Aprender com o mundo: encontrar soluções na pandemia

11 2021 | 46a edição
Texto/Sara Lo

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Quebrar as paredes altas dentro e fora dos museus


Desenvolvimentos como a AR e a VR, que combinam tecnologia com vários tipos de arte, há muito que não são novidade. No momento da pandemia, estas tecnologias que permitem que as pessoas se aproximem da arte, sem o contacto físico, aproximam, também, o público das exposições. O Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, com 150 anos de história, lançou “The Met Unframed” com um fornecedor local de telecomunicações, uma experiência virtual imersiva, que permite aos visitantes apreciar online cerca de 50 obras de arte das 12 galerias do museu. Os espectadores conseguem apreciar ainda mais detalhes das obras assim do que no local. Além disso, o conteúdo virtual também pode ser justaposto com cenas reais através da tecnologia AR (Realidade Aumentada), permitindo aos visitantes interagir com as exposições e reforçar a sua ligação com as obras. Esta experiência imersiva atraiu mais de 900 milhões de pessoas em todo o mundo e os amantes de arte de mais de 140 países puderam voar para Nova Iorque sem deixar o conforto das suas casas.


Deixar a tecnologia de lado e levar as obras directamente para a rua é outra experiência. Durante a pandemia, houve uma altura em que as esperanças da reabertura dos museus pareciam longínquas. Em Maio e Junho deste ano, o Museo Nacional del Prado, em Madrid, realizou uma exposição especial intitulada “Just around the corner”, na qual mais de 20 quadros representativos da colecção foram ampliados em reproduções de alta resolução e colocados nas ruas de Madrid, incluindo escolas, bibliotecas, ginásios e fachadas de edifícios. Além de atrair a atenção dos transeuntes, a exposição também transmite o conforto que a arte poderia trazer sob a forma de imagens marcantes.


Mais informações: https://bit.ly/3pJCFWZ


Quando os espectáculos de teatro não têm lugar no teatro


Na sequência da pandemia, os teatros em todo o mundo sofrem com as aberturas e os encerramentos irregulares. Para além de transformar espectáculos de teatro em versões em vídeo, como é que a diferente estrutura do teatro/performance se pode reconectar com as pessoas? Um curador de Taiwan montou o festival de arte “Did You Catch Up?”, mostrando que este não é um “festival online”, mas um festival que começa a partir da fase de conceptualização com visualização/participação online, sem necessidade de reunião presencial, desde que um telemóvel possa ser ligado ao espectáculo. Esta abordagem, que não se limita ao tempo e ao espaço, quebra grandemente as restrições de tempo e espaço, a distância entre as pessoas, e a relação entre a audiência e o espectáculo. Neste festival, o produtor local Erik Kuong também colaborou com outros criadores para apresentar uma peça de teatro chamada Passageiros na Praça Ponte Horta Terminal, que utiliza a navegação áudio com imagens ao vivo e jogos interactivos para dirigir os espectadores a percorrer o passado do terminal. A utilização de tecnologia para viajar pelos materiais históricos é também uma espécie de re-exploração de uma forma inovadora de visualização e da realização de espectáculos.


Apoio a livrarias independentes


Face à epidemia, a França está na vanguarda em termos da assistência ao sector cultural. Uma legislação local foi aprovada recentemente para limitar os custos de correio mínimos para as livrarias online, reduzindo de forma essencial os danos que as grandes plataformas de compra de livros online poderiam causar às livrarias com custos de envio quase nulos e protegendo, desta maneira, a sobrevivência das livrarias independentes.


As livrarias independentes sempre foram protegidas pela lei em França. Existem quase 4.000 livrarias independentes em todo o país, mas os baixos custos de envio oferecidos pelas grandes plataformas de compras online fazem com que muitas pessoas abandonem as livrarias tradicionais e optem pelo modelo online. Desde 1981, a França tem uma lei que exige que todos os livros tenham um preço fixo, com desconto não inferior a 5%. Em 2014, foi aprovada uma nova lei que proibia o envio gratuito, mas as grandes empresas de comércio electrónico ainda conseguiram roubar clientes oferecendo custos de envio a 10 cêntimos. Durante a pandemia, as livrarias ficaram isentas, tidas como negócios essenciais, mostrando a importância que o governo lhes atribui enquanto bens culturais. Além disso, o governo está a ajudar os donos das livrarias através da implementação de políticas, preservando assim um espaço físico para os amantes de livros num ambiente mais justo.