Wilson Lam

Fundador da Macau Creations, Wilson Lam tem mais de 30 anos de experiência em publicidade e design gráfico. Mantém- se fiel ao conceito “criar clássicos a partir do comum”.

O Alibaba das indústrias culturais e criativas

5a edição | 05 2015

A função do WeChat “abanar por um envelope vermelho” foi o centro das atenções da gala do Ano Novo Chinês 2015 da CCTV. Isto exerceu uma enorme pressão sobre o Banco Central da China, já que a superioridade do Alipay (sistema de pagamentos online) está fortemente ameaçada e a precisar de encontrar respostas aos desafios de um mercado altamente interactivo e competitivo. Se não conseguirem melhorar a competitividade, o Taobao ou mesmo o Alibaba poderão ficar para trás. A internet virou as indústrias tradicionais do avesso e, por isso, é importante que as empresas culturais e criativas consigam enfrentar este impacto.


O marketing pode ajudar ou destruir negócios


Há falta de talentos e de recursos para trabalhar na área das indústrias culturais e criativas em Macau. As pessoas que têm potencial estão sozinhas nesta luta. Sem capital ou marketing suficientes, as boas ideias não conseguem chegar ao mercado e algumas delas fracassam mesmo antes da fase de industrialização.


A evolução da indústria não pode depender apenas da entrada de capital, porque não é o dinheiro que vai fazer com que ideias retrógradas ganhem nova vida. Neste sentido, o governo enfrenta um grande desafio, porque os resultados de cada projecto que tem financiado são questionáveis. O sucesso das campanhas criativas depende, na maioria das vezes, da forma como é feito o marketing – e esse é um trabalho que deve ser levado a cabo pelos operadores e não pelo governo. O governo deve financiar projectos de longo prazo, o que trará um impacto positivo à indústria. Quanto mais é que o governo vai ter de pagar para industrializar o sector criativo e cultural? Esta queixa é recorrente em Macau. O governo não deve intervir no mercado e, por isso, cabe ao mercado e à indústria aperfeiçoar o plano. Acredito que o ideal é promover um objectivo comum através de diferentes projectos de desenvolvimento.


O mercado é cruel. Só os melhores produtos podem conquistaruma posição sólida. Macau tem um governo abastado, mas o sector privado ainda é muito frágil. Teoricamente, os recursos de Macau deveriam estar reservados para a população local, mas é lógico que uma pessoa olhe para além disso quando faz negócios. Graças à liberalização da indústria do jogo em Macau, temos hoje tudo o que é necessário para criar um centro de turismo e lazer de nível mundial. Esta é uma prova sólida da importância da concorrência saudável. O mercado é uma arena – não podemos actuar de acordo com as nossas emoções nem devemos ficar sentados à espera que algo aconteça.


O governo deve assumir a liderança


Se cabe ao governo desenvolver os negócios criativos, então as suas acções devem demonstrar apoio e respeito. O processo de abertura de concursos públicos de design tem de ser reestruturado. Como responsável por uma empresa de design, oponho-me categoricamente à submissão de projectos a custo zero para a entrada num concurso. A sobrevivência e a reputação dos designers dependem destes esboços de projectos, mas os processos administrativos estão a destruí-los.


Para participar num concurso público, o governo requer normalmente o envio de três esboços de projectos de design, o que significa que um projecto tem apenas um terço de hipóteses de vencer o concurso e que os restantes não serão aproveitados. Na maioria das vezes, os projectos de qualidade não são seleccionados porque precisam de orçamentos mais elevados. Isto é ridículo. Esperamos que o governo possa definir com clareza um tecto orçamental para cada concurso e reembolsar os candidatos pelos custos básicos de criação, de modo a que os participantes possam decidir se devem ou não investir tempo no projecto. Isto pode também levar à restruturação dos critérios de avaliação, dando maior destaque à criatividade. Muitas empresas seguem o mecanismo do governo que, por dar ênfase ao orçamento, origina uma competição feroz ao nível dos preços e subestima a componente criativa.


Criar o Alibaba das indústrias culturais e criativas de


Macau Precisamos de uma plataforma cultural e criativa moderna, na qual o governo assumiria a liderança na criação de um novo website comercial sobre a indústria. Poderia tornar-se no Alibaba de Macau e ajudar a superar obstáculos técnicos como os pagamentos internacionais, serviços bancários electrónicos, licenciamentos de compras digitais, custos de transporte e impostos. O governo poderia promover esta plataforma no estrangeiro e absorver especialistas em eventos culturais, colecções de arte, design criativo e filmes de animação. Estes talentos seriam os embaixadores das indústrias criativas de Macau.


Por último, penso que o governo tem de desenvolver a educação da cultura popular, procurar talentos e empresas com potencial, e dar-lhes apoio. Apenas uma cultura e produtos criativos extraordinários poderão ser comercializáveis e abrir novos mercados.