Lio é escritora e a adaptação ao cinema do seu romance Diago esteve em competição na Selecção Oficial do Festival Internacional de Cinema Karlovy Vary em 2010.
Imagem do filme Macau Stories 3 Foto cedida por Chao Koi Wang
Nos três artigos que escrevi anteriormente sobre “O cinema e o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas em Macau”, debrucei-me sobre o panorama do cinema em Macau, sem fazer uma verdadeira ligação à “cultura e criatividade”. Na realidade, não é apenas o cinema que tem um difícil e longo caminho pela frente, mas as indústrias culturais e criativas em Macau.
Em geral, falta-nos “uniformizar” uma cadeia industrial: se não conseguirmos seguir de forma sólida o caminho da “criatividade cultural –> produtos culturais –> marketing”, não existirá as indústrias culturais e criativas genuínas.
Tomemos como exemplo a criação de cinema e de produções para televisão. Para tal são necessários argumentistas, realizadores, actores, pós-produção, marketing, vendas e distribuição, cinemas para as exibições, emissoras, etc., que envolvem múltiplas indústrias, empresas e sectores relacionados. Temos histórias maravilhosas, algumas das quais foram filmadas, mas valorizar estes produtos culturais, ou seja, colocar estes filmes no mercado, não é uma tarefa fácil. Em primeiro lugar, em Macau não existem distribuidores nem uma rede de cinemas; em segundo lugar, o interesse dos distribuidores e das redes de cinema nos filmes de Macau vai depender da sua qualidade. Temos filmes locais muito apreciados pelo público e que já foram exibidos mais de 20 vezes. Mas não podemos dizer que foram testados pelo mercado comercial se não tiverem entrado nos mercados de Hong Kong, Taiwan e do interior da China.
Desde o início, tenho-me recusado a debater o cinema em Macau no contexto das indústrias culturais e criativas, porque fazê-lo será o mesmo que destruir flores ao desabrochar. Por que razão digo isto?
Existem dois termos na frase “indústrias culturais e criativas”: “culturais e criativas” e “indústrias”. Macau só deu o pontapé de saída há uns anos, mas a sensação é que as empresas relacionadas passaram de “culturais e criativas” para o extremo oposto, concentrando-se apenas na sua industrialização. É completamente legítimo que o Governo promova as indústrias culturais e criativas e é realista que espere resultados, mas falta-lhe um espírito pragmático: temos muitas “deficiências congénitas”, não temos talentos em número suficiente, não temos uma cadeia industrial, nem um mercado – isto não deve ser negligenciado. Não existe um lugar no mundo que não tenha investido pelo menos 10 a 20 anos e uma quantia tremenda nas indústrias culturais e criativas. A tarefa deste fundo específico atribuído pelo Governo deve ser gerar recursos suficientes e criar as políticas necessárias e a garantia de capital para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas. Ao mesmo tempo, não pode desistir dos sonhadores e dos empreendedores. Sem uma cadeia industrial, a industrialização será em vão.
Os jovens que têm uma ambição cultural e criativa são todos sonhadores. Alguns deles vão realizar os seus sonhos, mas outros não. Serão os “sonhos” o mesmo que “fantasias”? Se sim, receio que o “sonho chinês” e o “sonho de Macau” sejam grandes fantasias!
Por que razão o Governo propôs o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas? Porque quer promover a diversificação social e económica, redireccionar a economia, que depende apenas da indústria do jogo, e construir outro caminho para os mais jovens. Aqueles que estão interessados em juntar-se às indústrias não têm mais nada além de criatividade e de um sonho. Não têm famílias ricas que possam apoiar com dinheiro. Precisam de mais oportunidades para crescer e estão sujeitos a tropeçar pelo caminho. Precisamos pelo menos de lhes dar oportunidades durante um determinado período de tempo, no qual faremos o nosso melhor para facultar ajuda e financiamento. Na realidade, algumas pessoas criaram empresas ligadas às áreas culturais e criativas, que podem vir a ser os ovos de ouro ainda por chocar. Mas estas pessoas estão a ser ridicularizadas. No entanto, alguns homens de negócios que fazem fortunas com o seu espírito empresarial poderão tornar-se pioneiros na promoção das indústrias culturais e criativas logo que “vistam a capa cultural”.
Se o Governo está tão orientado para a produção de resultados e acredita que apenas os empresários podem chocar ovos de ouro, então deveria estabelecer o “Fundo Empresarial de Macau” para promover o desenvolvimento de todas as empresas, em vez de um fundo específico direccionado para as indústrias culturais e criativas.
Afinal de contas, o cinema de Macau precisa de amadurecer neste caminho para preservar uma beleza eterna.
Por isso, por favor, dêem tempo e espaço ao cinema de Macau para crescer.
(O cinema e o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas em Macau – série 4)