas e médias produções. A maioria dos programas de intercâmbio da indústria cultural que temos em Macau centra-se em oferecer oportunidades para artistas e produtores locais visitarem teatros noutros lugares, em vez de facilitar conversas e colaborações significativas.

 

Os jovens talentos profissionais estão agora a chegar aos 30 anos, e já não estão no seu melhor. Ainda pior: a difícil situação que a indústria cultural enfrenta em Macau permanece inalterada, o que é incrivelmente frustrante. É verdade que os recursos para um maior desenvolvimento, como instalações, espaços de espectáculo e uma audiência de base, entre outros, são limitados. Macau pode ainda trabalhar na formação de talentos na cidade, uma vez que os talentos são o recurso mais importante para a sociedade. As políticas culturais devem corresponder às condições locais e responder aos intentos únicos da sociedade.

 

Uma vez que o governo de Macau identificou o desenvolvimento da indústria cultural como uma prioridade política, deve fornecer políticas de apoio que possam ajudar grupos performativos e artistas nas suas criações. Isto pode ser alcançado por meio de um esquema de subsídios desenvolvido para promover a produção de espectáculos que combinem inovação tecnológica, preservem e inovem a cultura chinesa e promovam a colaboração entre agentes e a colaboração transfronteiriça. O governo deve aumentar o montante do subsídio para valores entre MOP800.000 e MOP1.500.000, e oferecer um número limitado de quotas para cultivar a concorrência e incentivar grupos e indivíduos a solicitar o subsídio. Este valor de subsídio é o padrão no mercado internacional para produções de escala semelhante. O Centro Cultural de Macau e o Festival de Artes de Macau também adquirem anualmente espectáculos a preços semelhantes, há muitos anos. A duração necessária do projecto deve ser de dois a três anos e os projectos devem posicionar-se como produções de qualidade que posam ser exibidas nos principais teatros, tanto localmente como no exterior. Supondo que haveria seis projectos em três anos, o custo do subsídio não seria sequer superior 10 milhões. Se houver 12 projectos, o custo será de cerca de 18 milhões, que é o orçamento de um ano para o Encontro de Mestres de Wushu de 2019.

 

Se MOP20.000.000, pudessem recuperar a juventude de uma pessoa, pagaríamos esse montante?

 

Mas uma política não pode realmente recomprar a juventude. O futuro do desenvolvimento cultural de uma cidade é definitivamente digno do investimento. Políticas de apoio adequadas e suficientes para grupos de artes performativas e artistas individuais são urgentemente necessárias em Macau.