C-La em Macau: pioneiro local de banda desenhada

08 2015 | 8a edição
Texto/Joseph Leong, Tom Lei e Agostinho Jesus Liu

Chun Man Publishing: de Macau para o mundo   Impressões sobre as exposições de animação e BD em Macau e Hong Kong


C-La em Macau: pioneiro local de banda desenhada

 

Nos últimos anos tem-se trabalhado muito para a promoção das indústrias culturais e criativas em Macau, mas este é um esforço que ainda não é levado a sério pelo público, disse durante a entrevista o responsável pela Chun Man, Matthew Fong. “É como um ciclo vicioso. Não é difícil arranjar um emprego bem pago em Macau. Os empregos na área cultural e criativa não são tão bem pagos como a maioria dos empregos do mercado, por isso os jovens não estão dispostos a entrar na indústria ou a tirar cursos relacionados com este sector. Isso torna as pessoas de Macau menos competitivas em relação à população de regiões vizinhas”, diz. Fong compara as indústrias culturais e criativas a atletas portadores de deficiências—por mais que se esforcem, nunca serão atletas saudáveis.

 

Mas é realmente assim? Mesmo que o futuro da animação e da manga seja incerto, ainda há muitas pessoas que querem entrar nesta indústria. O artista de banda desenhada Ki Leong, que está por trás de C-La em Macau, é um exemplo disso. Leong diz querer trabalhar na indústria a tempo inteiro.

 

C-La em Macau é uma representação adorável de uma dona de casa e da vida de uma família comum de Macau. Esta sátira conquistou os leitores de Macau. O criador é um estudante do 4.º ano de design gráfico no Instituto Politécnico de Macau. “Muitas pessoas pensam que o autor de C-La em Macau é uma dona de casa, mas desculpem, não é”, diz.

 

Inicialmente, Leong criou uma página pessoal no Facebook apenas por diversão e com a esperança de a usar como plataforma para partilhar o seu trabalho com os outros. Nunca pensou que um dia seria reconhecido no mundo das histórias aos quadradinhos.

 

A página conquistou mais de 3.000 adeptos em quase dois anos. Leong transformou recentemente a BD C-La em Macau em curtas animações e foi elogiado pelos júris durante o Festival Internacional de Filme e Vídeo de Macau de 2015. O autor acredita que a banda desenhada tem dificuldade em atrair a atenção do público e que a animação é mais aliciante. Por isso, a utilização dos dois registos para apresentar a C-La em Macau tem sido eficaz na conquista de mais leitores.

 

No entanto, Leong não é muito optimista quanto ao futuro da manga em Macau—a base de leitores ainda é pequena e a indústria não tem dimensão. Seja como for, o autor insiste que vai trabalhar a tempo inteiro como artista de banda desenhada após terminar os estudos. “Neste momento só me quero concentrar na C-La em Macau e preparar-me para ser um artista de banda desenhada a tempo inteiro. Vou dizer a mim mesmo que não posso voltar atrás e espero fazer o melhor que posso. Por outro lado, como o mercado é tão pequeno, se eu tiver sucesso posso aproveitar a vantagem de ser o pioneiro e abrir o mercado da banda desenhada. Nessa altura poderá haver esperança”, diz.

 

C-La em Macau pode ter trazido fama a Leong, mas não trouxe muito em termos de lucros financeiros. Foi distinguido, venceu prémios pecuniários, mas em termos práticos isso não ajudou ao desenvolvimento da sua carreira, dando-lhe, por exemplo, oportunidade de publicar o seu trabalho. Mesmo assim, Leong diz que quer ser um pioneiro na indústria. “Macau não tem um trabalho de banda desenhada representativo, por isso espero que as pessoas possam ficar a saber mais sobre a banda desenhada através de mim e da C-La em Macau”, refere. “Desde que consigamos sensibilizar as pessoas para a banda desenhada local, então poderemos começar a desenvolver produtos relacionados, como brinquedos e outros objectos, e criar mais oportunidades comerciais para os artistas de banda desenhada.”