Choy Sau Ying

Antiga jornalista cultural e autora de artigos de fundo, Choy é uma apaixonada pela literatura e exploradora urbana. É agora mãe e editora freelancer.

A preservação do património pode tornar-se numa indústria?

9a edição | 09 2015

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Li recentemente uma discussão sobre a preservação de edifícios históricos com mais de meio século em Macau, incluindo o Hotel Estoril e a Piscina Municipal Estoril, de estilo colonial. Houve até quem fizesse o upload na Internet da luta de artes marciais que opôs, em 1954, as lendas Wu Kung I e Chen Kefu. A “batalha do século”, como é conhecida, realizou-se na piscina. Descobri então que a luta foi organizada para ajudar as vítimas do incêndio na zona residencial de Shek Kip Mei, em Hong Kong—indicador das profundas ligações históricas entre as duas cidades. As duas antigas colónias têm claramente muito que aprender uma com outra no que diz respeito à preservação do património.


Pediram-me para escrever sobre as indústrias culturais e criativas em Hong Kong. Depois de muito tempo a pensar, apercebi-me que na última década não foi criada em Hong Kong qualquer política governamental ligada ao sector. Poderá a preservação cultural desenvolver-se numa indústria? Tem-se assistido a um aumento do interesse da população de Hong Kong pela aprendizagem da história da própria cidade, com organizações não-governamentais a realizarem visitas guiadas a diferentes locais. Estes grupos cobram entre 200 a 300 dólares de Hong Kong por excursões conduzidas por residentes locais com um profundo conhecimento dessas áreas. A organização The Conservancy Association Centre for Heritage (CACHe), por exemplo, realiza excursões históricas e pelos bairros, além de seminários históricos sobre questões como os eléctricos, os tufões em Hong Kong, etc. Sendo esta uma cidade marítima (Macau também é), a Hoi Bun Heritage Docents Society transporta igualmente os visitantes às profundezas dos diferentes bairros de Hong Kong durante as suas excursões. Outro grupo é o Walk in Hong Kong, que organiza passeios em inglês para visitantes de todo o mundo. Além da indústria das visitas guiadas, existem organizações não-governamentais em Hong Kong à frente de outros negócios criativos e culturais, que também contribuem para a preservação cultural na cidade. Estas organizações não acreditam que a preservação do património seja necessariamente uma actividade deficitária e, na realidade, é completamente lucrativa e sustentável. Um exemplo que o comprova é a organização HULU Culture, estabelecida em 2009.


Simon Go, fundador da HULU Culture, é um fotógrafo experiente. A sua mulher, Iman Fok, trabalhou no passado como assistente social. A visão desta dupla sobre a preservação cultural é altamente abrangente. Eles não são apenas os pioneiros das visitas guiadas locais em Hong Kong, mas também têm estado empenhados na investigação da história local, criando relações com os residentes dos bairros. Além disso, estão a tentar fazer uso do capital social para encontrar formas de revitalizar economicamente os bairros, procurando nesses espaços elementos criativos. A partir de 2010, depois da realização do evento Heritage X Arts X Design na antiga esquadra da polícia de Hong Kong (PMQ), na Hollywood Road, o grupo voltou a organizar eventos semelhantes em diversos locais da cidade, recebendo para cada edição um apoio financeiro do Jockey Club de Hong Kong no valor de mais de quatro milhões de dólares de Hong Kong. A HULU Culture também abriu uma loja na antiga esquadra PMQ, vendendo produtos de designers locais e convidando artesãos de antigos ofícios de Hong Kong, como sapateiros e ferreiros, para falar do seu trabalho. Entre os jovens de Hong Kong também aumentou recentemente o interesse pelo artesanato, e os workshops organizados estão sempre esgotados. Quando se trata de preservação cultural, há mais do que a simples protecção da arquitectura e dos lugares. A transmissão do conhecimento sobre o artesanato tradicional à próxima geração também é muito importante e é algo que merece ser salvaguardado.