Lam Fai

Viaja pelo mundo, é colunista, autor do livro Travel Between Hope and Pain, co-fundador e editor-chefe do website IronShoe Travel Channel.


Publicar em Taiwan

8a edição | 08 2015

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Antes de dar a volta ao mundo, já tinha planeado escrever e publicar relatos de viagem. Penso que este desejo é comum à maioria dos viajantes. Fui escrevendo enquanto estava na estrada, e só o conteúdo do diário de viagem era o suficiente para fazer dois livros. Por isso, quando já tinha completado mais de metade do percurso, comecei à procura de uma editora com a ajuda de amigos. Por fim, encontrei a Reading Times, em Taiwan, e os editores gostaram do meu trabalho. Estreei-me no ano passado na literatura de viagem com Travel Between Hope and Pain, sobre a minha viagem à Ásia Central e ao Médio Oriente. A sequela do livro vai ser lançada em Setembro e é sobre a minha viagem à Europa, América do Sul e América Central.

Vários amigos perguntavam: “Sendo tu de Hong Kong, por que razão optaste por publicar em Taiwan?”


No que diz respeito à literatura de viagem, não sou o primeiro cidadão de Hong Kong a publicar em Taiwan. A Journey that Starts From the End of the Silk Road, de Chow Chung Wah, Daydream Traveller, de Ng Mun Mun, e vários livros de Susanna Cheung Chui Yung foram publicados em Taiwan muito antes de o meu livro estar pronto. Este ano foi lançada a obra de Ueda Riki, Quit Your Job, Hit the Road e, tanto quanto sei, outros viajantes de Hong Kong também estão a planear publicar as suas obras em Taiwan. Optei por Taiwan principalmente porque tem leitores. Taiwan tem uma população de 20 milhões de pessoas. Com fortes hábitos de leitura, Taiwan tem naturalmente mais leitores do que Hong Kong. E isso é evidente quando se olha para o volume da tiragem das primeiras edições. Em Hong Kong, as primeiras edições têm geralmente uma tiragem de mil cópias (algumas apenas 500 cópias). São poucas as vezes que as vendas justificam a aposta numa segunda ou terceira edição. Já em Taiwan, a primeira edição de uma obra costuma superar as duas mil cópias e o lançamento de edições subsequentes são comuns.


Existe outra razão para a minha opção: em Taiwan existe uma maior disponibilidade por parte dos leitores para a leitura de obras sérias e com muito texto. Por outras palavras, os leitores estão mais dispostos a ler obras de diferentes géneros porque o mercado em Taiwan é maior e os leitores têm mais qualidade. O meu livro é um registo mais sério de literatura de viagem e eu acredito que os leitores taiwaneses estão mais preparados para consumir este tipo de obras.


Se um escritor quer aventurar-se pelo mercado taiwanês, então porque é que os seus livros não são publicados em Hong Kong e depois enviados para Taiwan? Além da qualidade da obra, também a promoção e os canais de distribuição são essenciais para o sucesso da venda de um livro. Em Taiwan, com o apoio da editora, é mais fácil obter exposição mediática e organizar debates literários para promover as obras. Além disso, as livrarias em Taiwan dão prioridade aos livros publicados localmente e, como é evidente, vão dar ênfase a esses livros nas suas prateleiras, onde ficarão, além disso, por um maior período de tempo. Por isso, se procura chegar ao mercado taiwanês, é natural que o seu livro seja publicado em Taiwan.


Escolhi Taiwan em vez do interior da China, onde o mercado é maior, pelas seguintes razões: em primeiro lugar, tanto em Taiwan como em Hong Kong são utilizados os caracteres chineses tradicionais. Mesmo que a utilização seja por vezes diferente, raramente temos dificuldades de comunicação. Por isso, mesmo que um livro seja publicado em Taiwan, pode ser vendido directamente em Hong Kong, sem que para isso seja necessário converter numa outra língua ou versão. Em segundo lugar, se um trabalho incluir conteúdo politicamente sensível, a censura no interior da China pode ser uma verdadeira dor de cabeça. Em comparação com o interior da China, a liberdade de imprensa em Hong Kong e Taiwan é uma vantagem real.


É de realçar que a indústria da edição está em declínio tanto em Hong Kong como em Taiwan. É difícil publicar uma obra que tenha conteúdo de grande qualidade e que ao mesmo tempo seja comercializável. Tenho vários amigos que estão pessimistas em relação ao futuro do mercado editorial. Mas eu ainda acredito que uma sociedade precisa de bons livros. Talvez os hábitos de leitura mudem, mas um bom escritor acaba sempre por conseguir contar a sua história aos leitores. Portanto, continuemos todos a fazer um bom trabalho.