Ho Ka Cheng

Supervisor da Associação Audio- Visual CUT, Ho é um dos realizadores do projecto Macau Stories 1 e esteve também envolvido no Macau Stories 2 – Love in the City e no Macau Stories 3 – City Maze. Macau Stories 2 – Love in the City recebeu uma menção especial no festival português de cinema Avanca e foi mostrado nos festivais de Tóquio e Osaka.

Quando o Festival de Cinema nasceu na Cidade

17a edição | 10 2016

02_何家政_01.jpg

Foto cedida pela DST do Governo da RAEM


O conceito de “festivais de cidade” começou a existir na Europa logo a partir do século XVII. Mas apenas nas décadas de 1970 e 1980 é que a cidade, a cultura e a economia conseguiram gradualmente interligar-se e tornar-se elementos importantes do turismo e das indústrias criativas. Agora, os “festivais de cidade” têm algumas funções mais importantes. Eles tornam a cultura, o turismo e a recreação em factores decisivos na contribuição que dão para o crescimento económico, bem como no melhoramento da imagem de uma cidade. A 30 de Setembro, o Instituto Cultural organizou o Fórum do Festival Internacional de Música de Macau, para explorar a relação entre festivais de artes e o desenvolvimento cultural da cidade, e de como estes festivais podem promover a sustentabilidade urbana. No passado, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau (MIFVF) e a Feira de Investimento na Produção Cinematográfica entre Guangdong-Hong Kong-Macau, ambos eventos organizados pelo Instituto Cultural, foram muito valorizados pelos cineastas locais. Eventos relacionados com o cinema e organizados por organizações estrangeiras –  como os Prémios de Cinema da Imprensa Chinesa, o Festival de Cinema Ásia-Pacífico, os Prémios do Cinema Asiático e o Festival Internacional Prémios Gold Aries de Macau – também são importantes. No entanto, o Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios (IFFAM, na sigla inglesa), que está para chegar, é outra história. Este festival é organizado oficialmente pelo Governo da RAEM e apoiado por empresas de jogo. O mundialmente conhecido programador e cineasta Marco Müller foi convidado para ser o director do festival. Foi anteriormente director do Festival Internacional de Cinema de Veneza e é ele mesmo um sinólogo. Quando assumiu a direcção do festival de Veneza, Müller reformou o festival e por várias vezes os prémios mais importantes, os Leões de Ouro, foram entregues a filmes chineses.


A equipa profissional do IFFAM é composta por um director, um director de gestão, embaixadores, consultores internacionais e consultores de programação. Entre eles estão Johnnie To, Ann Hui, Huang Jianxin, Shi Nan Sun, Dong-hoon Choi e James Schamus (parceiro de Ang Lee), entre outros. A proeminente produtora asiática Lorna Tee assume a direcção de gestão do IFFAM. Ela é a directora-geral da Irresistible Films (a produtora que fez filmes como Cold War e Rise of the Legend). A lista de consultores honorários inclui presidentes e directores-gerais do Galaxy Entertainment Group, da Sands, da Wynn, da MGM e da Sun Entertainment Culture Limited, entre outros. Tudo o já dito aqui confirma que o IFFAM terá como foco o cinema comercial e de género. A natureza do festival é semelhantes à dos festivais de artes, de música e ao Grande Prémio – um festival de cidade de grande escala, mas desta vez são os filmes a estar no centro das atenções.


Além dos prémios que serão apresentados (na categoria competitiva), também haverá projecções não-competitivas, uma exposição, seminários, uma competição de microfilmes, uma competição de argumentos para microfilmes e cursos de cinema ministrados por instrutores profissionais do British Film Institute. Também me disseram que haverá um fórum de investimento cinematográfico que dará aos cineastas locais mais oportunidades para conhecerem potenciais investidores. Podemos ver que o governo espera que o IFFAM possa enriquecer a imagem da cidade e produzir benefícios a longo prazo para o desenvolvimento da indústria de cinema local. Na verdade, nas Linhas de Acção Governativa para 2016, diz-se que “através de cooperação entre os serviços, promover-se-á a realização de eventos cinematográficos a nível internacional, enriquecendo, de forma constante, os elementos culturais da indústria turística de Macau”. Além disso, no ponto número três da “Coluna 20: Principais Tarefas para Desenvolver o Turismo Cultural” do Projecto do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM 2016-2020, refere-se que “através da organização de festivais internacionais e da promoção no estrangeiro [espera-se] aumentar a visibilidade do festival internacionalmente e atrair mais visitantes internacionais”. A directora da DST de Macau, por exemplo, foi numa viagem de observação a Cannes no passado mês de Maio.


Usar o IFFAM para promover o turismo cultural em Macau e para melhorar a imagem da cidade internacionalmente dá-nos esperanças no que toca a ver o cinema tornar-se oficialmente num dos temas dos festivais de Macau. Quanto ao desenvolvimento a longo prazo da indústria de cinema local e da cultura cinematográfica, requer trabalho e esforço a longo prazo, e nunca foi fácil. Se o IFFAM é meramente fogo-de-vista ou uma verdadeira força motriz por trás da indústria, vamos esperar para ver.