Lio Chi Heng

Lio é escritora e a adaptação ao cinema do seu romance Diago esteve em competição na Selecção Oficial do Festival Internacional de Cinema Karlovy Vary em 2010.

Um universo infinito de ideias para o cinema

7a edição | 07 2015

Ouvir alguém falar do cinema de Macau já não causa surpresa nos dias que correm. É espantoso perceber como as coisas mudaram nos últimos anos. Lembro-me da altura em que as pessoas se questionavam se a cidade teria recursos suficientes para os cineastas. Muitos estavam cépticos quando o governo incluiu o cinema como uma das indústrias centrais para o desenvolvimento cultural e criativo.


É um facto que Macau tem falta de profissionais de cinema, tais como produtores, realizadores, argumentistas, fotógrafos, técnicos de iluminação, designers de adereços, etc. No entanto, a riqueza dos recursos históricos e culturais da cidade tem um valor inestimável. Quando os missionários chegaram a Macau há mais de 400 anos, a porta para o Interior da China também estava aberta. A combinação das culturas oriental e ocidental ainda hoje é visível: templos budistas paredes-meias com igrejas católicas, edifícios de traça chinesa e europeia ao lado uns dos outros, e macaenses com raízes portuguesas a viver entre a comunidade chinesa.


Ao longo dos anos, várias personalidades históricas de Macau e do exterior deixaram a sua marca e legado na cidade. Durante muito tempo, os trabalhadores honestos e os marginais vieram para esta cidade livre para ganhar a vida.


Além destas notáveis histórias humanas, também o cenário urbano é único. De um lado da cidade encontra-se o centro histórico de Macau, inscrito na lista do Património da Humanidade da UNESCO; do outro lado está o Cotai, uma área nova destinada ao entretenimento e ao jogo. Macau é uma cidade de dois extremos: uma pessoa pode viver a riqueza desta relação cultural e o perigo do mundo oculto do crime. O frágil equilíbrio entre estes dois mundos é uma fonte inesgotável de inspiração para os cineastas.


Uma cidade com uma história única não pode ser copiada, nem criada. Mas o desenvolvimento de talentos pode ser estimulado. Como em Macau temos falta de profissionais de cinema, deveríamos receber toda a ajuda possível do Interior da China ou das cidades vizinhas para apoiar a formação e criar mais oportunidades para as novas gerações. Isto é também positivo para o desenvolvimento de uma sociedade diversificada.


Nos últimos cinco ou seis anos, acumulámos um considerável número de curtas-metragens, e mesmo uma longa-metragem. Muitos cineastas jovens e talentosos começaram a brilhar, o que prova que há ainda pessoas com potencial e com vontade de fazer parte da indústria cinematográfica e televisiva. Agora, essas pessoas não têm de deixar a sua terra natal para ir à procura de novas oportunidades ou viver com a sensação de que o seu futuro está obrigatoriamente associado à indústria do jogo.


Claro que pelo caminho também surgem muitas produções que não convencem. Mas não devemos olhar para elas como se fossem um recuo, porque ainda agora começámos. Mesmo que as curtas-metragens não se tornem num sucesso de bilheteiras, são necessárias já que constituem um bom treino para os nossos futuros cineastas. Só se aprende a fazer um filme manuseando o equipamento. Todos os países e regiões com indústrias culturais e criativas de êxito precisam de passar por um longo período de experimentação para encontrarem o seu próprio caminho.


Tenho de deixar um elogio ao Instituto Cultural (IC) pelo seu esforço dedicado no apoio à indústria cinematográfica para que esta seja mais produtiva e, assim, se torne numa parte importante de toda a cadeia da indústria cultural e criativa em Macau. O IC lançou em 2013 o Programa de Apoio à Produção Cinematográfica de Longas-Metragens para ajudar jovens cineastas a fazer longas-metragens. O subsídio de 1,5 milhões de patacas cobria apenas os custos iniciais, mas o significado que estava por detrás era muito maior do que isso—indicava um apoio forte do governo a esta indústria. Os realizadores tinham a possibilidade de angariar fundos com o subsídio para fazer um filme e procurar potenciais distribuidores.


(O cinema e o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas em Macau—série 1)