Aquino despeja emoção em cada letra de caligrafia ocidental que pinta

12 2017 | 24a edição
Texto/Tan

As letras e caracteres em exibição num ecrã digital não radiam calor ou emoção. Mas quando se começa a escrever num pedaço de papel com o estilo pessoal, elabora-se uma obra de arte que é genuína e pessoal. Esta é também a essência da caligrafia ocidental. O artista local, Aquino da Silva, tem uma paixão enorme por caligrafia ocidental. As letras que ele escreve são tão magníficas como quadros de pintura. Com uma caneta de imersão e um boião de tinta, ele consegue partilhar a beleza da caligrafia com a sua audiência. Aquino dedica-se à promoção desta arte com história de mais de 200 anos, que muito poucos em Macau conhecem. 


Apaixonando-se por caligrafia


Aquino apaixonou-se por esta forma de belas-artes numa aula da universidade em que ele se sentiu profundamente inspirado pelo seu professor de caligrafia. Depois disso, começou a investigar caligrafia na internet e aprendeu as respectivas técnicas por si próprio, eventualmente formando o hábito de treinar caligrafia diariamente. Mesmo hoje ele ainda segue este hábito. Além de praticar escrever letras em papel, o que consiste no exercício mais básico na aprendizagem de caligrafia, também realiza experiências na fusão de caligrafia ocidental com produtos dos mais diversos tipos de materiais, no sentido de lhe conferir mais alma artística, tais como madeira, vidro, cerâmica, etc. Da perspectiva de Aquino, é possível combinar a tradição e a cultura com o uso comercial, o que lhe aumenta a exposição para mais comunidades e contribui para o desenvolvimento da caligrafia. 


As oportunidades de trabalho mais frequentes que Aquino recebe como calígrafo profissional são de escrever convites de casamento, ou convites em geral, assim como cartões de assento. Por vezes, ele até se desloca, pessoalmente aos recintos das actividades para fazer uma escrita sobre os produtos ou convidados das mesmas. Marcas de moda de renome internacional como Luis Vuitton e Jo Malone, entre outros, são também seus clientes. A moda hipster que tem estado em voga nos últimos anos também traz a caligrafia ocidental a um público mais geral, sendo que muitas pessoas hoje em dia gostariam de ter uma letra bonita. Deste modo, Aquino assumiu a responsabilidade de divulgar esta arte para as próximas gerações. Desde há algum tempo, ele tem estado a leccionar cursos de caligrafia em muitos centros educativos em Macau, para dar ao público a oportunidade de lhes proporcionar um vislumbre da caligrafia ocidental. Na verdade, o número de alunos inscritos nestas aulas está em subida. Aquino acredita que praticar caligrafia pode ajudar as pessoas a acalmar a sua mente e a libertar a tensão interior, pelo que consiste num tipo de terapia adequada a residentes urbanos. 


Construindo a sua própria caneta e criando oportunidades


As letras pintadas de forma elegante não são o único elemento que faz Aquino ficar louco por caligrafia ocidental. Também há ferramentas caligráficas. Para criar arte fantástica, é necessário ter boas ferramentas. O mesmo acontece em caligrafia. Para escrever bem, é preciso ter uma boa caneta. De acordo com Aquino, existem muito poucas lojas em Macau a vender canetas de aparo de qualidade, já que a caligrafia ocidental ainda não é muito popular na cidade. Inspirado por calígrafos estrangeiros, Aquino começou a construir a sua própria caneta de aparo. Desde a selecção de materiais, até ao design, passando pela construção da caneta, todo o processo foi completado por ele próprio. Esta caneta única conta, a partir daí, a sua própria história. 


A caneta de aparo que ele construiu é delicada. Chegou mesmo a atrair a atenção de pessoas de outros locais, incluindo Malásia, Singapura, Indonésia, etc. Na opinião de Aquino, existem oportunidades de mercado nas canetas de aparo fora de Macau. Consequentemente, ele decidiu levá-las a outros mercados. Recentemente, Aquino estabeleceu uma parceria com um fabricante japonês para produzir uma caneta de aparo feita de madeira e cerâmica. Apesar do custo elevado, Aquino insistiu neste design inovador e criou um novo caminho para produtos deste tipo. A caneta de Aquino foi um sucesso, muito elogiada pelo público. Uma livraria em Taiwan propôs inclusivamente colaborar com Aquino para realizar o seu lançamento no mercado. Como a primeira pessoa a combinar madeira e cerâmica no fabrico de canetas de aparo, Aquino sente-se satisfeito, comprometendo-se a promover a caligrafia ocidental através de vários canais e ajudá-la a avançar ainda mais. 


Auto-realização e herança cultural


Tendo-se despedido do seu emprego na função pública, bem remunerado, Aquino decidiu seguir a sua paixão por caligrafia. Ele acredita que a criatividade é essencial para todas as cidades do mundo, já que conduz a diversidade cultural e fomenta a criação de arte. Aquino espera vir a ter a oportunidade de comunicar e discutir sobre caligrafia com calígrafos ocidentais de todo o mundo num future próximo. Ele quer manter-se em aprendizagem enquanto ajuda a cena caligráfica a desenvolver-se em Macau. “Precisamos de continuar a criar novas obras de arte, para que mais pessoas sejam atraídas a entender melhor esta arte e para que a mesma seja mais valorizada,” concluiu Aquino.