Hyper Lo: de cantor a agente de talentos—Os mercados de Hong Kong e de Macau são muito distintos

12 2016 | 18a edição
Texto/Jason Leong e Lei Ka Io

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O nome de Hyper Lo tornou-se conhecido em Hong Kong e Macau em 2010, quando participou num concurso para cantores, em Hong Kong. A viver em Macau há vários anos, Lo fundou há quatro anos uma agência com outros dois artistas, que muitas vezes participam em eventos e espectáculos e, agora, a sua empresa já conquistou um espaço em Macau.

 

Antes de se ter lançado nos negócios, Lo era já uma cara conhecida por ser mestre-de-cerimónias em vários eventos em Macau. A sua eloquência é tanta que mesmo nesta entrevista iluminou a atmosfera. “Antigamente, os cantores de Macau saíam muitas vezes do palco debaixo de apupos. Agora isso já não acontece. Neste momento, temos várias empresas e associações que nos contratam para promover eventos porque querem ser as primeiras a chegar ao mercado mais jovem”, diz. Há um ano, Lo e a sua equipa trataram da composição de uma música para uma empresa gerida por um casino. Ao partilharem o vídeo da música na internet, obtiveram feedback bastante positivo. “Algumas associações pedem-nos músicas com uma composição excelente e estão dispostas a pagar o que for preciso para que contratemos uma equipa de produção de Hong Kong. Uma vez até contratámos Ronald Ng, o conhecido produtor musical para nos ajudar, o que prova que o público em Macau está à procura de música de qualidade superior.”

 

No ano passado, a produtora de Lo terminou mais de 30 canções, sendo que cada uma levou um mês a compor. Como a empresa tem poucos colaboradores, há fases, como a captação de som e a gravação dos vídeos, que têm de ser entregues a outras empresas. Isso requer um enorme esforço de coordenação, mas Lo adora fazê-lo. Como o mercado de Macau é pequeno, diz, uma empresa só se aguenta se se dedicar a grandes e robustas promoções. Em comparação com Hong Kong, ainda há falta de mão-de-obra especializada em Macau. Em Hong Kong, há pessoas especializadas para fazer cada uma das tarefas, enquanto em Macau, por norma, há apenas uma pessoa a fazer tudo. Sempre que necessário é preciso subcontratar para que o trabalho seja entregue.

 

No que respeita o seu trabalho como criativo, Lo está neste momento focado na produção musical e actuações. Nos períodos de maior trabalho, Lo chegou a fazer uma dúzia de concertos por semana, enquanto na época baixa faz entre três a quatro espectáculos semanais, e a maioria são concertos nos jantares de gala das associações ou em banquetes privados. “Antes era muitas vezes mestre-de-cerimónias e penso que a maior parte das pessoas me ficou a conhecer como apresentador. Sou bom orador, mas o que gosto mesmo é de cantar. Sinceramente, ganhei mais como apresentador. Na minha carreira musical ganhei mais ou menos. Mas há muitas coisas que o dinheiro não compra. Pelo menos, gosto realmente daquilo que faço”, diz.

 

Lo acredita que um cantor não deve só cantar bem, mas ser um artista completo. Ter conhecimentos sobre estilo, apresentação e promoção são ferramentas que um artista tem de dominar para sobreviver na indústria. “No passado, muitos artistas de Macau achavam que o seu trabalho era cantar bem e descuravam o aspecto visual. Agora, as agências olham para os cantores como um ‘pacote’. Além de terem talento para cantar, a aparência e os modos do artista são também aspectos que os potenciais clientes têm em consideração.” Quando questionado sobre que tipo de apresentação deve ter um artista, Lo assinala que se trata de uma opinião pessoal, mas que o público em Macau não tem uma mente muito aberta. As repartições públicas e as associações geralmente preferem contratar artistas mais alegres. Se o artista é fora do comum, é natural que arranje menos trabalhos. “Um dos requisitos que temos para os nossos artistas é que transmitam uma imagem saudável. Cigarros e álcool devem ser evitados, ir aos bares de karaoke não é encorajado e sair para um encontro é normal, mas deve ser discreto.”

 

A empresa de Lo é uma das agências que mais rapidamente tem crescido em Macau e o empresário acredita que o sucesso se deve a uma estratégia promocional adequada. “Antigamente, os artistas ficavam conhecidos através das revistas e da televisão. Hoje temos plataformas online para os promover e actualmente é impossível que um trabalho esmerado e o talento das pessoas não sejam reconhecidos. Se alguém quer ser visto, se trabalhar arduamente, o público vai com certeza conseguir vê-lo”. Lo diz que os artistas actualizam as suas contas em redes sociais como o Facebook e o Instagram de forma regular. As imagens do seu dia-a-dia são reveladas para que o público saiba mais sobre os artistas e para que os clientes percebam melhor o que sabem fazer. Por vezes há transmissões em directo para incrementar a interacção com os fãs. Um artista tem de interagir de forma amigável com a sua audiência.

 

No início do próximo ano, a agência de Lo vai lançar campanhas de marketing em Hong Kong para promover a música de Macau, revelou o empresário, acrescentando que a base da empresa permanecerá em Macau. Lo nota ainda que o mercado de Hong Kong é diferente do de Macau.  Enquanto o primeiro é mais orientado para o mercado, o segundo aproveita os apoios públicos e o desenvolvimento da sua indústria criativa será mais liberal. “Agora a nossa empresa pode dedicar-se mais à solidariedade, com visitas a lares de crianças, ou a tocar em pequenos concertos em associações de solidariedade sem cobrar honorários. Neste momento não há uma má competição em Macau. Os artistas das diferentes agências podem actuar juntos num evento ou até aparecer no mesmo filme. O ambiente é bastante harmonioso. Mas se alguém quer realmente crescer, deve olhar para Hong Kong. Afinal de contas, o púbico em Macau também faz parte da audiência dos media de Hong Kong”, conclui Lo.