Em Macau, o design de produto tem sido frequentemente menosprezado, sendo interpretado como não mais do que a simples e óbvia produção de logotipos e cartazes. Recentemente, porém, com a crescente importância atribuída pelas empresas à gestão de marcas, a população de Macau começou a apreciar produtos que valorizam o bem-estar e a entender o valor do design. No contexto destas novas tendências, quais são os desafios e oportunidades com que se deparam os designers de Macau? Neste número, falamos com três profissionais criativos locais, que traçam em pormenor o cenário da indústria do design de Macau.
Hylé Design Macau: conservar a originalidade do design na produção em massa
A Hylé Design Macau, uma marca sem pontos de venda a retalho em Macau, fez maravilhas vendo o seu trabalho reconhecido nos mercados de retalho e digital, através da livraria Eslite em Taiwan, do website de design de produto Pinkoi.com e da plataforma Nuandao.com, do interior da China. Siu Kai Tong, fundador da marca, teve a ideia de reciclar madeiras de qualidade e converter esses materiais em acessórios delicados e artigos de papelaria. A filosofia que está por trás deste conceito pretende apoiar a promoção da protecção ambiental e dar destaque à pureza e simplicidade da madeira em estado virgem. Estes produtos não são apenas uma expressão da paixão do designer, mas também criações interessantes com um toque mais humano.
“A minha família gere um negócio de mobiliário no interior da China e faz peças de mobiliário nas suas próprias fábricas. Estes produtos são todos feitos com madeira de alta qualidade, que é caracterizada por grãos de madeira belos e singulares. Eu quero aproveitar os restos destes materiais de fabrico e torná-los em algo belo, porque de outra forma vão parar no lixo. Esta é a nossa filosofia de design: tudo tem um valor oculto”, diz Siu.
Depois de terminar os estudos em design de produto em Taiwan, Siu voltou a Macau para procurar oportunidades de trabalho. Neste seu regresso, ficou desiludido com o panorama do design de produto em Macau, constatando que a cidade se estava a deixar ficar para trás em relação ao ambiente criativo de Taiwan. Ainda antes de estabelecer a Hylé Design Macau, Siu trabalhou como designer gráfico, tendo oportunidade de pôr em prática as suas capacidades. Por fim, acabou por identificar o que faltava no mercado de Macau e continuou a desenvolver a sua própria marca, Hylé Design Macau, de forma a promover o design de produto de qualidade.
A empresa é dirigida por três pessoas e Siu congratula-se com o facto de já terem recuperado o investimento realizado. O recrutamento de mais talentos para dar resposta às necessidades de expansão é um dos desafios que enfrenta. Até ao momento, é unicamente Siu quem tem assegurado a responsabilidade do design.
“Na realidade, existem muitas pessoas que estudaram design de produto em universidades estrangeiras, mas a maioria sente dificuldades em encontrar oportunidades de emprego na sua área quando regressa a Macau e, inevitavelmente, a falta de oportunidades desencorajá-las.”
Siu sente que em Macau a qualidade dos produtos manufacturados não é, de facto, menos interessante do que a de Taiwan, embora os produtos taiwaneses de fabrico manual se estejam a tornar mais comerciais à medida que a produção se torna mais sistemática e em massa. Uma das principais razões para tal sucesso, aponta Siu, deve-se ao facto de esses bens serem produzidos localmente, em Taiwan. Macau não pode adoptar este modelo devido às limitações de produção. Por outro lado, a sua competitividade assenta na personalidade e singularidade dos seus produtos. Siu acredita que o melhor caminho para criar oportunidades de empreendedorismo criativo em Macau passa por aproveitar a singularidade e a estética dos produtos.
Siu contratou inicialmente um estúdio para desenvolver o design. Mais tarde, mudou a sua base para o Centro de Design de Macau. Admite que foi muito importante assegurar um estúdio de trabalho neste espaço, onde já está há quase um ano. “A localização do estúdio beneficia-me em grande medida porque a renda é mais acessível do que em qualquer outro sítio. Mais importante do que isso, na sua maioria, os inquilinos no Centro de Design de Macau são profissionais criativos. Sempre que montam exposições ou outras actividades, o apoio suplementar é muitas vezes necessário e, consequentemente, este espaço atrai mais oportunidades de negócio.”
Embora até agora a marca tenha apostado em acessórios e objectos de papelaria de pequena dimensão, Siu está à procura de projectos mais criativos. No futuro, esta equipa tem na mira trabalhar com peças de mobiliário de maior dimensão, adoptando o mote “trazer a antiga cidade para o presente e futuro; revitalizar a cultura de cidade” como inspiração para o design.
“Os produtos desta série são feitos à base de madeira de uma mansão centenária e desocupada em Macau. Queremos incorporar motivos culturais da antiga cidade nos produtos que valorizam o bem-estar. Além disso, esperamos que estes produtos possam lembrar as pessoas de que é necessário cuidar do ambiente.”