Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


As cores da Índia

17a edição | 10 2016

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Foto cedida por Rebecca Cotton Manish Arora design


“Índia” não é apenas um nome, pode também ser usado como adjectivo. Ao caminhar pelas ruas da Índia, as cores que são tão “Índia” podem mesmo estimular e excitar os visitantes. Nenhum outro sítio utiliza tão bem as cores como a Índia. As pessoas evitam normalmente usar cores contrastantes. Por exemplo, é muito raro combinar cor-de-rosa com amarelo. Mas, na Índia, cores complementares são um lugar-comum.


A Índia é uma terra que respira criatividade, já que é composta por diversas culturas. O hinduísmo possui uma variedade de deuses e divindades e cada um deles tem as suas próprias funções. Isto pode provavelmente mostrar que as pessoas indianas são muito receptivas a novas ideias. Os britânicos trouxeram a língua inglesa para a Índia e os indianos fizeram um uso inteligente da mesma, criando até várias obras literárias em inglês.


O design é um dos derivados da inovação. A Índia não tem tido falta de designers e de bom design. Há mil anos, os governantes de Khajuraho conceberam uma série de esculturas eróticas e colocaram-nas num grupo de templos sagrados. O enlutado rei de Agra projectou arquitectura em tons brancos em memória de sua amada esposa. A estrutura simétrica é simplista no que toca ao estilo, mas tem detalhes intrincados.


Quando os britânicos chegaram à Índia, construíram uma série de edifícios grandiosos e desenvolveram Nova Deli. Governaram aquele país por mais de 200 anos. As cidades de Deli, Calcutá e Bombaim estão todas pejadas de arquitectura ocidental.


Chegados ao berço da civilização, os britânicos não tomaram decisões impensadas sobre como lidar com este país. Em vez disso, mostraram o seu respeito por ele. A Estação Victoria, que recebe milhões de pessoas todos os dias, parece uma igreja gótica. Apreciei os detalhes da estrutura desta estação sobrelotada e descobri que o interior é suportado por colunas de aço com entalhes elaborados. O exterior possui arcos esplêndidos, torres e uma cúpula, e todos parecem mais europeus do que qualquer design na Europa. Mas, quando vemos mais de perto os detalhes, descobrirmos que na extremidade dos corredores e na superfície das vigas de pedra há muitas decorações de estilo indiano. Pavões e macacos estão entre as muitas criaturas que decoram o edifício colonial e mostram o estilo único de exuberância e esplendor na Índia.


O estilo indiano tornou-se uma fonte de inspiração para os designers de todo o mundo. Um observador especializado em design disse certa vez que, sem a inspiração da Índia, John Galliano teria dificuldade para fazer o que ele quer fazer. É bem  verdade que a Índia se tornou na musa dos designers ocidentais.


Como quaisquer outros designers asiáticos, os designers indianos também começam a partir das suas próprias culturas tradicionais e tentam casar o design moderno e tradicional. Isto é especialmente verdade quando se trata de estilistas de alta costura. Eles tendem a especializar-se na concepção de vestidos de noiva e vestidos de noite com detalhes e estilos elaborados e extravagantes. Na indústria de moda na Índia de hoje, não é difícil perceber que a maioria dos designers emergentes têm o mesmo background. Eles são educados nas melhores faculdades no exterior e fazem estágios com designers famosos. Eles entendem como design e marketing podem funcionar em conjunto. Estes designers tendem a estar sediados nas grandes cidades. Bombaim e Deli são as melhores opções porque são cidades mais ricas e com consumidores mais abertos.


Eu gosto particularmente dos modelos de Rajesh Pratap Singh. Ele é muito discreto e não gosta de dar entrevistas. O seu design reflecte realmente a sua personalidade. Além de linhas e cortes simples, ele adicionou ornamentos discretos nas mangas, dando-lhes uma aparência clássica. Singh usa normalmente tecidos de alta qualidade produzidos na Índia para fazer as suas roupas. Natural do Rajastão, este designer emergente está agora baseado em Deli e tem cinco lojas na cidade. As lojas são simplistas no que toca ao design e contêm tanto roupa mais casual como vestidos de festa.


Se não é apreciador da simplicidade, ou se procura a Índia esplendorosa, talvez os modelos de Manish Arora sejam mais do seu agrado. O ponto forte deste estilista é transformar uma paleta rica em cores e motivos em algo aceitável aos olhos dos compradores ocidentais. Manish Arora é claramente um desses estilistas que sabe como agradar o público. As suas criações são estranhas e têm formas peculiares. Muitas pérolas e cristais são usados para decoração. Juntamente com as cores vibrantes da Índia, os seus modelos normalmente impressionam os espectadores com os seus efeitos dramáticos. Arora inspira-se normalmente no cinema e nas divindades indianas. As suas criações estão cheias de matizes de arte pop com um toque indiano. Tal como Singh, Arora tem umas quantas lojas em Deli e Bombaim. Marcas conhecidas da Europa, dos Estados Unidos da América e da Ásia gostam dos seus trabalhos e franqueam as suas colecções. Agora, mesmo não estando na Índia, é possível comprar modelos desenhados por esses estilistas noutros lugares.