Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Uma avenida para descontrair

37a edição | 02 2020

Às vezes pergunto-me que rua poderia representar o meu estilo de vida na cidade em que vivo.


As ruas são as correntes sanguíneas de uma cidade. Uma rua divertida deixará definitivamente uma impressão inesquecível e maravilhosa nos visitantes de uma cidade. Telavive é uma cidade jovem e humilde. Sempre que penso nesta muito elegante cidade de Israel, tenho sempre em mente a Avenida Rothschild. Quando estava a viajar em Telavive, fiquei perto da Rothschild, que é um cruzamento de trânsito pelo qual se passa a caminho de atracções turísticas como a zona de Yafo ou as animadas praias da zona costeira. Era uma avenida pela qual eu passava sempre, e onde também ficava mais tempo pelas coisas divertidas que ali aconteciam.


A Avenida Rothchild, com dois quilómetros de extensão, foi a primeira a ser projectada em Telavive, desfrutando de grande fama entre os habitantes locais. As casas antigas ao longo da avenida também são testemunhas do estabelecimento de Israel. Em 1948, a Declaração de Independência de Israel foi assinada aqui, no actual Museu da Independência.


Aqueles que estiverem interessados em arquitectura Bauhaus, provavelmente desejarão ficar na Rothschild por mais tempo. Entre as décadas de 1920 e 1930, a arquitectura Bauhaus começou a receber atenção na Alemanha. Depois de Hitler assumir o poder em 1933, mais e mais judeus começaram a fugir para Israel, o que também trouxe as linhas Bauhaus para Telavive. Muitos dos arquitectos judeus eram, de facto, formados na Bauhaus Dessau. Vieram para Telavive, uma cidade que estava a começar a desenvolver-se, e transformaram estes desertos no seu campo de experimentação. Para ajudar os imigrantes deslocados pelo caos na Europa a estabelecerem-se em Israel, tornou-se uma necessidade urgente construir um grande número de casas num muito curto espaço de tempo. Foi por isso que o Bauhaus foi capaz de se diferenciar, embora naquela época este estilo parecesse gasto. O Bauhaus foi sem dúvida a solução ideal quando os recursos eram limitados.


O design estreito das janelas pode bloquear o sol intenso de Telavive, enquanto o design das varandas e o fundo oco garantem boa ventilação. O design linear e de formas simples é a garantia de que não haverá desperdício de materiais de construção. O design Bauhaus acredita na funcionalidade e incorpora a sua estética nestes traços aparentemente práticos. Para economizar nos custos de construção, estes edifícios de aparência simples quase não têm decorações adicionais. Mas estas varandas curvas e edifícios simétricos parecem incrivelmente clássicos hoje. A Avenida Rothschild concentra os edifícios Bauhaus mais interessantes da cidade. Muitos dos edifícios estão realmente sob protecção e foram convertidos em hotéis-boutique, restaurantes, etc.


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Uma secção da Avenida Rothschild concentra muitas das sedes mais caras dos bancos em Telavive, tornando a Rothschild um centro financeiro da cidade. Surpreendentemente, este robusto centro económico não é excessivamente movimentado. Ainda é possível encontrar muitos estabelecimentos que se dedicam a fazer bom café. Estes pequenos cafés estão sempre lotados. Na Avenida Rothschild é também possível encontrar muitos espaços de performance, pois este também o centro cultural de Telavive. Os becos escondem vários dos restaurantes e cafés mais populares da cidade. A Avenida Rothschild cumpre diferentes funções em Telavive, atraindo um conjunto diversificado de pessoas. É isto que faz da Rothschild a avenida mais clássica da cidade.


A Avenida Rothschild começou a perder sua prosperidade a partir das décadas de 1960 e 1980. A avenida tornou-se suja e as suas infra-estruturas começaram a deteriorar-se. No entanto, a avenida recebeu sangue novo em 2005. O governo local projectou um esquema de revitalização para restaurar edifícios históricos e as pessoas começaram a voltar à Rothschild. A chegada de moradores também trouxe novas forças culturais à avenida. A maior mudança que ocorreu na Avenida Rothschild foi provavelmente a iniciativa de torná-la num espaço aberto a todos.


A Rothschild não é uma avenida típica. Tem faixas muito estreitas para carros, mas de alguma forma oferece um óptimo espaço aberto para bicicletas e pedestres. No meio da Avenida Rothschild há aquilo que se assemelha a um parque cheio de árvores viçosas. O serviço público de bicicletas e scooters de Telavive tem sido extremamente bem-sucedido. Também existem faixas destinadas especificamente às pessoas que usam estes transportes públicos alternativos. O tráfego aqui funciona muito bem desde que todos sigam as regras de trânsito.


No parque há inúmeras cadeiras e bancos onde as pessoas podem descansar ou deitar-se para olhar o céu ou ler um livro. Há também bibliotecas móveis. Espaços abertos com sombra e tomadas eléctricas estão ao dispor das pessoas que procuram um local para trabalhar ao ar livre. Afinal, ficar no escritório o dia inteiro é provavelmente aquilo que mata a inspiração. Telavive é famosa pelas suas startups. E podemos encontrar muitos empreendedores a passear pelas ruas em busca de inspiração.


A Avenida Rothschild Boulevard é um destino. As pessoas vêm aqui sem um propósito definido. Provavelmente estão apenas a relaxar, sem rumo. Mas para os atarefados moradores urbanos de Telavive, uma avenida que oferece um espaço para fazer uma pausa é muito necessária na cidade.