Joe Lei

Compositor e letrista em Hong Kong e Macau. Escreveu mais de 300 canções. É Capricórnio e gosta de chamar as coisas pelos nomes.

Último conselho – o que aprendemos com o declínio da cena musical de Hong Kong? (IV)

4a edição | 04 2015

Os bons tempos não duram para sempre. E, nos bons tempos, a indústria da música de Hong Kong não tirou o proveito que devia, o que levou à sua queda dolorosa. Há outras razões para este fracasso:


O monopólio de uma estação


A indústria televisiva de Hong Kong tem sido desde sempre dominada por uma estação (quase que não vale a pena mencionar a ATV). Mas a TVB nada fez para apoiar ao longo dos tempos a indústria musical de Hong Kong. Claro que as audiências dos programas musicais já não são suficientemente elevadas para os tornar comercialmente viáveis. No entanto, há alguns anos, a TVB e algumas editoras discográficas entraram numa disputa por direitos de autor. Com o monopólio da TVB, alguns cantores foram forçados a desaparecer do ecrã da televisão. Foi um golpe ainda mais duro para a indústria musical.


A Era da Internet


Sem o poder comercial das estações de televisão e com a queda das audiências da rádio, hoje os anúncios externos de grande dimensão que promovem os cantores em Hong Kong são poucos e pontuais. Cerca de 90 por cento da promoção dos músicos faz-se agora nas redes sociais. Um artista consagrado não precisa de trabalhar na sua promoção online porque os fãs se encarregam de o fazer. Mas promover nomes menos conhecidos da música está a tornar-se num trabalho cada vez mais difícil para as produtoras. Os internautas também são volúveis – aquele que é hoje uma estrela, pode amanhã cair em desgraça. Para estas produtoras discográficas, é quase impossível cultivar uma estrela como Andy Lau, conhecido há três décadas.


Conclusão


Que lições podemos retirar do declínio da cena musical de Hong Kong? A habilidade de se adaptar e de mudar rapidamente é a principal. O livro Quem mexeu no meu queijo? ensina-nos que, se o nosso queijo for roubado, devemos calçar os sapatos e partir à procura de um novo pedaço, em vez de choramingar e ficar à espera que seja devolvido. Este é um mundo de rápidas mudanças. O delicioso pedaço de queijo pode ser retirado da nossa mão de um momento para o outro. De certa forma, a morte lenta da indústria musical de Hong Kong era inevitável, mas a verdade é que também aconteceu porque ficámos presos a antigos hábitos, com receio da mudança, a guardar o pedaço de queijo à medida que se ia tornando cada vez mais pequeno. Este pedaço de queijo foi algo de precioso e glorioso no passado e não quisemos larga-lo. Mas, certo dia, olhámos para o queijo na nossa mão e percebemos que restavam apenas migalhas. Já era tarde de mais para procurar uma nova fatia de queijo. Todos morreram à fome, ou congelaram num Inverno rigoroso.


Nos bons tempos, não cultivámos novos talentos.

Nos bons tempos, não abrimos novos mercados.

Nos bons tempos, não inovámos nem desenvolvemos os gostos do público.

Nos bons tempos, não melhorámos a qualidade das músicas.

Nos bons tempos, não nos esforçámos por mudar.


Neste momento, a indústria da música pop de Macau não está assim tão mal. Mas devemos nós ser benevolentes com o sucesso neste mercado minúsculo? Basta-nos copiar os modelos das indústrias musicais de Hong Kong e Taiwan? Ou podemos criar o nosso próprio estilo? Pode esta indústria inexperiente sobreviver neste mundo online competitivo e de mudanças vertiginosas? Conseguiremos nós desenvolver alguma resistência e mudar atempadamente? Espero que possamos aprender com o sucesso de Hong Kong, mas também com o seu fracasso, e mantermo-nos de pé. O sucesso é algo extremamente difícil, mas falhar é fácil. Basta apenas um momento de descuido e de complacência. Espero que possamos continuar a encontrar novos queijos para conseguir sobreviver nesta nova era.


(Fim)