Vivan Chan: estender os limites da performance

12 2016 | 18a edição
Texto/Jason Leong e Lei Ka Io

Germano Guilherme: Promover a cultura de Macau através da música   Hyper Lo: de cantor a agente de talentos—Os mercados de Hong Kong e de Macau são muito distintos

Like Entertainment & Productions: como uma agência de talentos transforma desafios em oportunidades


Há seis anos, Vivian Chan atravessou a fronteira para participar num concurso de cantores e acabou por assinar um contrato com uma produtora. Tendo conseguido estabelecer-se em nome próprio em Hong Kong, só recentemente é que regressou a Macau. No entanto, a artista está consciente das diferenças entre as cenas artísticas dos dois lugares: “É muito mais fácil ser cantora em Macau do que em Hong Kong”, constata. Porém, como o mercado local é mais limitado, os artistas que querem construir uma carreira têm muitas vezes de olhar para o exterior para mostrar o seu potencial.

 

Antigamente, os artistas de Macau olhavam para Hong Kong como um apetecível mercado de oportunidades, mas havia muitas dificuldades e desafios a ultrapassar nesse processo. Os artistas preocupavam-se muito em estar nos canais mais influentes de media e até em conseguir papéis em programas de televisão. Agora, apesar de a indústria musical de Macau estar a ganhar fôlego, é mais fácil que um artista se destaque da concorrência. “Desde que uma pessoa goste realmente do que faz e esteja disposta a mostrar-se, não vai ser difícil encontrar um lugar no panorama do entretenimento de Macau.”

 

Segundo Chan, não há normas estabelecidas neste mercado em Macau. “A verdade é que desde que se participe nos prémios de música da TDM, é-se considerado um cantor profissional.” Em Macau, há um número considerável de actividades que são organizadas por associações e que alimentam a procura por cantores. É frequente que um artista receba cachets que oscilam entre algumas centenas de patacas até mais de 10 mil patacas. Além disso, não há muitas dificuldades. “Logo que alguém seja identificado pelos líderes dessas associações, até por artigos de jornal, está no bom caminho”, diz Chan.

 

No entanto, uma coisa é falar sobre as actuações e outra, bem diferente, é garantir a sobrevivência destes artistas. Tal como admite Chan: “Se compararmos com Hong Kong, não há muitas pessoas a alimentar a indústria da música aqui”. A artista assinala que, só o facto de Hong Kong ter uma população de sete milhões de habitantes, permite que, mesmo que um artista tenha uma pequena base de apoio no circuito do entretenimento, já consiga singrar. Em Macau, por oposição, isso é exactamente o que ainda falta.

 

Um exemplo que ilustra as diferenças entre os mercados de Macau e de Hong Kong é a natureza dos concertos. Até ao momento, não há artistas em Macau que encham salas de espectáculos e cujos bilhetes sejam vendidos a preços exorbitantes. Chan revela, por exemplo, que até para o seu próprio concerto no ano passado, os cinco dígitos que recebeu da venda de bilhetes foram escassos para cobrir os custos de produção.

 

Só pela reputação que estabeleceu em Hong Kong é que a cantora consegue atrair mais patrocinadores e equilibrar as contas. Além disso, ao contrário dos artistas de Hong Kong, os intérpretes de Macau não têm tantas oportunidades para diversificar o lado empresarial, tais como participações em filmes, promoções de marca e outras actividades publicitárias. “Afinal de contas Hong Kong é uma cidade muito maior e tem um mercado mais maduro.”

 

Os concertos de grande dimensão, os grandes prémios de música e os álbuns promovidos de forma cuidadosa são muitas vezes vistos como formas avançadas de promoção na indústria de entretenimento musical. Apesar de Chan acreditar que estas formas de publicitar e de envolver os artistas numa espécie de aura aumentam o seu valor comercial, a sua relevância em Macau e, numa escala mais vasta, no contexto global, é questionável.

 

Chan defende a importância de os artistas irem além dos limites, ao invés de usarem uma fórmula. “Espero vir a ter a minha própria versão de concerto em tournée mundial. Não falo daquele tipo de concerto que se espera das grandes celebridades, mas de uma experiência interactiva, com a audiência em salas de concertos, nas ruas, nas varandas e nos parques…” Chan sonha criar um “universo em expansão” ao seu próprio ritmo na cena musical de Macau. “Há formas menos convencionais de fazer novos álbuns e de lançar concertos. Na era digital, o PPAP [a canção de Pen-Pineaple-Apple-Pen] é tão popular. Lembram-se do homem que fez a sua actuação em frente de um quadro branco? Ele tornou-se conhecido em todo o lado  apenas por ter posto o seu vídeo online. Nesta era, desde que se tenha uma boa ideia, há um mundo de possibilidades.”