A arte de conviver com a pandemia

11 2021 | 46a edição
Texto/Sara Lo

A luta sem fim contra a pandemia é exaustiva. Como podemos conviver com a pandemia quando esta se tornou a norma de vida? Em Fevereiro deste ano, um estudo da Comissão da Cultura e da Educação da União Europeia revelou que as receitas das indústrias culturais e criativas diminuiriam em 31%, em 2020, em comparação com as de 2019. O trabalho dos profissionais da arte e da cultura, que fazem parte do grupo de pessoas mais vulnerável a um clima de instabilidade, é ainda mais incerto face à pandemia. No entanto, o poder das artes para acalmar as pessoas fica agora ainda mais evidente.


Simultaneamente, a pandemia torna-se uma norma inevitável e serve de oportunidade para o público examinar as possibilidades de mudança de hábitos da vida quotidiana ao longo dos anos. Diferentes estilos de exposições têm evoluído para se manifestarem de formas diversas em resposta à pandemia: os museus auto-financiados utilizaram a mais recente tecnologia para aproximar as pessoas umas das outras e, ao mesmo tempo, o público e as exposições; os espectáculos de teatro saíram do seu formato habitual, deixando de utilizar o teatro como o lugar comum de apresentação e saltaram os limites da tradição para procurar abordagens mais diversas e orientadas para o público.


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Toy Academy: uma feira de brinquedos online e offline


Os brinquedos podem ser um artigo voltado para as crianças, mas são também da preferência de muitos adultos. A Toy Academy, que foi criada no início deste ano, não pôde realizar a cerimónia de abertura para a sua primeira aula da Macau Art Toy Fest 2021(doravante referida como Toy Fest), embora tenha sido adiada várias vezes devido à pandemia. Apesar dos vários adiamentos, a Toy Academy não desistiu, pelo que está a planejar agora em transformar as aulas para regime online. Tendo em conta isso, mesmo que o horário e o lugar da realização das aulas sejam mudados, a paixão da equipa por partilhar e trocar conhecimentos acerca de brinquedos com o público vai continuar a mesma. Comprometeram-se a abrir as inscrições para o público e a dar o primeiro passo à frente da Toy Academy.


Sylvina, uma das curadoras, disse que a Toy Fest estava originalmente agendada para finais de Agosto/inícios de Setembro, para marcar “o início do ano lectivo”, mas por causa da prevenção e controlo pandémico, a feira foi adiada para o início de Outubro, que foi quando surgiu outra vaga da pandemia e interrompeu, mais uma vez, a Feira. A Toy Fest foi originalmente programada para ser constituída por quatro secções principais, incluindo uma exposição, uma feira de brinquedos, um workshop de produção manual de brinquedos e uma visita guiada. Desde a apreciação até à criação prática, estas actividades correspondiam ao seu lema escolar de “brincar com as coisas”. Devido à sua dimensão, a própria Toy Fest cobrava uma taxa de entrada. Agora que mudaram a exposição e as vendas para o formato online, decidiram retirar a taxa de entrada. Para além disso, decidiu-se realizar o workshop com marcação prévia para que os participantes pudessem ver os brinquedos na sua forma “real”.


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Os curadores da exposição, Sylvina (à esquerda) e Kuuga esperam que a Toy Fest promova a cultura do brinquedo, fazendo mais pessoas compreenderem que os brinquedos têm um valor comercial e, ao mesmo tempo, criando uma plataforma onde criadores e entusiastas de brinquedos e de arte podem trocar ideias.     Foto cedida por Cora Si


Havia 26 expositores na Toy Fest, 16 dos quais vindos do Interior da China, Hong Kong ou do estrangeiro, na esperança de criar oportunidades de intercâmbio. A pandemia impediu os artistas de assistir pessoalmente à feira, pelo que continuarão a encontrar-se com o público em transmissões online. “Embora a tecnologia esteja agora muito avançada e todos os trabalhos possam ser enviados pelo correio, sempre que falamos do sector da educação e da formação, nesse, a comunicação mútua é uma parte muito importante do processo integral. Se os artistas estrangeiros pudessem vir a Macau para comunicar connosco pessoalmente, a feira seria mais significativa. Agora só podemos utilizar o método mais simples, que é (a plataforma online). Só podemos tentar melhorar tudo isto e trazer as mensagens dos artistas na íntegra”, diz Sylvina.


Apesar do facto de o corona vírus ter afectado muitas vezes o plano original, isso não trouxe necessariamente apenas má sorte. Sylvina e o outro curador, Kuuga, acreditam que a exposição online dará aos visitantes interessados a oportunidade de ver os seus brinquedos preferidos em qualquer altura e lugar, e também lhes dará a possibilidade de atrair aderentes novos. O objectivo é reunir um grupo de criadores e entusiastas de brinquedos e de arte, tornando a Toy Academy numa plataforma de encontro entre artistas de brinquedos locais e estrangeiros, dando visibilidade não só aos brinquedos que foram desenvolvidos fora de Macau, mas também às criações locais de Macau. “Ficamos na expectativa de mostrar aos consumidores, ou às pessoas que queiram entrar na indústria, que os bons produtos não são apenas para colecção pessoal, mas que também podem ser vendidos, e que os bons produtos precisam de uma boa plataforma. Esperamos fazer uma promoção da cultura da indústria de brinquedos ao público através da Toy Fest”. Kuuga aponta como exemplo um produto popular e vindo do Interior da China, Pop Mart, provando que o brinquedo é suficiente para enlouquecer milhões de pessoas, levá-las a consumir, criando um valor que até pode fazer a empresa de brinquedos tornar-se uma empresa listada na bolsa.


Um pequeno brinquedo fornece uma fonte de apoio espiritual para adultos. A história por detrás da personagem é uma história que ecoa as experiências pessoais de algumas pessoas e motiva-as a quererem ter o brinquedo. Estes brinquedos variam no preço de algumas centenas a dez mil , dependendo dos materiais utilizados, da complexidade do processo manual da produção, do tempo gasto e do método e quantidade de produção. As personagens dos brinquedos nascem de diferentes histórias: algumas são homenagens a personagens de filmes; outras são desenvolvidos a partir de IP já criadas em mercadoria; e outras ainda correspondem a personagens que os criadores desenham em outros campos e depois as transformam em brinquedos, tais como o MoeJoe de AAFK. AAFK é um artista de graffiti que criou brinquedos em forma de cão, baseando-se na história do seu cão de estimação, e que têm sido bem vendidos em muitas exposições de brinquedos no Interior da China.


“As crianças raramente brincam com brinquedos hoje-em-dia, porque a influência dos produtos electrónicos é muito forte. Mesmo agora, quando as crianças vão à loja de brinquedos, não brincam com brinquedos, jogam máquina de cartas. Espero que tanto as crianças como os adultos brinquem com uma coisa física”. O valor comercial dos brinquedos da moda em Hong Kong, no Interior da China e mesmo no estrangeiro, não deve ser subestimado. Kuuga e Sylvina esperam continuar a fazer com que o público compreenda que os brinquedos têm um valor comercial e que, ao mesmo tempo, através da participação em diferentes feiras de brinquedos, os criadores locais de brinquedos tenham a oportunidade de ser mais amplamente conhecidos e expandir o desenvolvimento da indústria.


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As personagens de brinquedos têm as suas próprias origens, como a homenagem a personagens de filmes passados, como é o caso do Gojira, nas mãos de Kuuga.     Foto cedida por Cora Si


Macau Art Toy Fest: https://fb.me/e/Z8uiYJwB