Forma de sobrevivência das livrarias tradicionais

04 2018 | 26a edição
Texto/Jasper Hou

Apesar de ser uma cidade pequena, Macau ainda possui diversas livrarias com características diferentes, algumas das quais pretendem proceder à gestão da diversidade e expander novos negócios para além da venda de livros. Será que este tipo de livrarias vai conduzir à transformação das livrarias tradicionais no território? Qual é o futuro delas? A presente edição da revista C2 convidou os representantes das três livrarias locais, nomeadamente, Slow Tune, Pin-to Livros e Wan Tat, a partilharem os seus pontos de vista.


Livraria Wan Tat   Pin-to Livros


Livraria Slow Tune

 

Co-fundada por três pessoas, a livraria Slow Tune entrou em funcionamento há cerca de 2 anos e enfrentou, como qualquer outra livraria tradicional, o desafio ligado à dificuldade na obtenção de lucro através da mera venda de livros. Para aumentar a receita, o dono da livraria, Jeff, não deixa de desenvolver actividades diversificadas e introduzir na livraria elementos culturais, visando atrair mais clientes. Ele ainda acredita firmemente no valor de existência de livrarias nesta era, em que os livros estão cada vez mais longes da nossa vida. A livraria Slow Tune tem como perspectiva proporcionar aos consumidores um espaço para os pensamentos assentarem.

 

Fornecer um espaço agradável

 

Além de ser o dono da livraria, Jeff também é um designer e tem a sua própria companhia de design. Desde criança, gosta da leitura, pelo que co-fundou a livraria Slow Tune com a sua esposa e um amigo. Ao ser questionado sobre a designação desta, Jeff explicou que Slow Tune deriva da expressão chinesa homofónica, que significa “sem pressa”. “Hoje em dia, o ritmo de vida das pessoas é cada vez mais rápido e dar uma olhada nas informações na Internet já se tornou num hábito de leitura da maioria dos jovens, pelo que ler um bom livro sem ser incomodado nem ter pressa parece ser um luxo. Pretendemos fornecer aos clientes um espaço tranquilo para que possam gozar da atmosfera de leitura ‘sem pressa’”.

 

Jeff quer partilhar os seus livros e produtos favoritos com os clientes, pelo que o seu gosto reflecte-se nos produtos à venda. Para além dos livros, ainda se vendem na livraria os produtos culturais e criativos originais e os de comércio justo. “O objectivo de introduzir os produtos de comércio justo não apena preenche a vaga no mercado de Macau, mas sim traz os conceitos de protecção ambiental e de igualdade à livraria. O preço talvez seja relativamente elevado, mas um produto de qualidade tem custos, tais como os relacionados com matérias-primas e produção manual”, afirmou Jeff.

 

Partilhar é a maior alegria que a livraria dá-me

 

Para Jeff, a maior alegria que a livraria dá-lhe é o reconhecimento dos livros e produtos seleccionados pelos consumidores. “Cada livro que se vende carrega o reconhecimento da livraria por um cliente. É muito bom o sentimento de partilha. Actualmente, os clientes são, na sua maioria, pessoas entre os 20 e os 30 anos de idade. Criámos também uma página no Facebook, esperando que mais pessoas tenham acesso à informação actualizada sobre as nossas actividades. Promovemos novos e bons livros todas as semanas e mantemos a comunicação com clientes”, revelou Jeff.

 

“Na realidade, o desenvolvimento de livros electrónicos tem influência sobre as livrarias tradicionais, mas eu já experimentei diversas formas de leitura e sem um livro nas mãos não sinto que estou a ler. Quando está a ler um livro electrónico, pode ser incomodado pelo brilho da tela ou outras Apps, e assim não consegue estar atento à leitura. Portanto, as livrarias tradicionais ainda têm sua vantagem, pelo menos, podendo fornecer-lhe um ambiente tranquilo e confortável”, declarou Jeff.

 

Responder ao desafio e criar novas fontes de clients

 

Jeff pensa que a maior dificuldade enfrentada na gestão da livraria consiste em encontrar uma solução para aumentar a divulgação e atrair mais clientes. “O mercado de Macau é pequeno, e o custo de algumas formas tradicionais de publicidade é muito alto, pelo que as PMEs só podem recorrer à divulgação online, embora tenha pouco efeito. Portanto, organizamos uma variedade de actividades culturais como workshops de pintura, corte de papel e caligrafia, com o intuito de atrair mais jovens clientes e criar a nossa própria marca e obter reconhecimento público.”

 

Na opinião deste livreiro, a logística e o transporte, que podem influenciar directamente as fonts dos livros, desempenham um papel essencial. “A quantidade e o peso dos livros são grandes. É necessário optar-se pelo transporte marítimo, tendo em consideração a questão do custo. Mas, principalmente, os livros têm que passar por transbordo em Hong Kong antes de chegarem a Macau, o que aumenta o custo, pelo que, para aquelas pequenas livrarias locais com poucos livros nas estantes, é muito difícil encontrar uma editora cooperadora estrangeira. Actualmente, a livraria Slow Tune já tem parcerias estáveis com quatro editoras de Taiwan, e vai procurar mais fontes de livros no futuro”, declarou o dono da livraria.

 

Cooperar com artistas de outras áreas e criar uma marca original

 

Para Jeff, há uma tendência do desenvolvimento das livrarias de Macau rumo a livrarias integradas. “A mera venda de livros gera pouco lucro, pelo que a única solução para atrair mais clientes é equipar a livraria com outras atracções, através da introdução de produtos relacionados ou outros produtos culturais e criativos. Esta é um dos modelos de desenvolvimento das livrarias locais. Aquelas que só vendem livros serão, muito provavelmente, eliminadas por causa do pequeno tamanho do mercado de Macau”, ressalvou Jeff.

 

Para além de lançar mais produtos culturais e criativos da sua própria marca, a livraria Slow Tune ainda tenta cooperar com artistas de outras áreas para conceber e produzir produtos locais que integrem diferentes elementos de arte. “A minha empresa pode integrar design no processo de produção. Alguns artistas não sabem como tornar as suas obras em produtos vendidos, então vamos ajudá-los a apresentar adequadamente as suas obras nos produtos à venda na livraria Slow Tune”, relevou Jeff.