Hengqin é uma via de acesso à Grande Baía para os artistas de Macau
——Entrevista com Eagle Chan, fundador da Zhuhai Majiaoying Culture Co., Ltd.

01 2022 | 47a edição
Texto/Yvonne Yu e Lam Chon In

Fotos cedidas por Lei Hou Un e Un Hon In

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Em Macau, todos conhecem Eagle Chan, o compositor da canção Unidos como uma Família na Cidade de Lótus por “Kam Ieng” (Águia Dourada), que corresponde ao título adoptado por Eagle aquando da sua estreia como jovem cantautor em Macau. Tendo batalhado ao longo de vários anos na indústria do entretenimento de Macau, a “Águia Dourada” com que hoje nos deparamos afigura-se-nos muito diferente do jovem cantor de outrora. Felizmente, o “fogo” da sua juventude ainda lhe arde no peito. Após desempenhar o papel de pai e de chefe, Eagle ficou mais maduro. Nos últimos anos, tem-se deslocado várias vezes ao Interior da China para realizar intercâmbios culturais e musicais, tendo alargado os seus horizontes e definido melhor as suas aspirações. “A Zhuhai Majiaoying Culture Co., Ltd. foi uma experiência totalmente nova para mim. Antes da minha entrevista, encerrei alguns negócios que tinha em Macau, pelo que foi como se estivesse a começar novamente do zero.” Eagle fala do passado com algum desconsolo, mas não sem albergar grandes expectativas em relação ao futuro.


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Eagle Chan, fundador da Zhuhai Majiaoying Culture Co., Ltd.


Hoje em dia, a pura identidade de cantautor já não satisfaz a sua alma de artista, a qual está prestes a “sair da casca”. “Quero mostrar aos artistas de Macau de todas as gerações que a opção de sair de Macau e entrar na Grande Baía é muito promissora. Embora não seja fácil para mim, digamos que estou a tentar mudar a ecologia de uma indústria. Gastei muita energia a combater ideias pré-concebidas.” Apesar de encolher os ombros e de abanar a cabeça em sinal de impotência, como é seu hábito, desta vez, Eagle não mostra qualquer sinal de vacilação nos seus olhos, os quais evidenciam, pelo contrário, uma enorme vontade de experimentar algo novo. “Mas acho que vale a pena. Macau precisa deste tipo de mudança! Sobretudo as gerações mais novas, as crianças de hoje; é preciso incutir-lhes novas perspectivas e encorajá-las para que tenham mais possibilidades no futuro.” A pandemia desferiu um duro golpe na indústria das artes performativas de Macau, dificultando, em certa medida, o desenvolvimento desta nos últimos dois anos. Mas tempos de crise são também tempos de oportunidade, pelo que, apesar de haver muitas incógnitas e razões para preocupação, Eagle considera que é necessário haver pioneiros com coragem para desbravar o caminho. 


O primeiro grande projecto da Majiaoying em Hengqin foi a criação, em colaboração com a AHA, de um espaço de trabalho para start-ups de artistas de Macau. Particularmente interessante é o facto de que as áreas reservadas às artes performativas do centro constituem o espaço de trabalho de companhias artísticas de Hong Kong e Macau. Por exemplo, a sala de gravação, que está totalmente equipada, é essencialmente ocupada pelo estúdio USing Creative, onde trabalham docentes da Escola de Xinghai e pessoas de Macau. A liberdade e a flexibilidade do trabalho musical permitem alternar a utilização do estúdio de gravação como espaço de trabalho e como espaço alugado, podendo o estúdio ser alugado ao dia ou à hora. Para além de ser possível alugar o espaço e vários equipamentos, é ainda possível alugar “mão de obra” e obter assim assistência profissional em toda a linha de montagem, o que se revela útil quando se pretende realizar uma gravação no Interior da China, pois permite contornar a necessidade de contratar um estúdio a tempo inteiro. Por sua vez, a sala de ensaios do centro tem capacidade para mais de 50 pessoas, estando equipada com espelhos desde o chão até ao tecto. Já a sala de streaming constitui também um espaço de destaque do centro, tendo realizado com êxito uma série de conferências de imprensa relativas a projectos de cooperação entre Hengqin e Macau.


“Acho que fazer uma canção ou um álbum é coisa do passado. Agora, toda a gente prefere fazer propriedades intelectuais (PIs). Quando olhamos para o mercado internacional, constatamos que muitos artistas criaram um PI pessoal, não apenas para lançar músicas, mas também para cruzar o PI com uma marca. Actualmente, no Interior da China, verifica-se a mesma tendência. Aqueles que gostam de um PI também gostam dos vários produtos associados ao mesmo, por recomendação ou colaboração. Isto constitui igualmente uma inovação na indústria da música.” Para abrir caminho à entrada de artistas de Macau no mercado chinês, Eagle considera que a criação de um PI é incontornável. “Os artistas de Macau podem usar a vantagem geográfica da sua cidade, podendo também formar um colectivo. cultural e criativo de Macau, cuja força terá ainda mais impacto no mercado chinês do que um artista a solo. Por outro lado, Hengqin serve também de atalho para entrar na Grande Baía, pois a actual cooperação entre Hengqin e Macau contribui bastante para promover e financiar este sector, possibilitando assim muitas experiências.”


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A Majiaoying, sediada na AHA, abrange um estúdio de gravação, um estúdio cinematográfico, um estúdio de streaming e uma sala de ensaio de dança, constituindo um ateliê de artes performativas muito completo.