Entrevista com Wilson Lam: longo caminho a percorrer no Design

02 2016 | 13a edição
Texto/Yuki Ieong

“Estou a perder dinheiro todos os dias nos meus projectos culturais e criativos. Mas é agora a oportunidade para promover a cultura e a criatividade”, diz o Director-geral da Criações de Macau, Wislon Lam Chi Ian. Desde o lançamento do Fundo das Indústrias Culturais pelo Governo da RAEM há dois anos, vários jovens têm vindo a ser atraídos por esta indústria. Lam está satisfeito com o crescimento da atmosfera local de cultura e criatividade, e tem encorajado sinceramente a nova geração a esforçar-se quando entra nesta indústria, já que não há atalhos para o sucesso.


Apesar de ir contra a vontade do pai, Lam começou a trabalhar numa agência de publicidade como estagiário, nos anos 70. Naquela altura, o trabalho de design de publicidade era na verdade a “escrita de outdoors”. Desde que se dominasse a arte das palavras e se ganhasse reputação junto das empresas, era possível desenhar cartazes para produtos e trabalhar nos longos textos para os “outdoors”. Não existia qualquer software ou manuais; as técnicas, a estética, as proporções e as formas ensinadas pelos mestres eram as que deviam ser seguidas como norma. Podia levar um ano de prática até se conseguir desenhar um quadrado básico a mão livre, e isso incrementou as capacidades de Lam na caligrafia, na pintura e no desenho. “Naquela época, era-se considerado um bom designer se se pintasse e escrevesse bem. No meu tempo, o conceito de custos de design não existia para anúncios comerciais. Hoje em dia as coisas estão melhores, mas essa noção ainda é frágil.”


A tecnologia tem vindo a desenvolver-se vertiginosamente. Técnicas que costumavam levar dez anos de treino podem agora ser executadas com um clique. Lam considera que a vida dos designers está facilidade hoje em dia, já que há uma quantidade riquíssima de recursos online, e a digitalização das ferramentas de design permite ideais ilimitadas para produtos. A divisão do trabalho está também melhor, mas existem igualmente preocupações.


“A desvantagem da tecnologia ultra-avançada é que os designers amadores raramente fazem ‘brainstorm’ quando criam produtos. Simplesmente inserem palavras-chave num motor de busca online e procuram elementos de design. Este hábito faz com que sejam facilmente influenciados por outros designers.”


Lam acrescenta que os estilos de fontes na sua geração eram ainda mais ilimitados. Os designers gostavam de desmantelar um carácter e adicionar-lhe diferentes elementos. “Diferentes estilos e estéticas são naturalmente desenvolvidos em diferentes eras. Mas não podemos ficar limitados pelas ferramentas. Tal como as ferramentas evoluem, também a mentalidade humana deve fazê-lo – elementos novos e velhos podem ser integrados e complementar-se.”


Entre 2009 e 2014, Lam reuniu artistas locais e abriu várias lojas que vendem produtos de viagem criativos. Um delas, o Cunha Bazaar, na Taipa, tornou-se até um ponto de referência para a criatividade e cultura locais. Lam procurou por empresas interessadas em cooperações em cada um dos seus projectos – não concorreu a qualquer subsídio do Governo para a cultura e criatividade. Lam considera que ao longo dos anos as autoridades têm convidado equipas estrangeiras para viajarem até Macau e apresentarem eventos como festivais de luzes e paradas, com vista a treinar os talentos locais, permitir que acumulem experiência e dando aos mais jovens a oportunidade de entrarem nesta indústria. “No meu tempo, ninguém sabia o que era o design. Aprendemos e explorámos passo a passo, por nossa conta. Agora que grandes subsídios e plataformas estão disponíveis, os mais jovens devem estimar esses recursos.” Lam tem ouvido jovens queixarem-se por não receberem apoio financeiro do Fundo das Indústrias Culturais. Ele, no entanto, considera que o elemento mais importante da cultura e criatividade são as oportunidades de negócio. Se uma proposta não apresenta um modelo de negócio, tratar-se-á apenas de um grupo de interesse e não receberá qualquer subsídio. “Tempo e esforço são necessários nas artes. Apenas aqueles que conseguem destacar-se dos seus pares e atrair outros a comprarem os seus produtos, apenas esses podem ser considerados artistas capazes, mas muitos confundem sucesso com a capacidade de obter subsídios do Governo”, diz Lam.


Lam tem insistido na ideia de ter o nome dos designers nos produtos, como forma básica de respeito pelos designers. Critica o actual sistema de aquisição do Governo por desrespeitar a indústria do design, já que requer a todas as companhias que participam em concursos públicos que submetam propostas que incluam diagramas de design, planos de produção e orçamento. No entanto, aqueles que não sejam bem-sucedidos no concurso não recebem qualquer retorno. “Temos de pagar por um prato de noodels mesmo que não sejam saborosos. Porque é que não há qualquer retorno para as agências de design que apresentam propostas mas não são bem-sucedidas? Esta prática fará com que outras empresas sigam o mesmo exemplo e isto vai retrair a indústria do design.” Lam é membro da Association of Registered Designers, em Ontário, no Canadá. Ali, para que os interesses dos designers estejam protegidos, há leis que proíbem os membros de participarem em concursos que não ofereçam compensações. Lam considera que Macau deveria ter este exemplo como referência.


Lam diz que existem muitas formas de o Governo permitir que os jovens estejam envolvidos no design de projectos públicos – por exemplo, no embelezamento das ruas ou, quando há concursos públicos para projectos de design, o Governo pode convidar os mais jovens a submeterem livremente a suas propostas online, e reter 30 por cento do orçamento para compensar as agências de design. Deste modo, a participação de todos seria mais justa.


Lam, membro importante de vários grupos culturais e criativos, diz em tom de brincadeira: “A reputação dos produtos culturais e criativos de Macau ainda tem de crescer, e o custo é elevado. A minha vida seria muito mais fácil se não me tivesse dedicado a produtos de viagem culturais e criativos, e me tivesse antes focado no design comercial. Mas continuo a percorrer este caminho porque me dá prazer fazê-lo.” Lam acredita que a atmosfera cultural e criativa é crucial para a promoção do desenvolvimento industrial.


“Experimentem pôr uma garrafa de água semelhante num supermercado e num centro comercial. Será certamente mais cara na segunda localização, já que imagens de marcas de luxo estão por toda a parte nos centros comerciais.” O sucesso da Criações de Macau não faz com que Lam pare de se dedicar a esta indústria. Ele não considera nada de mais o facto de umas quantas lojas dedicadas à cultura e criatividade estarem a conseguir ter resultados. Acredita que apenas ao unificar todos os domínios da cultura e criatividade de Macau, tornando-os numa marca cultural regional, e impregnando a cidade com uma atmosfera de cultura e criatividade – apenas assim pode esta indústria sobreviver.