Perspectivas para a Indústria da Moda– José Tang: Fazer Crescer uma Empresa Aumentando as Vendas

06 2016 | 15a edição
Texto/Yuki Ieong

“A maior parte dos artistas estão mais focados nos seus ideais do que em ganhar a vida. Tendem a ter pouca visão de negócio. Além do mais, o apoio do governo em termos de vendas e canais de marketing também está a faltar. Esses factores têm dificultado o crescimento das indústrias culturais e criativas locais”, diz José Tang, vice-presidente da Associação Industrial de Macau. Com mais de 30 anos de experiência no fabrico de vestuário, os clientes de Tang vão desde marcas internacionais até instituições de caridade locais. Tang tem uma produção estável de produtos bem desenhados e criou cursos, em conjunto com entidades governamentais, para formar designers de moda em diferentes tópicos, desde o fabrico de vestuário à gestão de negócios. Tang acredita que, apesar do excelente talento de design em Macau, a criatividade deve ser complementada por um sentido comercial.


Defensor Firme da Produção Local


Enquanto director-geral da Agência Comercial Carmen Lda., José Tang é também proprietário de três fábricas de vestuário em Macau. A meio dos anos 1980, durante o grande crescimento da indústria de fabrico de vestuário em Macau, havia mais de 1.000 fábricas na cidade. No final dessa mesma década, as indústrias em Macau sofreram uma redução acelerada e a indústria de manufactura de vestuário também passou por um período difícil, com o sector a ser afectado pelo aumento de custos e a diminuição do mercado, acompanhados da deslocalização de fábricas para outras regiões. Ainda assim, Tang mantém-se um forte defensor de bens produzidos localmente e decidiu manter a sua fábrica em Macau, de modo a poder assegurar a qualidade dos produtos.


Em 2009, Made in Macau (MinM) tornou-se numa marca registada para bens produzidos em Macau, e oferece uma plataforma para pequenas e médias empresas locais desenvolverem as suas próprias marcas, promovendo a maior consciencialização dos consumidores para bens produzidos localmente. Do mesmo modo, a Agência Comercial Carmen também dispõe de produtos MinM, fabricando uniformes para a indústria de jogo, para departamentos do governo e para a Cruz Vermelha de Macau, bem como produtos para o Grande Prémio de Macau e o Lions Clubs.


A Fabrica de Artigos de Vestuário Lei Un, que pertence à Agência Comercial Carmen Lda., funciona como plataforma de serviços para as indústrias culturais e criativas, financiada pelo Fundo das Indústrias Culturais. Oferece cursos de gestão de negócios na indústria da moda, no Parque Industrial Transfronteiriço Zhuhai-Macau. Estes cursos cobrem áreas como a preparação de amostras, produção, gestão de produção, gestão de capital, questões relacionadas com impostos, etc., ajudando os empresários a resolver questões como a elaboração de um inventário e a produção em pequena escala. Prevê-se que estes cursos cubram dez tópicos diferentes. No ano passado, os dois tópicos apresentados já atraíram a inscrição de 60 estudantes.


Ao colocar os seus esforços no desenvolvimento de novos talentos locais para a indústria da moda, Tang conhece e trabalha regularmente com jovens designers emergentes que têm pouco conhecimento sobre o processo de manufactura de vestuário. A falta de conhecimentos ao nível da produção gera normalmente dificuldades na hora de estabelecer contacto com as fábricas do interior da China, durante a preparação de amostras.


“Há muitos jargões específicos da manufactura. Por vezes, diferenças subtis relacionadas com a cor, o material e a espessura de um segmento já são suficientes para produzir resultados muito diferentes. Antigamente, era possível visitar as fábricas para observar e aprender sobre o processo de manufactura, mas hoje em dia este tipo de auto-aprendizagem já não está disponível para os mais jovens.” Com a sua experiência comercial, Tang viu que os jovens designers de moda são prejudicadas pela falta de competências de negócio. “Digo-lhes várias vezes que, seja o que for que queiram criar, os seus produtos têm de ter valor comercial para que sejam vendáveis, e não existir apenas por uma questão de design. O custo é um factor crítico, e é importante ganhar a vida com isto.”


Comércio Auto-Sustentável


Ao reflectir sobre as indústrias culturais e criativas de Macau, Tang é particularmente elaborado: “A comunidade em Macau é bastante afortunada, no sentido de que o governo está a fazer muito para promover actividades culturais e criativas.”


Contudo, o apoio dado à indústria da moda é ainda desadequado, considera Tang. “O Programa de Subsídios à Criação de Amostras de design de Moda que decorre todos os anos conduziu a uma série de excelentes modelos, mas enquanto os vencedores são financiados para produzir essas amostras, os seus modelos estão muitas vezes privados de vendas e canais de marketing.” Tang lembra o caso de um designer que recebeu financiamento e colocou o seu modelo para venda online, mas apenas conseguiu vender uma ou duas peças de vestuário por ano.


Tang acredita que as plataformas online são um dos canais de venda para produtos culturais e criativos, mas é preciso ter em mente que muitos consumidores não compram bens mais caros online, o que torna as coisas difíceis quando os designers dependem quase em exclusivo das vendas online.


Nas regiões vizinhas, distritos culturais e criativos como o Taipei New Horizon, em Taiwan; a 798 Art Zone, em Pequim; e o M50 Creative Park, em Xangai, existem para juntar os ateliers artísticos e o comércio. Tang refere que a diferença entre esses lugares e Macau reside no facto de, enquanto esses governos estão a ajudar a promover as artes e a cultura através da criação de espaços de venda a retalho para o sector, os produtos feitos em Macau não estão acessíveis aos turistas devido à falta de pontos de venda para produtos locais.


“O Macao Ideas, um espaço para apresentar produtos locais, mudou-se agora do Centro de Actividades Turísticas, para o 19º andar do edifício China Civil Plaza. Além disso, é apenas um espaço de exposição em vez de um ponto de vendas. A C-shop, em frente ao Edifício do Antigo Tribunal, é conhecida por vender produtos locais, mas alguns designers consideram que os requisitos para conseguir colocar produtos na C-shop são relativamente elevados. Por outro lado, a Galeria de Moda de Macau, no Bairro de São Lázaro, tem limitações de espaço, podendo apenas apresentar os trabalhos de alguns designers.”


“Em Macau não há qualquer problema com os níveis de criatividade, mas há uma falta de verdadeiro empreendimento.” De acordo com as observações de Tang, os recursos públicos apenas financiam os designers locais em termos de design criativo e processo de produção, não apoiando actividades de vendas e marketing. Infelizmente, aquilo de que os designers sentem mais falta é de pontos de venda. Tang considera que os designers de Macau já mostraram as suas capacidades em vários aspectos. A sua única desvantagem é a falta de recursos para abrir um espaço de venda para os seus produtos.


“Como pode o design ser um empreendimento se os produtos de design não têm plataformas de venda? A minha sugestão é que os organismos públicos liderados pelo Instituto Cultural possam escolher criteriosamente alguns produtos de design locais e colocá-los para venda e distribuição em vários pontos de atracção turística, bem como explorar possibilidades com várias operadoras de jogo para a instalação de lojas culturais e criativas nos espaços dedicados ao jogo. Ao oferecer-lhe pontos de venda, há a esperança de que o design possa transformar-se num empreendimento.”