Ashley Chong

Contabilista de profissão, Ashley faz parte de diversas associações de anime e banda desenhada em Macau. Foi ela que criou, ilustrou e desenhou a tira de banda desenhada do jornal Diário de Macau, no começo da década de 1990. Mais tarde, tornou-se autora de comics e presentemente é editora da MIND², uma revista de banda desenha publicada pela Comics Kingdom. Ashley participa também na organização da Exposição de Animação, Comics e Brinquedos de Macau, um evento organizado pela Macau Animação e Quadrinhos Aliança.

Trinta anos de Comics de Macau

18a edição | 12 2016

06_鍾妮_01.jpg


A economia de Macau estava a crescer rapidamente nos anos 80 e foi nesse período que a banda desenhada (bd) de Hong Kong e do Japão tiveram um grande impacto na cidade. Alguns fãs de bd começaram a criar grupos para escrever bd durante os seus tempos livres. Publicavam os seus trabalhos e ocasionalmente faziam exposições. No começo, estas actividades eram financiadas pelos próprios artistas. Mais tarde, foram convidados para contribuir com as suas tiras de bd para jornais e revistas. Os amantes de bd não tinham o seu próprio estilo numa primeira fase. Os seus formatos e estilos seguiam os de Hong Kong e do Japão. Se julgarmos esses trabalhos à luz do que hoje se faz, podemos considerá-los caricatos e retrógrados. Na verdade, foram esses trabalhos de qualidade abaixo da média mas com grande paixão que criaram as bases para o que hoje existe em termos de bd e animação em Macau.


Nos primeiros tempos os grupos de amantes de bd eram na sua maioria movimentos alternativos. Transformaram-se em associações mais tarde, e agora aparecem cada vez mais grupos graças às políticas relevantes que promovem o crescimento do sector. Passaram 30 anos. Olhando para trás, quantos desses fãs de bd ainda estão a criar o seu próprio trabalho? Alguns deles têm trabalhado afincadamente e tornaram-se artistas, mas já não se consideram artistas de bd. Alguns têm um trabalho a tempo inteiro e ocasionalmente fazem umas quantas ilustrações. Outros associaram-se às indústrias criativas e criaram as suas próprias marcas. É triste saber que muitos deles já perderam o interesse e a paixão pela bd. A bd teve apenas um papel em determinadas fases das suas vidas. Bom, isto é obviamente importante mas acabou. Há pessoas que continuam a desenhar bd desde jovens e que agora estão na meia-idade. Passaram pelos altos e baixo deste sector, conseguindo publicar os seus trabalhos e apresentar exposições relevantes. A sua determinação e firmeza em relação ao sector da bd e da animação merecem o nosso respeito.


Hoje em dia, a bd e a animação tornaramse parte de indústrias criativas. Mas na verdade são diferentes das outras formas de arte no que toca aos temas dos trabalhos, aos conteúdos, aos canais de promoção e às audiências. Tal como os textos, a bd e a animação são um meio de expressão e podem ser apreciadas tanto por estudiosos como por leigos. Por exemplo, os trabalhos de bd de Tsai Chih-Chung sobre os clássicos chineses, e a longa série de bd japonesa que tem como tema certas profissões e indústrias, são ambas divertidas e cheias de conhecimento. Em Macau, vários artistas também trabalharam sobre temas como a história, a religião e o património mundial. Recentemente, foi criada uma série de bd que tem o boxe como tema, baseada em personagens e eventos reais. Contudo, nesta sociedade orientada para o comércio, o mercado da maior parte da bd e da animação são os adolescentes e, por isso, a maioria dos produtos visa o entretenimento ou estimular os sentidos. As ilustrações saltam à vista, mas o conteúdo é fraco e aborrecido. Por vezes são feitas apenas para leitores com um interesse específico. Quando os amantes de bd se tornam mais maduros, tendem a ler mais e considerarão que este tipo de álbuns de bd não satisfaz de todo as suas necessidades. Acabarão por se cansar de lê-los. Aqueles que ainda estão a fazer bd têm vindo a pensar e a explorar como criar os seus próprios estilos. Esperam poder criar algo que não tenha apenas valor comercial. E os obstáculos que os artistas amadores de bd enfrentam são na realidade secundários.


Quando olhamos para outras formas de arte como a literatura, dança, música, teatro, ópera e fotografia, tratam-se de áreas enormes e os seus apreciadores podem passar tanto tempo quanto possível a embrenhar-se nelas. Os conteúdos dessas formas de arte tornam-se cada vez mais ricos depois de anos de trabalho dos seus criadores. A bd e a animação também são formas de arte. Mas por mais que os artistas de bd trabalhem arduamente, parece que nunca conseguem fazer o sector florescer. Ainda que o sector tenha ideias colaborativas com outras formas de arte, e que se esteja a adaptar para teatro um clássico de bd, estas colaborações não são algo que os artistas amadores de bd sejam capazes de levar a cabo. Além disso, tais projectos tornam-se noutra forma de arte e já não são vistos como bd.


Há obviamente amantes de bd em todas a eras, e a sociedade tem vindo a desenvolver-se. Como um compromisso forte face às indústrias criativas nos últimos anos, Macau tem hoje um sistema educativo e uma economia muito melhores do que antes. Isto tem encorajado os mais jovens a perseguirem os seus sonhos. Novos grupos de bd e animação continuam a aparecer em Macau. Os artistas de bd independentes também estão a emergir. Eles não seguem as regras tradicionais, e são mais criativos e ousados.


Espero que os novos artistas de bd possam continuar a perseguir os seus sonhos e a contribuir para o sector da bd e da animação em Macau.