Ashley Chong

Contabilista de profissão, Ashley faz parte de diversas associações de anime e banda desenhada em Macau. Foi ela que criou, ilustrou e desenhou a tira de banda desenhada do jornal Diário de Macau, no começo da década de 1990. Mais tarde, tornou-se autora de comics e presentemente é editora da MIND², uma revista de banda desenha publicada pela Comics Kingdom. Ashley participa também na organização da Exposição de Animação, Comics e Brinquedos de Macau, um evento organizado pela Macau Animação e Quadrinhos Aliança.

Que Futuro para a Indústria de Animé e BD em Macau?

14a edição | 04 2016

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Há três ou quatro décadas, pais e professores acreditavam que a banda desenhada e os desenhos animados eram maus para as crianças. Só há uns poucos anos as pessoas começaram a ter uma perspectiva diferente acerca da animé e da bd, graças a políticas relevantes levadas a cabo a nível regional e nacional. Agora, a animé e a banda desenhada fazem parte das indústrias criativas, e há um departamento governamental que supervisiona o desenvolvimento do sector em Macau. A sociedade, em consonância, também começou a repensar aquilo que a animé e a banda desenhada realmente são. De há um certo tempo a esta parte, as associações de animé e de bd locais tornaram-se parceiras muito populares de várias feiras comerciais.


Na verdade, esta indústria já consolidou a sua posição em muitos países e regiões. A animé e os livros de banda desenhada expandiram-se de tal modo que foram transformados em produtos, gerando receitas enormes. Este modelo de negócio já é muito conhecido e alguns países investiram significativamente nesta indústria, esperando um crescimento económico a longo prazo relacionado com ela. Por exemplo, há cidades no interior da China que organizam regularmente grandes festivais de banda desenhada e animé com apoio regular dos governos locais. Apesar de a qualidade ainda não ser a mais elevada, pelo menos ajuda a promover todo o sector e atrai atenções internacionais.


Macau é pequenino mas, com o apoio da tecnologia e da internet, bem como de políticas relevantes, a indústria da animé e da banda desenhada em Macau já não é algo que dê prejuízo. Sem contar com uma série de lançamentos de novos livros e de exposições, é fácil encontrar no dia-a-dia animé ou personagens de bd criadas localmente: em estacionário, roupas, artigos de uso diário, bonecos, acessórios, lembranças e até restaurantes temáticos. Alguns departamentos governamentais também gostam de usar tais personagens para promover políticas ou eventos festivos, e conglomerados do jogo já contrataram artistas de bd locais para elaborar os seus panfletos promocionais. Os concursos de banda desenhada são escolhas populares quando as associações locais organizam actividades, dado serem simples de organizar. As instituições educativas com uma visão clarividente começaram a oferecer cursos de formação profissional relevantes para fomentar o talento. Com os subsídios fornecidos pelo Gabinete de Educação e Juventude, algumas associações também começaram a oferecer cursos básicos sobre animé e banda desenhada, mas frequentemente não há instrutores qualificados em número suficiente para leccionar tais cursos. Após anos de esforços, as Doujinshi (termo japonês que descreve edições de autor tipo fanzine, normalmente revistas, bd ou novelas), que em tempos foram de pequena escala, ganharam relevância. Começam a surgir conferências e exposições sobre temas relacionados. Embora haja espaço para melhorar e o impacto deste sector ainda seja incerto, o progresso feito até ao momento é um passo significativo rumo à industrialização.


Com uma imagem tão cor-de-rosa, vamos ver o que está a acontecer na realidade. Macau é uma pequena economia aberta e só há uma indústria que prospera realmente por aqui. Já conhecemos as melhores práticas no estrangeiro. Mas, dada a dimensão de Macau, mesmo que tenhamos toda a infra-estrutura preparada, continua a ser difícil voar alto.


Também é difícil mudar mentalidades, mesmo que a política se tenha alterado. Algumas pessoas ainda pensam que a animé e a bd são o mesmo que cosplay, uma actividade pela qual só os adolescentes se interessam. Os fãs de animé em Macau possuem um elevado poder de compra, mas preferem as produções e os produtos estrangeiros. Mesmo que se tenha uma boa ideia de negócio, é improvável trabalhar em Macau, pois o mercado é pequeno e a renda elevada. E há uma escassez de talento e de recursos humanos. É por isso que um restaurante temático em torno da animé não se pode manter fiel ao seu posicionamento original. Actualmente, a maioria dos artistas de animé e bd de Macau são amadores. Se não se tem um emprego a tempo inteiro, é impossível financiar este hobby. Mesmo que se publique um livro de banda desenhada, as vendas e o marketing são uma dor de cabeça. Se se realizar uma exposição ou se se organizar uma visita de estudo, os artistas envolvidos têm de acarretar com uma grande quantidade de trabalho administrativo. Mesmo que uma obra individual seja excelente, devido ao pequeno número de produções e ao tempo necessário para as fazer, o crescimento global é lento. O custo de organizar exposições de animé e de banda desenhada é elevado, e os subsídios governamentais nunca são suficientes para cobrir as despesas.


A industrialização da animé e da banda desenhada em Macau é o caminho certo. Ainda falta muito até se concretizar e ainda estamos longe de ter um galinha dos ovos de ouro. Não é um caminho fácil, mas acredito que as pessoas neste sector irão avançar firmemente.